sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Estados Unidos, entre democracia e fascismo

 Juremir Machado da Silva


Estados Unidos, entre democracia e fascismo    
Montagem sobre fotos de Shealah Craighead (Arquivo da Casa Branca) e Gage Skidmore (Flickr)

Uso pouco o termo fascismo. Conheço poucos fascistas de fato, embora saiba da existência de muitos e do crescimento mundial dessa praga. A esquerda, a meu ver, recorre com demasiada facilidade a isso, chamando de fascista quase todo mundo de quem dela discorda. Funciona como um insulto, do tipo fdp, canalha ou safado de marca maior. Na eleição dos Estados Unidos, de 5 de novembro de 2024, o confronto, porém, é entre o compromisso com a democracia de Kamala Harris e o fascismo de Donald Trump. Há poucos dias, o candidato republicano prometeu fazer deportações em massa de estrangeiros irregulares no país. Trump combina xenofobia, autoritarismo, desprezo pela democracia e racismo em doses suficientes para envenenar o mundo. Se ele ganhar, o Brasil será um dos primeiros atingidos por esse triunfo, com possibilidade de retorno em força da extrema direita bolsonarista em 2026.

Eleitores não escolhem necessariamente por racionalidade. Emoções profundas podem se impor contra a famosa luz da razão. Em Porto Alegre, moradores dos bairros Humaitá e Sarandi, os mais maltratados pela enchente de maio deste ano, especialmente pela falta de manutenção dos equipamentos contra cheias, votaram majoritariamente em Sebastião Melo, premiando o prefeito da inundação com a possibilidade de um segundo mandato à frente da prefeitura da capital gaúcha. Nos Estados Unidos, eleitores latino-americanos, os mais fustigados pela fúria xenófoba de Donald Trump, aumentaram de 25%, em 2020, para 37% agora o apoio a esse elefante na loja dos cristais da democracia. É como condecorar o carrasco por serviços prestados aos pescoços dos compatriotas enquanto se espera a vez de morrer.

Trump representa o maior perigo global para a democracia. O seu populismo de extrema direita serve de exemplo maldito para todos os candidatos a ditador. O bolsonarismo inspirou-se na invasão do Capitólio para a sua tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. O maior legado de Donald Trumposo até hoje é ter batizado mentira sórdida de fake news. Além de ter praticado como poucos o exercício da disseminação de falsificações. O professor Nelson Costa Ribeiro, da Faculdade de Comunicação da Universidade Católica Portuguesa, que deu aula recentemente no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS, destacou que a expressão fake news é uma ardilosa estratégia para desqualificar o jornalismo como falsa.

Segundo ele, se é notícia não pode ser falso. Se é falso, não pode ser notícia. Falar em notícias falsas significa sugerir que o jornalismo falsifica. O mau jornalismo pode fazer isso, não o bom. O jornalismo que trai sua regra de princípios ainda pode ser chamado de jornalismo? Em qualquer época, jornalismo é compromisso com a verdade. Jornalistas não se deixam impressionar com questões metafísica sobre o que é a verdade. No jornalismo, verdade é a evidência. Pode-se provar ou não que fulano é corrupto? Pode-se afirmar que Trump é de esquerda e solidário a estrangeiros irregulares nos Estados Unidos? Claro que não. Sem dúvidas.

*Jornalista. Escritor. 

Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/estados-unidos-entre-democracia-e-fascismo/?utm_source=Matinal&utm_campaign=a5f335ac2f-EMAIL_CAMPAIGN_2024_10_18_07_00&utm_medium=email&utm_term=0_-a5f335ac2f-%5BLIST_EMAIL_ID%5D

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