quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Terapia de casal

Juremir Machado da Silva*

Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Qualquer um sabe: não existe hora para se começar uma terapia de casal. O mais adequado, porém, é que se comece depois do casamento e algum tempo antes da separação. É verdade que alguns casais, apressadinhos ou estudiosos do assunto, preferem fazer terapia preventiva, profilática, no espaço entre o tal ficar e o apresentar para a família, enquanto outros, imprevidentes, tentam começar uma terapia só quando já estão assinando os papéis do divórcio barraquento. A terapia de casal parece ser muito útil, conforme atestam especialistas, mas tem um limite bastante desagradável: não salva casamento fracassado da sua liquidação. Por outro lado, parece, ainda são poucos os terapeutas que aceitam, por questão de segurança, participação de amante no tratamento.
- Sem ela, eu não faço.
- Mas por que essa teimosia?
- Teimosia? Eu chamo isso de bom senso. Para que serve tratar do crime sem a presença do criminoso?
- Você não ia aguentar ficar na frente dela, Vilma.
- Claro que não. Por isso mesmo que sem ela eu não vou. Que outra oportunidade eu posso ter para matá-la?
Casais são formações complexas. Em princípio, reúnem duas pessoas que decidiram livremente viver juntas.
- Quero fazer terapia de casal, Valadão.
- Por que, amorzinho? Está tudo bem entre nós.
- É isso que me preocupa.
Há todo tipo de resistência a uma terapia de casal. Tem marido que só vai com habeas corpus preventivo permitindo-lhe não abrir a boca durante toda a sessão.
- Se você contar para ele aquilo eu peço o divórcio?
- Mas se a gente vai justamente para não se divorciar.
- Pode ser. Mas se você falar daquilo, acabou.
- Aquilo que você gosta?
- Não se faça de sonsa comigo, Lilica.
- Que é que tem? O cara é um profissional assim como um açougueiro, um carteiro, um massagista, um farmacêutico.
- Eu não falo para o carteiro das tuas preferências.
- Diante de um terapeuta, Jonas, não me importa.
- Pois eu me importo. É cláusula pétrea para mim a separação cristalina entre público privado, cama e divã.
Tem muito preconceito nisso tudo. Há gente muito desconfiada. Tem medo de que o terapeuta entregue o jogo.
- Que bobagem, Mariano. Seria antiético da parte dele.
- Pode ser, mas não existe segredo total na cama. Ele vai falar para a mulher dele, que vai acabar contando para uma amiga, que frequenta o mesmo salão que a Diana...
- Que Diana?
- Sei lá, sempre tem uma Diana nesse tipo de história.
Pior são os que, mesmo atolados na crise, na beira do abismo, recusam-se por uma questão de princípio.
- Jamais. Casamento comigo é a dois.
- E a terapia de casal?
- É uma indecência, uma imoralidade.
- Como assim?
- Um ménage à trois.
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* Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário. Cronista do CPovojuremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do povo on line, 15/02/2012

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