No primeiro dia do ano, enquanto muitos ainda comemoravam, Felipe Neto anunciou para seus seguidores que estava no “fundo do poço”. Responsável por um dos canais de maior sucesso do YouTube no Brasil e sócio de uma agência de conteúdo, o comunicador digital vivia uma recaída na depressão diagnosticada desde 2010. “Acho que é mais difícil esconder do público e fingir que está tudo ótimo, como muitos influenciadores fazem”, explica ele, que entre suas redes acumula 73 milhões de seguidores.
Além do término de uma relação de cinco anos , Felipe enxerga os ataques de bolsonaristas como outro gatilho da crise, hoje controlada. “O que eles fazem comigo todos os dias, eu não desejo a ninguém”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista dada por email.
Você
foi diagnosticado com depressão em 2010, mas estava controlando a
doença com remédios e terapia. Qual foi o gatilho para piorar?
A
depressão é uma doença de altos e baixos, é normal e o importante é
entender isso e continuar lidando na terapia. A virada de ano foi bem
complexa para mim porque envolveu muitas mudanças na minha vida pessoal,
incluindo o término de uma relação de quase cinco anos.
Foi
difícil falar publicamente sobre o problema, em meio ao episódio
depressivo, enquanto você ainda estava em um estado mais frágil?
É
mais difícil esconder do público e fingir que está tudo ótimo, como
muitos influenciadores fazem. Gosto de ser sincero e mostrar a verdade
nas minhas redes sociais. Meu público sabe quando estou bem e sabe
quando estou mal. Dessa forma, não se iludem achando que minha vida é um
conto de fadas perfeito e inatingível.
Como se sente hoje?
Muito
melhor e melhorando cada dia mais. As adaptações nos medicamentos com
minha psiquiatra e a terapia constante ajudam muito. Eu não sei se
sequer estaria vivo se não fosse isso.
Seu trabalho é intrinsecamente sujeito à avaliação pública. Isso gera instabilidade no seu estado mental?
No
início, em 2010, foi isso o que causou o agravamento do meu quadro, mas
hoje em dia esse fator já não interfere tanto. Claro que estou falando
de críticas ao meu trabalho. Quando vamos para o campo do que o
bolsonarismo fez contra mim, como as perseguições públicas, as
acusações, as fake news e as ameaças de morte, tudo isso prejudicou e ainda prejudica muito.
Seu posicionamento político fez com que você se sentisse mais pressionado nos últimos tempos?
Desde
que Jair Bolsonaro surgiu como candidato à presidência e eu passei a
lutar contra esse regime fascista, as perseguições passaram a ser
desumanas contra mim. O que eles fazem comigo todos os dias, eu não
desejo a ninguém. Fui falsamente associado com pedofilia, corrupção de
menores, crime contra a segurança nacional, dentre diversas outras
coisas. Uma nojeira sem fim e que bota em risco minha vida e da minha
família.
Já pensou em deixar a faceta pública do seu trabalho?
É impossível porque o que amo fazer é criar conteúdo. Não consigo me imaginar sem criar.
Acha que os julgamentos nas redes sociais às vezes passam dos limites?
A
internet tem o poder de potencializar tudo. Hoje estamos num surto de
busca por atenção. As pessoas querem atenção a todo o momento, a todo
custo, mesmo que isso signifique arruinar outro ser humano. Eu fiz parte
disso, também. Por isso, decidi recentemente trancar meu Twitter.
Dessa forma, não faço mais nenhuma publicação no Twitter pensando em
repercussão. Isso diminuiu meu ego na plataforma e deixou meu Twitter
melhor e mais engajado com os fãs.
Recentemente o youtuber Monark e o comentarista Adrilles foram ‘cancelados’ por discursos e gestos antissemitas. Qual a sua opinião sobre esses casos?
Isso
não é cancelamento, é consequência de falas e gestos absolutamente
repulsivos. Colocar tudo como “cancelamento” também não ajuda em nada o
debate e a evolução do espaço digital. Não é porque temos uma cultura
exagerada de cancelamento hoje que devemos inverter e não criticar mais
nada nem ninguém.
Ainda existe uma dificuldade em entender a razão pela qual alguém com dinheiro e sucesso se sente triste. Você se sente julgado?
O
excesso de fama e dinheiro não possuem qualquer relação com boa saúde
mental, muitas vezes é inclusive o contrário, principalmente a fama. Mas
não estou falando que dinheiro é ruim. Passar necessidade ou ter
dificuldade financeira são fatores que pioram muito a saúde mental de
qualquer pessoa. Sobre me sentir julgado, sim, sinto que há um certo
desdém de algumas pessoas, que acreditam que ninguém com fama e dinheiro
deveria ter problemas com saúde mental. Mas eu sei que são pessoas
ignorantes, que nunca leram ou pesquisaram sobre o assunto.
Você
foi criticado após contar que “afogou as mágoas” gastando cerca de R$
60 mil no shopping. Se arrepende de ter dividido este episódio
publicamente?
Como eu disse,
gosto de ser sincero e contar as coisas para o público, tanto as coisas
boas quanto as coisas ruins ou extravagantes. Não ligo para críticas
sobre como gasto meu dinheiro, acabo dando risada dos comentários.
O que te faz feliz ou pelo menos mais contente no seu dia a dia?
Criar
conteúdo, ver as pessoas engajando com meus vídeos, dando risada,
curtindo. E obviamente amo demais estar com minha família e meus amigos,
recebê-los em casa, assistir séries e filmes, além, é claro, da
literatura, que é o que mais amo.
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