O filósofo e psicanalista socialista alemão Erich Fromm. (Foto: Getty Images)
O filósofo socialista alemão Erich Fromm procurou explicar a psicologia social do autoritarismo da direita depois que os nazistas o forçaram a se exilar. Sua obra está repleta de valiosas percepções que podem contribuir com as lutas atuais por liberdade política e econômica.
Uma entrevista de Kieram Durkin. Tradução: Everton Lourenço.
O autor alemão Erich Fromm foi um dos filósofos sociais mais influentes do século XX. Em obras como O Medo à Liberdade (“Escape From Freedom”) e Psicanálise da Sociedade Contemporânea (“The Sane Society”), Fromm se baseou no trabalho de Karl Marx e Sigmund Freud para desenvolver uma forma inovadora de teoria radical. O trabalho de Fromm oferece sacadas poderosas sobre a natureza do nacionalismo autoritário e os desafios subjetivos na construção de uma alternativa ao capitalismo.
Kieran Durkin é o autor de The Radical Humanism of Erich Fromm (“O Humanismo Radical de Erich Fromm”). Ele conversou com Jacobin sobre a vida e a obra de Fromm e sobre seu relacionamento com outros membros importantes da Escola de Frankfurt, como Max Horkheimer e Herbert Marcuse.
Esta é a transcrição de um episódio do podcast Jacobin’s Long Reads. É possível ouvir o episódio aqui
DF – Erich Fromm era adolescente durante alguns dos anos mais tumultuados da história alemã moderna: a Primeira Guerra Mundial, a queda da monarquia, a revolta espartaquista, a tentativa de golpe contra a República de Weimar no Putsch de Kapp. Que impacto esses anos tiveram em seu desenvolvimento político e intelectual?
KD – Ter vivido esses eventos que transformaram completamente a Alemanha no início dos anos 1900 teve um efeito profundo em Fromm. Anos depois, quando ele estava lá pelos seus sessenta anos, ele falou da Grande Guerra como tendo sido o evento que determinou seu desenvolvimento intelectual mais do que qualquer outra coisa, e de como ele ficou chocado com a nudez do ódio e da irracionalidade, como manifestados no sentimento nacionalista alemão em relação aos britânicos na época – como os britânicos de repente haviam se tornado maus e inescrupulosos, com a intenção de destruir os heróis alemães, tão inocentes e tão confiantes, como ele colocou.
Toda a experiência da guerra, com sua irracionalidade em massa e seu nível de destrutividade sem precedentes, representou uma influência absolutamente central sobre Fromm e, em última análise, o empurrou na direção do estudo da psicologia, de Freud e da psicanálise. Sobre a questão da sua visão política mais especificamente, Fromm relatou ter sido influenciado a enxergar para além da irracionalidade em massa do nacionalismo alemão ao ler os argumentos dos deputados socialistas no Reichstag que votaram contra o orçamento de guerra, que eram visíveis na época em seu ataques à posição do governo alemão.
Toda a experiência da Primeira Guerra Mundial, com sua irracionalidade em massa e seu nível de destrutividade sem precedentes, representou uma influência absolutamente central sobre Fromm.
Apesar disso, também é verdade que Fromm estava um tanto afastado da política organizada durante este período. Ele não esteve envolvido em qualquer partido radical, ou em um partido de qualquer tipo, durante sua vida na Alemanha como um todo, na verdade. Mais tarde, nos EUA, quando ele se tornou muito mais diretamente envolvido – um pouco mais tarde em seu tempo nos Estados Unidos – ele afirmou, no entanto, que sua personalidade não era muito adequada para a política e que ele não tinha temperamento para isso, o que pode ter sido um fator nessa distância anterior com relação à política.
Mas seja qual for o motivo, é nítido que ele foi influenciado por ideias socialistas durante e após a guerra. Muitas décadas depois, na década de 1950, ele elogiou fortemente Rosa Luxemburgo, que foi brutalmente assassinada durante a repressão reacionária nas mãos dos Freikorps, apoiados por elementos de direita no Partido Social-Democrata. E o fato é que ele passou a estudar Marx na universidade e ingressou no movimento marxista, embora mantendo alguma distância após se formar.
Finalmente, acho que é importante nessa conexão reconhecer que Fromm foi criado em um lar judeu ortodoxo. Ele era muito devoto à religião quando criança e jovem adulto. Em seus primeiros anos, até meados da década de 1920, ele foi mais influenciado pelo socialismo romântico de seu professor do Talmude, um homem chamado Salman Rabinkov, e do rabino de Frankfurt, Hermann Cohen.
Ele herdou essa visão do socialismo que brotava de uma preocupação com a época messiânica da qual falavam os profetas bíblicos, a época de paz e harmonia universal, onde os leões se deitam com os cordeiros. Sua afinidade com essa noção de socialismo, que para Fromm nesse estágio inicial tendia a enfocar um contraste com a cultura medieval, permanece importante para ele ao longo de toda a sua vida, mesmo que ela tenha dado lugar a elementos marxistas mais ortodoxos e críticos à medida que ele amadureceu.
DF – Fromm começou a trabalhar na Escola de Frankfurt no final da década de 1920. Qual era a importância da Escola de Frankfurt para a vida intelectual alemã daquela época, como um organismo independente tanto com relação ao sistema universitário, por um lado, quanto com relação aos partidos de esquerda, os comunistas e os social-democratas, pelo outro?
KD – “Escola de Frankfurt” é um nome que foi dado um tanto posteriormente a um grupo de pensadores empregados e associados ao Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que foi criado no início dos anos 1920 por um homem chamado Felix Weil, filho de um rico comerciante de grãos da Argentina. Felix Weil estava interessado em promover o marxismo e a teoria marxista e conseguiu persuadir seu pai a financiar, construir e equipar o instituto, concedendo-lhe também uma bolsa anual de cerca de cento e vinte mil marcos, além de financiar a cadeira profissional que o diretor do instituto ocupava na Universidade de Frankfurt.
O instituto era filiado à universidade, mas não dependia de sua administração. O que isso significava, com efeito, era que embora os alunos de pós-graduação pudessem participar do trabalho de pesquisa do instituto, Weil podia decidir quem seria o diretor e a linha ideológica que o instituto seguiria. Essa situação, a existência de um instituto marxista bem financiado e quase independente, era bastante singular naquela época – como também seria, hoje.
Essa situação, a existência de um instituto marxista bem financiado e quase independente, era bastante singular naquela época – como também seria, hoje.
Hoje ouvimos demais falarem em “marxismo cultural”, essa noção ridícula de que haveria uma preponderância ou um número excessivo de professores marxistas nas universidades, nos departamentos de ciências sociais e humanas. Para qualquer pessoa que já tenha de fato passado algum tempo em um departamento de ciências sociais ou humanas, é bem evidente que o caso é o contrário – na verdade, em muitas áreas de estudo é bem difícil ser um marxista e conseguir um emprego. Esse também teria sido o caso na década de 1920. Ter esse tipo de liberdade que o instituto possuía deve ter sido uma verdadeira benção para todos os envolvidos com ele.
A independência que o instituto possuía com relação aos partidos de esquerda também foi importante quando consideramos o desenvolvimento daquilo que hoje chamamos de Escola de Frankfurt. Isso lhes concedia um certo grau de latitude em termos de quais assuntos eles queriam abordar e em como os abordavam. Em seus primeiros anos – foi criado em 1923 ou 1924, para ser mais preciso – o instituto funcionava mais como um instituto de estudos do trabalho tradicional. No entanto, em anos posteriores, o instituto mudou para uma estrutura mais orientada à filosofia crítica e social depois que Max Horkheimer se tornou o diretor. Esse distanciamento dos movimentos de esquerda da época conferia-lhe um certo grau de liberdade em termos dos tópicos de análise.
Em seus primeiros anos, o Instituto de Frankfurt funcionou mais como um instituto de estudos do trabalho tradicional. No entanto, o instituto mudou para uma estrutura mais orientada à filosofia crítica e social depois que Max Horkheimer se tornou o diretor.
Mas se você pensar na Escola de Frankfurt e em sua história, também é verdade que esse afastamento dos movimentos de esquerda facilitou – ou, mais precisamente, penso eu, encorajou – esse divórcio com relação à luta prática pela qual a Escola de Frankfurt é notória. Se você pensar nos membros centrais do Instituto – Fromm, Horkheimer e Theodor Adorno, que viria a se juntar muito mais tarde – nenhum deles teve suas origens no movimento operário. Essa desconexão da política de esquerda real estava lá desde o início e encorajou o foco na alienação e nas condições alienantes da vida social, e isso trouxe alguns benefícios e muitos inconvenientes.
DF – Quão importante foi o relacionamento de Fromm com Max Horkheimer, e quais foram as principais questões que eles procuraram abordar em seu trabalho conjunto?
KD – Foi de grande importância para ambas as figuras neste período inicial do instituto, quando eles eram seus principais talentos teóricos. A maioria das histórias sobre a Escola de Frankfurt relega a importância de Fromm, mas nesse estágio inicial, era absolutamente nítido que eles eram os principais talentos. Fromm conheceu Horkheimer, provavelmente por meio de seu amigo de escola Leo Löwenthal, durante seu tempo no Instituto Psicanalítico de Berlim, onde estava estudando para se tornar um psicanalista. Ao contrário de sua contraparte vienense, o instituto regional onde Freud lecionava, o instituto de Berlim desde o início se preocupava em aplicar a psicanálise às questões sociais.
A maioria das histórias sobre a Escola de Frankfurt relega a importância de Fromm, mas nesse estágio inicial, era absolutamente nítido que eles eram os principais talentos.
Fromm estava lá, integrando esse grupo de jovens analistas socialistas dissidentes – um grupo que incluía Wilhelm Reich, que ao lado de Fromm se tornou o pioneiro dos estudos sobre o autoritarismo, mas que enlouqueceu quando morava nos EUA, pensando ter descoberto algum tipo da força vital universal chamada energia orgone. Durante esse período, Fromm tentou algumas aplicações sociais da psicanálise. Ele escreveu um artigo sobre a psicanálise do sabbath judeu e outro sobre a psicanálise da pequena burguesia.
No caso de Horkheimer, que ajudou a facilitar a criação do instituto psicanalítico, ele se interessava por psicologia, mas não pela psicanálise como tal até por volta da época em que conheceu Fromm. Embora seja justo dizer que houveram outras fontes para o desenvolvimento de Horkheimer, ele mesmo declarou que aprendeu muito sobre psicanálise com Fromm, o que é algo que se pode observar em seus escritos daquela época.
Em termos de seu trabalho conjunto no instituto, isso é muito bem resumido no discurso inaugural de Horkheimer como diretor em 1930. Horkheimer fala sobre uma mistura interdisciplinar de filosofia social e ciências empíricas, e particularmente da mistura de marxismo e psicanálise, que evidentemente era exatamente o tipo de trabalho com que Fromm já estava envolvido. O que ele tinha em mente aqui era a investigação das conexões entre a vida econômica da sociedade, o desenvolvimento psicológico de seus indivíduos e as mudanças em áreas específicas da cultura, como nos costumes, moda, opinião pública, esportes, estilos de vida, entretenimento, etc.
Acho que é importante ou útil lembrar que tudo isso ocorre no contexto da crise do marxismo, como a descreveu Karl Korsch, que evolui na esteira da Primeira Guerra Mundial, do extravio do bolchevismo e do fracasso da revolução socialista ao começar a se manifestar na Alemanha e em outros lugares. Com Stalin no poder nessa época na URSS e os nazistas em ascensão na Alemanha, havia uma sensação real de que o marxismo estava em crise.
A partir de algo entre o início e meados da década de 1920, o que se vê é essa tentativa de retornar à essência de Marx, como representada muitas vezes e principalmente, penso eu, em termos de sua filosofia subjacente e no desenvolvimento daquilo que podemos chamar de leituras não-mecânicas, que foram consideradas mais próximas do Marx real do que aquelas apresentadas por figuras como Karl Kautsky ou Eduard Bernstein (interpretações que foram consideradas deterministas, economicistas ou de um objetivismo restrito).
O Instituto de Frankfurt sob Horkheimer e Fromm moveu-se nessa direção de retornar à filosofia de Marx, mas tentando estendê-la socialmente, em termos da análise de aspectos culturais, e, acho que mais importante, em termos do que eles viam como sendo as barreiras subjetivas para o socialismo. Uma das primeiras tarefas que Fromm recebeu de Horkheimer ao ingressar – ele ingressou primeiro como membro de meio período, tornando-se um efetivo em tempo integral mais tarde – foi conduzir o inovador estudo entre os trabalhadores alemães, em sua maioria operários industriais, que procurava analisar em bases psicanalíticas sociais as conexões entre o caráter – ou a personalidade, como eles a chamam – e o engajamento político.
O Instituto de Frankfurt queria sondar a relação entre simpatias externamente socialistas ou democráticas e o tipo de atitudes inconscientemente autoritárias que, pensavam eles, em alguns casos poderiam estar subjacentes a essas simpatias.
Este estudo ocorre em um momento em que o Partido Nazista estava crescendo em apoio. Eles queriam sondar a relação entre simpatias externamente socialistas ou democráticas – pessoas que votavam em partidos socialistas ou comunistas – e o tipo de atitudes inconscientemente autoritárias que, pensavam eles, em alguns casos poderiam estar subjacentes a essas simpatias.
Foi um estudo muito inovador. Eles o realizaram por meio de uma pesquisa detalhada de, acredito, 271 questões; coisas como “quem são seus heróis?” Gostavam de Marx, Einstein e Pasteur ou gostavam de César, Napoleão e Alexandre, o Grande? Achavam que as mulheres deveriam usar batom e sair para trabalhar ou não? Pensavam que as crianças deveriam ser disciplinadas rigorosamente ou não?
O questionário capturava traços autoritários mais clássicos, bem como aqueles que reconhecemos hoje como estando relacionados. A análise dos dados desse estudo foi surpreendente. Eles concluíram que cerca de 10% dos participantes deveriam ser considerados autoritários, com base em suas respostas e na interpretação de suas respostas. Cerca de 15% eles descreveram como sendo democráticos ou humanistas, e os 75% restantes estavam em algum lugar entre as duas classificações.
Fromm e sua equipe previram que os autoritários acabariam apoiando os nazistas, enquanto os humanistas democráticos provavelmente tenderiam a se levantar e se opor a eles. Mas o problema era que esses 15% democráticos e humanistas poderiam não ser fortes o suficiente para derrotar os 10% autoritários se os 75% na zona intermediária estivessem psicologicamente despreparados para resistir.
Apesar de alguns problemas com a pesquisa – ela foi pioneira no sentido literal, então ela tinha o que hoje consideramos algumas falhas metodológicas – parece muito transparente para mim que esse estudo foi assustadoramente presciente. Ela é importante não apenas pelo que nos diz sobre o autoritarismo na direita, mas também, penso, sobre o que há de autoritarismo e misoginia na esquerda.
DF – Na história da Escola de Frankfurt, houve uma interrupção abrupta de seu trabalho, assim como houve para a esquerda alemã em geral e para a vida intelectual alemã, quando os nazistas tomaram o poder em 1933. Fromm desempenhou um papel importante na negociação da transição da Escola de Frankfurt da Alemanha para os EUA.
O que você acha que significou para o trabalho dele, e para o trabalho da Escola de Frankfurt em geral, fazer a transição de um país onde o marxismo não era apenas uma filosofia intelectual – era uma ideologia política adotada explicitamente por partidos de massa da classe trabalhadora, tanto os sociais-democratas quanto os comunistas – e depois se mudar para os Estados Unidos, onde havia partidos desse tipo, mas eram muito marginais à vida política?
KD – Essa é uma questão realmente crucial. Obviamente, a mudança foi um grande negócio para o próprio instituto e para os que dele faziam parte. Estavam saindo dessa situação potencialmente muito benéfica de que já falávamos, em termos de independência da administração universitária; também estavam se mudando para outro país, e para um país de língua inglesa. Houve uma certa relutância entre os membros, embora a situação política na Alemanha na época estivesse obviamente se tornando intolerável. Para pesquisadores predominantemente judeus, conhecidos pelo seu marxismo, claramente fazia sentido se mudar.
O próprio Fromm – e originalmente apenas Fromm – havia recebido a oferta de um cargo de pesquisador na Universidade de Columbia. Mas depois que Fromm deixou claro que só aceitaria se o Instituto de Frankfurt como um todo fosse acomodado, a Universidade de Columbia cedeu.
De fato, em termos da mudança em si, foi a Fromm que Horkheimer deu a responsabilidade de investigar potenciais opções. Ele vinha se recuperando da tuberculose em Genebra desde 1932 e esteve em uma turnê de palestras pelos EUA em 1933, onde visitou uma série de instituições em potencial. No final, decidiram pela Universidade de Columbia em Nova York, onde o próprio Fromm – e originalmente apenas Fromm – havia recebido a oferta de um cargo de pesquisador com base nas recomendações de um sociólogo chamado Robert Lynd. Mas depois que Fromm deixou claro que só aceitaria se o instituto como um todo fosse acomodado, a Universidade de Columbia cedeu. O Instituto como um todo se instalou ali em 1934.
Em termos da mudança em si, como corretamente você disse, eles estavam se mudando para um ambiente onde o marxismo não só não era proeminente na vida intelectual e política, como na verdade, em certo sentido, era proibido. O instituto e o próprio Horkheimer estavam bem paranóicos sobre qualquer menção a Marx nas publicações do instituto nessa época. É daí que vem o nome “teoria crítica”, que ficou associado à Escola de Frankfurt.
Em vez de mencionar Marx, eles mencionariam a teoria crítica, deixando implícito para aqueles que os entendiam que eles estavam falando essencialmente sobre uma forma de marxismo. Acho que isso sem dúvida levou a uma certa falta de engajamento direto com estudos marxistas e certamente fez com que Fromm e especialmente Horkheimer temporariamente minimizassem seu marxismo.
Horkheimer estava bem paranóico sobre qualquer menção a Marx nas publicações do instituto nessa época. É daí que vem o nome “teoria crítica”: Em vez de mencionar Marx, eles mencionariam a teoria crítica.
Mas acho que também há outra maneira de olhar para isso, que não é inconsistente com essa análise. O instituto, que de qualquer maneira já estava até certo ponto afastado do movimento da classe trabalhadora, de repente se encontrava na principal nação capitalista em todo o mundo, e eles estavam bem a par das tendências culturais e de consumo que talvez tenham sido estabelecidas primeiro nos Estados Unidos, ou que certamente por lá se tornaram distintas e adotaram a forma que viriam a assumir em quase todos os outros lugares. Estou pensando aqui naquilo que em Dialética do Esclarecimento, Horkheimer e Adorno chamariam de “a indústria cultural”.
Era uma chance e tanto para o instituto explorar essas tendências, como pode ser visto com a hipótese da dialética do esclarecimento. De certa forma, foi uma bênção para o instituto, embora, novamente, isso também ajude a explicar a constrangedora falta de discussões sobre classe em seu trabalho e em muitos lugares no trabalho de Fromm. Obviamente, mesmo que essa redução da ênfase de classe talvez tivesse alguma base para isso no fato de que os EUA estavam em seu alto período de capitalismo, com mobilidade social ascendente, etc., nitidamente ela também ignorava a vibração da resistência em certos setores, com coisas como a greve dos mineiros e outras greves que marcaram a década de 1950.
DF – Foi depois de fazer essa mudança para os EUA, e enquanto a luta militar contra a Alemanha nazista estava em andamento, que Fromm publicou aquele que acho que ainda é seu trabalho mais conhecido e mais influente, O Medo à Liberdade. Quais são os principais temas dessa obra?
KD – Concordo com você, acho que é sua obra mais conhecida e, em muitos aspectos, seu melhor trabalho. Foi publicado pela primeira vez nos Estados Unidos com o título “Escape From Freedom” (“Fuga à Liberdade”). Sua publicação na Grã-Bretanha e na Irlanda recebeu o título de “The Fear of Freedom” (O Medo à Liberdade) e, em muitos aspectos, prefiro o título britânico e irlandês. Esse livro apareceu nos EUA originalmente em 1941 e foi na verdade a primeira publicação de Fromm após deixar o Instituto.
O tema central foi aquilo que Fromm enxergou como a fuga catastrófica – abandonando o progresso em direção a formas cada vez maiores de liberdade política que havia sido feito na Europa nos séculos anteriores – a fuga disso para os braços de uma série de governantes autoritários ou fascistas, como Hitler, Mussolini, Stalin, etc.
O que Fromm tinha em mente aqui era, obviamente, o recuo do poder monarquista – muitas das derrubadas de monarquias se deram após a Primeira Guerra Mundial – mas também havia a luta pela expansão do direito ao voto, e, em geral, um maior senso de direitos individuais vis-à- vis o Estado e a religião, etc. Ele estava pensando também, evidentemente, sobre o crescimento dos movimentos socialistas e feministas. Ele ficou surpreso, como qualquer um na esquerda teria ficado, que tudo isso tivesse sido arruinado em poucos anos após a guerra.
Fromm queria entender e explicar como e por que o nazismo havia tomado a Alemanha e por que tantas pessoas apoiaram Hitler.
Fromm queria entender esse processo. Ele queria entender e explicar como e por que o nazismo havia tomado a Alemanha, por exemplo, e por que tantas pessoas apoiaram Hitler. Ele o fez com a noção de “caráter autoritário”, que é uma ideia construída a partir de bases psicanalíticas e, em particular, a partir da noção de que existem certos tipos de indivíduos que, pelo nascimento, escolarização e socialização na família e na sociedade em geral, estão predispostos, em certo sentido, a atitudes autoritárias.
Pense aqui na discussão sobre muitos apoiadores de Trump, que são caracterizados – com razão em muitos casos – como estando dispostos a se submeter e apoiar ativamente líderes autoritários; pessoas que obtêm prazer a partir de aspectos de poder autoritário e em quem se pode confiar que apoiarão formas autoritárias de governo. Há, é claro, diferenças históricas que precisam ser levadas em consideração ao se fazer essa comparação, mas a tendência geral se mantém.
Ele pega essa teoria psicanalítica e a aplica à situação na Alemanha da época. Como a maioria das análises marxistas, ele focou no papel da classe média-baixa em particular e olhou para o impacto de certas mudanças socioeconômicas e políticas, especialmente o declínio dessa classe média tradicional em face do capitalismo monopolista da época, e obviamente a hiperinflação, que veio na esteira da derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes e a perda da monarquia.
Tudo isso, argumenta Fromm, teve um efeito profundo sobre essa classe em particular, bem como em outros aspectos da sociedade, removendo os tradicionais suportes psicológicos e os mecanismos de auto-estima para essa classe: a economia estava destruída, não havia estima a ser tirada da posse relativa de status social, as poupanças haviam se transformado em fumaça e as chances de vida para os filhos das famílias estavam arruinadas. Não havia mais, argumentava ele, ninguém a quem desprezar a partir de cima, e nem um Kaiser (imperador) a quem admirar a partir de baixo. Eles tiveram de enfrentar uma situação em que a Alemanha, após a guerra e após o Tratado de Versalhes, fora significativamente e embaraçosamente enfraquecida.
Fromm identificou aquilo que ele afirmava serem profundos sentimentos de ansiedade e de impotência na população, e na classe média baixa em particular, sentimentos sobre os quais Hitler foi capaz de capitalizar com suas mensagens autoritárias e racistas de amor pelos fortes e ódio pelos fracos.
Fromm identificou aquilo que ele afirmava serem profundos sentimentos de ansiedade e de impotência na população, e na classe média baixa em particular, sentimentos sobre os quais Hitler foi capaz de capitalizar com suas mensagens autoritárias e racistas de amor pelos fortes e ódio pelos fracos – especialmente pelos socialistas e judeus culpados pela “facada nas costas” que, como ele alegava e tantas pessoas acreditaram, teriam vendido a Alemanha aos Aliados. Hitler e o próprio movimento nazista foram vistos por Fromm como tendo fornecido um meio de fugir desses fardos psicológicos intoleráveis que eram experimentados em massa.
É importante observar que o livro não se concentrou apenas no fascismo, mas no autoritarismo na URSS e em aspectos do que Fromm argumentava ser um autoritarismo nos EUA e no “mundo livre”, por assim dizer. Esse autoritarismo, dizia Fromm, era menos aberto nos Estados Unidos e em outras nações democráticas, mas também era mais anônimo. Era impulsionado pela opinião pública, pelo rádio, pelos comerciais e por outros meios de condicionamento cultural. Por causa disso também era, de certa forma, mais insidioso. O livro era uma crítica geral a esse movimento da cultura mundial em direção a diferentes formas de autoritarismo. Penso que ele conversa com a situação mundial daquela época específica, mas também possui uma verdadeira relevância para a atualidade.
DF – Após a publicação de O Medo à Liberdade, Fromm continuou a viver e trabalhar nos Estados Unidos por muitos anos. Como seu trabalho e seu pensamento se desenvolveram no período do pós-guerra, que evidentemente era o período do macarthismo, da Guerra Fria – hostilidade oficial e bem aberta a qualquer forma de marxismo?
KD – As obras de Fromm nos Estados Unidos nessa época dos anos 1940 e 1950 são frequentemente vistas como se tivessem se tornado menos sérias em termos acadêmicos e mais nitidamente destinadas a um público mais amplo. Acho que há alguma verdade nisso, mas que muitas vezes há um exagero. Em primeiro lugar, Fromm escrevia em um ambiente menos propício e menos receptivo ao marxismo do que na Alemanha. Ele ansiava por alcançar o maior número de pessoas possível, da maneira mais eficaz possível.
Um segundo fator é o fato de Fromm ter deixado o Instituto de Frankfurt. Ele foi efetivamente convidado a sair em 1939. Ele havia se distanciado de Horkheimer em muitas questões. Negaram a ele os financiamentos disponíveis para Horkheimer e Adorno, como os recursos que eles obtiveram de renomadas instituições de caridade judaicas para realizar a pesquisa que acabou levando ao estudo sobre a personalidade autoritária. Fromm sobreviveu nesse período principalmente através da prática como psicanalista, mas, com o passar do tempo, também como uma espécie de autor campeão de vendas.
Apesar disso, é importante dizer que duas das obras mais significativas de Fromm foram publicadas no auge do macarthismo e nos anos 1950: A Psicanálise da Sociedade Contemporânea (“The Sane Society”), que foi publicado em 1955, e A Arte de Amar, que veio a público um ano depois, em 1956. Estas obras representam um retorno – mesmo que às vezes uma espécie de retorno crítico – a Marx e à questão da transformação social radical que talvez faltasse nos anos 40 após O Medo à Liberdade, quando na verdade ele não publicou muito.
A Psicanálise da Sociedade Contemporânea continha uma crítica sustentada e flagrante do capitalismo de meados do século XX como manifestado nos EUA, que Fromm via como uma forma de capitalismo burocrático e consumista.
Se você olhar para A Psicanálise da Sociedade Contemporânea, por exemplo, fica nítido como continha uma crítica sustentada e flagrante do capitalismo de meados do século XX como manifestado nos EUA, que Fromm via como uma forma de capitalismo burocrático e consumista. Ele falava em A Psicanálise da Sociedade Contemporânea dessa noção do caráter mercantil, onde as pessoas experimentam a si mesmas e aos outros como mercadorias, como algo a ser comprado e vendido no mercado. Esse tipo de demanda do mercado se infiltra em nossa maneira de ver o mundo e na própria maneira como pensamos sobre nós mesmos e sobre os outros. É como uma extensão psicológica da teoria da alienação ou da teoria do fetichismo da mercadoria.
É importante salientar que o livro também mantinha um enfoque sobre diferentes práticas de trabalho – práticas de trabalho comunitário e outras formas de política radical, não-capitalista e anticapitalista. Isso sinalizava nitidamente a disposição da parte de Fromm de se envolver com essas questões em um momento em que isso era evidentemente necessário. O FBI tinha um arquivo sobre Fromm. Ele era uma figura influente que fazia muito para defender uma mudança radical.
Embora em meados dos anos 50 ele tenha retornado a Marx, ele também era, nesse período em particular, crítico de aspectos do marxismo tradicional. Em uma passagem que acredito que possui grande relevância hoje, tanto quanto possuía na época de Fromm, ele comentou que a famosa frase no final do Manifesto Comunista, que afirma que os trabalhadores não teriam nada a perder além de suas correntes, contém um profundo erro psicológico: Fromm diz que junto de suas correntes, eles também têm a perder todas aquelas necessidades e satisfações irracionais que se originaram enquanto estavam acorrentados.
Fromm comentou que a famosa frase no final do Manifesto Comunista, que afirma que os trabalhadores não teriam nada a perder além de suas correntes, contém um profundo erro psicológico: Fromm diz que junto de suas correntes, eles também têm a perder todas aquelas necessidades e satisfações irracionais que se originaram enquanto estavam acorrentados.
Obviamente, ele estava aí se referindo a aspectos autoritários que atormentaram os regimes socialistas da época, mas também a coisas como sexismo, racismo e nacionalismo. Um dos temas mais fortes em seus escritos, dado o seu pano de fundo, era essa posição profundamente crítica em relação ao nacionalismo, ao qual em termos românticos ele se opôs em A Psicanálise da Sociedade Contemporânea como representando a antítese do amor pela humanidade. Ele chamava isso de nossa forma de insanidade.
Não só A Psicanálise da Sociedade Contemporânea é importante, mas também é justo dizer que A Arte de Amar é importante. Não é necessariamente o livro mais obviamente socialista ou marxista. Na verdade, Herbert Marcuse, um bom amigo e ex-colega de trabalho de Fromm, foi bastante crítico em relação ao que ele pensava representar a traição do pensamento radical por Fromm, que teria se tornado o que ele chamou de “assistente social sermonista”, afastando-se da tradição crítica.
No entanto, Fromm permaneceu inflexível e se envolveu em um debate público com Marcuse sobre isso. O princípio subjacente à sociedade capitalista, dizia ele, e o princípio do amor, no sentido em que ele usava o termo, são incompatíveis. Temos de analisar o fato de que as condições para o amor, a integridade e a realização humana a esse respeito estão ausentes nessa sociedade e tentar fortalecê-las como parte de uma mudança social mais ampla e radical.
DF – Qual foi o papel de Fromm na gênese da corrente que ficou conhecida como humanismo marxista ou marxismo humanista?
KD – Fromm desempenhou um papel central no desenvolvimento dessa corrente, ou como gosto de chamar, dessa tradição. Fromm não era o membro proeminente dessa tradição: pessoas como Raya Dunayevskaya ou C. L. R. James, que estavam mergulhadas em Marx e no movimento revolucionário, seriam os elementos principais.
Mas Fromm era um nome conhecido que publicara a primeira tradução completa para o inglês dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de Marx de 1844 em seu livro Conceito Marxista do Homem (“Marx’s Concept of Man”). Ele trabalhou muito para divulgar e trazer à consciência geral o humanismo marxista. Talvez às vezes o foco de Fromm nos escritos de Marx fosse um pouco pesado demais na direção dos manuscritos de 1844, mas ele nunca cometeu o erro que alguns cometeram – estou pensando especificamente aqui em alguns dos humanistas marxistas cristãos da época – de elogiá-los acima dos escritos posteriores de Marx, como O Capital.
Fromm publicou a primeira tradução completa para o inglês dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de Marx de 1844 em seu livro Conceito Marxista do Homem. Ele trabalhou muito para divulgar e trazer à consciência geral o humanismo marxista.
Acho que os manuscritos são importantes, e a publicação deles por Fromm em 1961 é muito importante, porque mostra que temos essa admissão por parte de Marx de que o objetivo final da luta não é o comunismo, por assim dizer, mas algo que ele chama de “humanismo”, que é uma realização geral das necessidades humanas.
Mais à frente nos anos 60, em 1965, Fromm foi responsável por lançar uma coleção internacional sobre humanismo socialista, que reuniu uma série de importantes socialistas humanistas de todo o mundo, chamando a atenção para esses indivíduos, muitas vezes sendo publicados pela primeira vez em inglês – pessoas como a Escola da Práxis, da Iugoslávia, mas também marxistas humanistas tchecos como Karel Kosík ou Ivan Sviták, bem como pessoas como Raya Dunayevskaya e Léopold Senghor. Fromm também escreveu muitas críticas à URSS e à China nessa época, e usou sua fama para fornecer muitas introduções a livros de pensadores marxistas e radicais.
DF – Quando chegamos à década de 1960, Fromm já estava há muito tempo separado de seus ex-colegas da Escola de Frankfurt – em termos de suas vidas profissionais, mas também separado em termos geográficos, porque Horkheimer e Adorno voltaram para a Alemanha Ocidental após a guerra, enquanto Fromm continuou vivendo nos EUA. Como eles diferiam em sua abordagem sobre eventos como a ascensão da Nova Esquerda nos EUA e a Guerra do Vietnã?
KD – Acho que aquilo que vejo como o que o distingue de Horkheimer e Adorno especificamente, é o humanismo explícito de seus escritos. O significado da palavra humanismo hoje nem sempre é bem nítido, existem vários significados: você tem o humanismo ateu das associações humanistas britânicas ou americanas, esse tipo de racionalismo hiper-iluminista que você encontra em pessoas como Richard Dawkins. Mas também existem formas de humanismo cristão e, de maneira crucial, formas de humanismo marxista, e esta, evidentemente, é a forma mais próxima de Fromm.
Para Fromm, o humanismo revolucionário marxista era uma filosofia que se concentrava na agência e na dignidade do ser humano, e no papel de seres humanos ativamente engajados na transformação de suas relações sociais.
Para Fromm, esse tipo de humanismo revolucionário marxista era uma filosofia que se concentrava na agência e na dignidade do ser humano, e no papel de seres humanos ativamente engajados na transformação de suas relações sociais. Enquanto outros no instituto obviamente tinham alguma relação nítida com essa posição, Fromm era o pensador mais consistente e indiscutivelmente humanista – na verdade caminhando ainda mais nesse sentido na esteira da Segunda Guerra Mundial e nas sombras de Auschwitz.
Durante esse período, Horkheimer se juntou a Adorno para escrever livros como Dialética do Esclarecimento, ou, quando voltaram para a Alemanha, Adorno estava escrevendo livros como Dialética Negativa. Eles estavam criticando o humanismo, pelo menos no sentido da esperança de agência por parte dos trabalhadores e de haver um futuro promissor com base nessa agência. Fromm, porém, estava na verdade operacionalizando o humanismo como uma filosofia radical e penetrante que fazia a ligação de suas preocupações com Marx e a psicanálise com toda uma série de outras preocupações, incluindo elementos do pensamento religioso, mas também questões políticas práticas.
Um exemplo aparente disso é o fato de que no final dos anos 1950 e na virada dos anos 1960, Fromm se envolveu com o Partido Socialista Americano e tentou influenciar ou propor uma reescrita do programa do partido. Ele também era uma voz pública em oposição à Guerra do Vietnã, enquanto Horkheimer e Adorno não o foram. Ele foi um líder de destaque no grupo antinuclear Sane (“Sadia”), que ele formou, e que também foi nomeado a partir de seu livro com o mesmo nome [o nome original do livro A Psicanálise da Sociedade Contemporânea significava “A Sociedade Sadia”]. Ele também apoiou a campanha de Eugene McCarthy nas primárias presidenciais do Partido Democrata em 1968, escrevendo discursos para a campanha. Acho que tudo isso o marcou como uma figura diferente de seus ex-colegas, especialmente Horkheimer e Adorno – esse senso intensificado de engajamento político.
Max Horkheimer (à esquerda) e Theodor Adorno em abril de 1964, em Heidelberg, Alemanha. (Foto: Jeremy J. Shapiro / Wikimedia Commons)
Ele se baseava na convicção de que o momento para a realização da Filosofia não havia sido perdido, como colocava Adorno, mas que esse momento – que era obviamente diferente dos anos 1910 e 1920 – ainda exigia que nos engajemos tanto quanto for possível, se for para termos alguma esperança de realizá-lo. Livros como A Revolução da Esperança e “Ter ou Ser?” se agarravam a essa convicção e, nesse sentido, Fromm estava mais próximo de Herbert Marcuse do que de Horkheimer e Adorno.
Ele e Marcuse viam aspectos positivos na Nova Esquerda e no desafio à Guerra do Vietnã, e na vibração dos movimentos da juventude e nas novas questões que eles estavam levantando sobre as múltiplas alienações da vida social. Mas Fromm, talvez mais do que Marcuse, também enxergava algumas limitações em termos da hiper-militância e de elementos blanquistas que estavam penetrando nesses movimentos, bem como nos elementos idealistas em relação aos hippies e outras coisas desse tipo.
DF – Qual você diria que é o legado mais importante da obra de Fromm para os dias de hoje?
KD – Penso que um de seus legados mais importantes para o momento atual é seu humanismo marxista. Embora sua elaboração sobre esse humanismo marxista às vezes tenha deixado a desejar, Fromm também contribuiu muito com ele, especialmente ao tornar disponíveis aspectos de Marx para um público mais amplo, o que é algo tão importante hoje quanto em qualquer outra época. Mas seu maior legado, que não está desvinculado de suas contribuições na esfera do humanismo marxista, é sua contribuição sócio-psicológica e sua compreensão do autoritarismo, especificamente. Fromm foi um dos pensadores originais nesta área.
O maior legado de Fromm é sua contribuição sócio-psicológica e sua compreensão do autoritarismo. Fromm foi um dos pensadores originais nesta área.
Às vezes, seus escritos sobre esse tema, como O Medo à Liberdade, hoje podem ser um pouco datados e conter alguns erros a partir de uma perspectiva analítica. Todavia, eles ainda se comunicam fortemente conosco – essa ideia do medo da liberdade em particular, a maneira como os indivíduos estabelecem o que podemos chamar de barreiras internas que os impedem de se abrir para relações sociais socialistas e humanistas, de fato, é importante demais. Penso que essa ideia pode ajudar a explicar não apenas o autoritarismo aberto, mas também o sexismo, o racismo e a xenofobia de vários tipos.
Em grande parte, evidentemente, isso surge como um efeito do funcionamento do capitalismo, pelo menos nas manifestações particulares que testemunhamos. Entretanto, isso não pode ser deduzido do capitalismo de uma forma mecânica. Há mais complexidade nisso, penso; mais complexidade humana a ser considerada.
Por causa disso, acho que Fromm está certo em focar nessa necessidade de um conceito de humanismo revolucionário que acompanhe nosso socialismo, nosso marxismo – um conceito de revolução não apenas em termos de barreiras externas, mas também de barreiras internas – e na necessidade de lidarmos com as raízes de paixões autoritárias como o sexismo e o racismo. Fromm não foi o único pensador a argumentar nesse sentido, mas ele atou esses fios de uma maneira que poucos fizeram – e em livros que a maioria das pessoas tem chance de entender, o que só pode ser uma coisa boa!
Fonte: http://desacato.info/erich-fromm-e-a-psicologia-de-massas-do-fascismo/ 26/11/2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário