sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cresce adesão religiosa dentro do Partido Comunista da China

Veteranos do Partido Comunista temem que religião possa causar 'divisões ideológicas' no país

Aumento no número de religiosos gera
preocupações e desconforto para
o Partido Comunista

Houve uma época na qual Devon Chang teve dificuldades para conciliar suas duas fés: o cristianismo, que ele abraçou em 2005, aos 19 anos, e o Partido Comunista Chinês, que o abraçou um ano antes. Sua submissão a um Deus todo poderoso não significava que ele deveria renunciar ao clube dos ateus de Marx e Mao?
Não necessariamente. Um palestrante da universidade, também convertido, sugeriu que se todos os membros do Partido Comunista encontrassem Jesus, o cristianismo poderia dominar a China. “Logo, é bom que eu me torne um cristão”, pensou Chang.
O partido não vê a situação da mesma forma. Embora pessoas se juntem ao partido por razões muito mais profissionais do que ideológicas, a religião ainda é proibida entre os membros. Na prática, essa vem sendo, por anos, uma espécie de política “não pergunte, não conte” chinesa. Mas sinais cada vez mais fortes indicam que o partido está pronto para ser mais duro com seus fiéis, e a ideia de Chang, do cristianismo como um cavalo de Tróia, pode estar por trás disso.
Se você não pode vencê-los…
Especialistas afirmam que, do 1,3 bilhão de habitantes da China, algo em torno de 250 mil agora são religiosos praticantes (embora o governo somente reconheça cem mil religiosos). A vasta maioria dos religiosos é de budistas e taoístas. Estima-se que o número de cristãos deva variar entre 50 e cem mil (o número é difícil de ser precisado, pois muitos frequentam “igrejas secretas”). Por todo país, governos locais reconstruíram templos e aproveitaram para lucrar em cima do turismo religioso. Nas áreas rurais, templos e igrejas ajudaram a levar educação e saúde, com a bênção não-oficial dos líderes locais do partido. Alguns desses líderes também são chefes de igrejas.

"O país precisa do partido, e indivíduos
precisam de sua fé,
dizem eles."

Na ausência de figuras religiosas “oficiais” dentro do partido, especialistas ocidentais e chineses costumam citar uma pesquisa de 2007 realizada pela Horizon, uma empresa de pesquisas de Pequim, em cooperação com acadêmicos norte-americanos. A pesquisa aponta que 1/6 dos membros do partido têm crenças religiosas. Isso seria equivalente a mais de 13 milhões de pessoas. A vasta maioria é de budistas. Cerca de 2 milhões são cristãos.
Os sinais de uma abordagem mais dura vêm de Zhu Weiqun, vice-ministro da Frente Unida do Departamento de Trabalho do partido, um influente ideólogo, que alertou para o perigo do crescimento religioso nas fileiras do partido em dezembro. Se membros do partido puderem ter crenças religiosas, escreveu Zhu, isso resultará “num abalo e na perda da posição do marxismo, e na divisão ideológica e teórica do partido”. Zhu também alertou para o perigo de figuras religiosas tomarem o controle das políticas relativas à religião. Isso minaria a luta do partido contra o “extremismo religioso no oeste chinês”, especialmente contra seguidores do Dalai Lama. Zhu é conhecido como um feroz crítico na oposição do partido ao líder tibetano, a quem se refere como um “desagregador”, que é “mau” e “traiçoeiro”.
A relação do partido com religiosos não-afiliados é bastante complicada. Eles têm o direito de acreditar em uma das religiões aprovadas pelo Estado (budismo, taoísmo, islamismo, além do cristianismo católico e protestante) e frequentar locais de adoração. Na zona rural, o partido tolera as religiões tradicionais chinesas, apesar de uma proibição das superstições. A principal preocupação do governo é com o separatismo, que poderia ser alimentado pelo budismo no Tibet e pelo islamismo no noroeste. Mas igrejas católicas leais ao papa e algumas das igrejas protestantes mais desafiadoras também são fortemente controladas.
Ameaças contra a estabilidade social estão abalando o partido, e os últimos quatro anos viram uma sucessão de crises que deram força à ala linha-dura e conservadora do partido, onde o preconceito com a religião é mais evidente. Chang e outros dois membros do partido que frequentam a mesma igreja em Pequim insistem que as duas crenças podem coexistir. O país precisa do partido, e indivíduos precisam de sua fé, dizem eles. Membros cristãos do partido lembram que Jesus ensinou a seus seguidores a darem “a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. O dízimo partidário de Chang custa US$ 1,60 mensais, e ele pretende continuar pagando regularmente a seus correligionários.
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