Rubem Alves*
CADUQUICE
Hoje usa-se uma palavra científica: mal de Alzheimer. Antigamente era “caduquice”. Os velhos perdiam a memória: ela guarda o que aconteceu há muitos anos e não guarda o que foi dito alguns segundos antes. Lembro-me de uma conversa com minha tia já velha, era uma conversa sem jeito porque ela ficava repetindo perguntas que havia feito há menos de um minuto, mas sua memória se esquecera não só de perguntar como também da resposta, e era inútil responder, porque a mesma pergunta seria feita de novo.
ELOGIOS QUE OFENDEM
“Puxa, como você está conservado!” Tradução: “Assombrei-me ao vê-lo. Porque, fazendo as contas, imaginei que a imagem verdadeira para a sua idade fosse outra: rugas, papada, olhos empapuçados, barriga, bunda caída, passos trôpegos. Mas não. Você está liso. Você dorme com formol? Fez plástica? Está se tratando com algum geriatra?”
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Fonte: ALVES, Rubem. Do universo à jabuticaba. Ed. Planeta, SP, 2010, p.56/57
Imagens da Internet
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