domingo, 13 de outubro de 2024

Como a gestão e a liderança podem melhorar a educação brasileira, segundo este estudo

Por Lucas Zacari 

Professor em sala de aula. Um homem está de pé, com jovens sentados em mesas ao seu redor. Eles estão em uma sala, com um quadro verde ao fundo
FOTO: Wilson Dias/Agência BrasilFOTO: Wilson Dias/Agência Brasil - Professor em sala de aula

Estudo apresenta como práticas de diretores, coordenadores pedagógicos e professores podem impactar no desempenho acadêmico de alunos do ensino médio

De acordo com o Censo Escolar de 2023, o número de matrículas no ensino médio brasileiro era de 7,7 milhões. Desse total, a maioria é pertencente à rede de escolas públicas, com um predomínio de estudantes em instituições estaduais.

83,6%

é a porcentagem de alunos matriculados em escolas públicas estaduais, de acordo com o Censo Escolar de 2023

Apesar de avanços no sistema brasileiro de ensino, o país ainda conta com desigualdades educacionais latentes, tanto em questão de acesso como de aprendizado. Para além de condições socioeconômicas, estudos têm procurado entender os impactos de fatores intraescolares na trajetória escolar dos alunos.

A pesquisa “Práticas de Gestão, Liderança Educativa e Qualidade da Educação em Escolas de Ensino Médio no Brasil” analisou como a liderança escolar de diretores, coordenadores pedagógicos e professores pode contribuir para melhorias no desempenho escolar. O Instituto Unibanco realizou o estudo, em parceria com a Oppen Social para a coleta de dados, com publicação em setembro.

O estudo teve como autores Ana Cristina Prado de Oliveira, da Unirio, Christy Pato, da UFF (Universidade Federal Fluminense), e Rodnei Pereira, da Fundação Carlos Chagas.

Neste texto, o Nexo Políticas Públicas apresenta os principais resultados obtidos no estudo.

Metodologia

A pesquisa analisou os impactos de ações de liderança escolar em 139 escolas estaduais de ensino médio, localizadas no Espírito Santo e no Piauí. Os dois estados fazem parte do programa Jovem de Futuro, do Instituto Unibanco, que trabalha com as secretarias estaduais de educação para garantir a aprendizagem e redução das desigualdades educacionais entre os alunos do Ensino Médio.

Espírito Santo e Piauí contam, respectivamente, com o segundo e quinto melhores ensino médio do país, de acordo com o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2023.

A primeira parte do estudo consistiu em uma análise quantitativa a partir de um questionário respondido pelo público-alvo do estudo. A partir das respostas, os autores realizaram uma análise inferencial.

“O questionário que a gente propôs foi desenhado para poder captar como os nossos respondentes percebiam a presença, a frequência e a concordância em relação algumas das práticas de liderança e gestão escolar”, afirmou ao Nexo Políticas Públicas Ana Cristina Prado de Oliveira, professora da Unirio e uma das autoras do estudo.

A coleta dos dados aconteceu entre junho e julho em escolas capixabas e entre agosto e setembro em instituições piauienses. Ao todo, 140 diretores, 155 coordenadores pedagógicos e 1301 professores responderam ao questionário.

As perguntas para os três grupos consistiam em um perfil sociodemográfico e de suas funções. Também existiam perguntas específicas: os diretores responderam sobre o uso de seu tempo e as tarefas na rotina escolar; coordenadores opinaram sobre a capacidade do corpo docente em constituir um ambiente propício à aprendizagem; e professores analisaram a percepção de sua capacidade para realizar tarefas de seu ofício.

Sobre essa questão exclusiva para professores, vale destacar que tanto os respondentes do Espírito Santo quanto os do Piauí afirmaram que a sua maior dificuldade de atuação é com estudantes de educação especial – pessoas com deficiência.

Os três grupos também responderam sobre as expectativas de formação e continuação da trajetória escolar dos alunos. Os professores foram os que apresentaram mais pessimismo com as turmas.

Com a coleta dos dados dos profissionais, os autores se debruçaram a fazer uma análise sobre a relação entre as práticas de liderança citadas e o desempenho escolar dos alunos.

Resultados

A análise inferencial do estudo partiu da criação de índices com base nas respostas do público-alvo. Os índices se estruturam em:

  • Variáveis de antecedentes contextuais, como perfil sociodemográfico, formação e questões de desgaste no trabalho e apoio exterior para diretores
  • Variáveis mediadoras, como relações interpessoais, ambiente de aprendizagem e expectativas em relação aos alunos
  • Variáveis independentes: Práticas de Liderança, como as formas de fazer gestão pedagógica e dar apoio e atenção aos professores

“Os indicadores nos ajudaram a pensar como eles são percebidos nas escolas da nossa amostra e como que eles estão relacionados com outras variáveis, como as de contexto, as mediadoras, que são muito relacionadas às variáveis do clima escolar, e principalmente com as variáveis de resultado”, disse Oliveira.

Com base no Inse (Indicador do Nível Socioeconômico) médio das escolas – medida que separa os alunos das instituições em estratos sociais – e no desempenho escolar em português (para o Espírito Santo) e em matemática (para o Piauí), a primeira análise procurou estimar o quanto as práticas de liderança ajudam a explicar a variação dos resultados dos alunos entre as escolas da amostra.

Identificou-se que nas escolas em que os professores reconhecem mais positivamente a prática de liderança de seus diretores, há uma variação positiva na porcentagem de alunos com melhor desempenho acadêmico, reduzindo o impacto das origens sociais.

Essa percepção foi menor no contexto piauiense do que no capixaba. No entanto, ambos mostraram que os resultados tendem a ser melhores quando os diretores se preocupam em estabelecer conexões com o entorno escolar, como buscar ajuda externa para melhorar a aprendizagem e divulgação do desempenho da escola.

Em seguida, os autores analisaram a correlação entre a variável moderadora (o Inse) com as variáveis de práticas de liderança e as mediadoras, com base nos desempenhos acadêmicos dos estudantes dos dois estados.

A principal inferência dessa análise mostrou que, em escolas em que as práticas de liderança são bem executadas, há uma maior expectativa em relação aos alunos, o que resulta em melhores resultados. Além disso, esse cenário também diminui os impactos socioeconômicos nas instituições de ensino.

Nas escolas estaduais de ensino médio do Piauí, ainda foram identificadas outras correlações entre práticas de liderança e melhora acadêmica. Apoio e atenção aos professores junto a um melhor ambiente escolar é um dos destaques.

Ações práticas de liderança

A partir dos estudos, os autores apresentaram alguns exemplos de gestão e liderança escolar que podem melhorar o desempenho escolar. São eles:

  • Melhoria de uma cultura de altas expectativas na escola, com diretores e coordenadores pedagógicos estimulando as expectativas sobre os estudantes e sobre as equipes escolares
  • Diretores devem se empenhar em entender a cultura escolar e suas tradições, para ampliar a convivência entre a comunidade escolar. Tal ação promove ambientes seguros e de apoio afetivo e emocional, de forma a enfrentar abusos, racismo e LGBTQI+fobia
  • Liderança positiva sobre professores e educadores, criando um ambiente propício de aprendizado. É importante que diretores e coordenadores pedagógicos mantenham relações interpessoais com os funcionários e promovam o desenvolvimento profissional de todos.
  • Os gestores escolares devem aprimorar as práticas pedagógicas, fazendo diagnósticos sobre convivência e aprendizagem e garantindo material para os docentes. Ações como essas levam a um melhor aproveitamento do uso do tempo nas aulas.
  • Identificar, analisar e cruzar informações dos estudantes de modo a compreender seu desempenho e trajetória, com atenção aos marcadores sociais que podem gerar desigualdades escolares.
  • Apoio constante a diretores e coordenadores para estimular e sustentar mudanças de curto, médio e longo prazo. Essa ação necessita do suporte e do acompanhamento por
    parte das secretarias de educação.

De acordo com Ana Cristina Paula de Oliveira, as escolas precisam observar os efeitos diretos e indiretos das práticas de liderança. “Levanta algumas pistas importantes para a agenda da política pública, para pensar em estratégias tanto de formação continuada, mas também de apoio e intervenção”, afirmou uma das autoras do estudo.

Fonte:  https://pp.nexojornal.com.br/topico/2024/10/07/como-a-gestao-e-a-lideranca-podem-melhorar-a-educacao-brasileira-segundo-este-estudo?utm_medium=email&utm_campaign=Seleo%20da%20semana%20212&utm_content=Seleo%20da%20semana%20212+CID_cd50f4e519396fe7c3a471446d17c152&utm_source=Email%20CM

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