Senegalês Mohamed Mbougar Sarr, 31, ganha prêmio Goncourt 2021 com livro “La plus secrète mémoire des hommes”. AFP – BERTRAND GUAY
O jovem escritor senegalês Mohamed Mbougar Sarr, de 31 anos, é o ganhador do prêmio Goncourt de 2021, o mais importante prêmio literário da França. É a primeira vez em mais de cem anos de Goncourt que o premiado é um autor da África subsaariana.
O anúncio foi feito nesta quarta-feira (3) e não se pode dizer que foi uma surpresa. Há dias as apostas da imprensa especializada indicavam que o romance “La plus secrète mémoire des hommes” (A mais secreta memória dos homens, em tradução livre) era o favorito para a premiação.
Com uma escrita ambiciosa, em que diversos gêneros literários se revezam, o livro conta a busca de um jovem escritor senegalês para resgatar a memória de um autor que ficou conhecido como o “Rimbaud negro” após publicar um livro que causou escândalo na Paris de 1938.
Diégane vai seguir o rastro do misterioso T.C. Elimane e, nesse percurso, enfrentar dois dos grandes apocalipses do século 20: o colonialismo africano e o Holocausto. A história vai do Senegal à França passando pela Argentina, em uma narrativa que explora a mais importante questão da literatura: por que, como e para quem escrevemos?
“É um livro de iniciação sobre a paixão pela literatura, a vontade de escrever, sobre a vontade de encontrar um sentido através da criação”, resumiu o autor Mbougar Sarr em uma entrevista concedida em agosto.
Para o presidente da Academia Goncourt, Didier Decoin, o livro é um “hino à literatura”.
Três décadas de vida e quatro livros
Este é o quarto romance do jovem autor que publicou seu primeiro título em 2014, quando tinha apenas 24 anos. Nascido em Dakar e o mais velho dos filhos de um médico, Sarr dedicou seus estudos em Paris à literatura negra e abandonou seu doutorado para abraçar a escrita.
A escolha mostrou-se acertada. Seu primeiro romance, “Terre ceinte”, sobre a vida em um vilarejo sob domínio de milícias jihadistas, ganhou três prêmios literários.
Com “Silence du choeur”, seu segundo romance, Sarr levou duas outras condecorações pelo livro que aborda a vida dos imigrantes africanos na Sicília. Em 2018, ele faz uma escolha ousada e lança “De purs hommes”, um romance sobre a experiência homossexual no continente africano.
Apesar dos prêmios e da recepção favorável da imprensa, o senegalês até então era pouco conhecido do público na França e no mundo. No Brasil, nenhum dos seus títulos tem tradução para o português.
A conquista do Goncourt por seis dos dez votos do júri deve mudar esta história. O prêmio é conhecido por provocar euforia de venda, tendo alguns de seus títulos ganhadores ultrapassado a fronteira dos milhões de exemplares vendidos.
Ao chegar ao mítico restaurante Drouant, em Paris, onde acontece a cerimônia do Goncourt, o jovem poupou palavras à imprensa. “Eu sinto muita alegria”, disse.
A veterana Amélie Nothomb
O prêmio Renaudot, também anunciado nesta quarta-feira, foi conquistado pela escritora belga Amélie Nothomb e seu romance “Premier sang” (Primeiro sangue, em tradução livre).
Para essa autora sucesso de vendas e com dezenas de livros editados, alguns traduzidos em português, o prêmio servirá de homenagem ao pai. Seu romance ficciona as memórias de seu pai, morto em 2020.
Fonte: http://desacato.info/senegales-ganha-maior-premio-literario-da-franca-com-romance-sobre-busca-pelo-rimbaud-negro/
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