MARTHA MEDEIROS*
Em que momento você se dá conta de que está mais perto do fim do que do começo? Se esta crônica fosse um teste de revista, poderia ajudá-lo a descobrir se está mesmo ficando velho. Basta que tenha dito as seguintes frases com alguma assiduidade nos últimos meses:
a) Não enxergo mais nada sem meus óculos.
b) Como é mesmo o nome daquele programa de tevê de que a gente gostava?
c) Eu jurei que tinha deixado a chave do carro aqui.
d) Vai ter lugar pra sentar?
e) Não tenho mais paciência para ler autores novos, agora só me dedico aos clássicos.
f) Nunca ouvi falar dessa banda. Dessa outra também não.
g) Com essa chuva, prefiro ficar em casa.
h) Com esse calor, prefiro ficar em casa.
i) Quem viu um, viu todos.
j) Dois cálices agora é o meu limite.
k) Tem escada rolante?
l) Com essa noite linda e estrelada, prefiro ficar em casa.
Você se reconhece em pelo menos metade dessas afirmações? Pegue sua bengala, coloque seu aparelho de surdez e ouça: bem-vindo ao clube. Eu disse BEM-VINDO AO CLUBE! Pois é. Ao Clube dos Matusaléns que não parecem ter mais do que 40 anos, mas é só aparência, por dentro a alma já está andando de graça nos ônibus e frequentando fila especial no banco.
Na verdade, os esquecimentos e a preguiça nunca abalaram a minha autoestima. Troco o nome das pessoas desde que me conheço por gente e nunca fui de noitada, ficar em casa já era meu programa preferido aos 17 anos. Ainda assim, tenho a cara de pau de dizer que mantenho o espírito cada vez mais renovado. Só me sinto meio caquética quando, ao ler uma entrevista de um cineasta famoso, ou de um empresário famoso, ou de qualquer pessoa famosa, descubro o ano em que eles nasceram: 1978. 1981. 1989. O quê?? Só pode ser erro de revisão.
Em 1978 eu estava me preparando para o vestibular, em 1981 eu já ganhava salário, em 1989 eu tinha três livros publicados, enquanto que os notáveis de hoje estavam em um berçário fazendo gugu-dadá. E agora eles são capas de revista, profissionais respeitados, com família constituída e investindo em plano de aposentadoria. São adultos realizados que nasceram quando eu já era adulta. Humm. Então eu sou o que hoje?
A idade pesa quando descubro que quem nasceu bem depois de mim já está se queixando dos cabelos brancos. Só não me sinto totalmente humilhada porque quem estiver nascendo neste 21 de agosto logo vai estar dando entrevista e os fazendo enfrentar o mesmo estupor. Como assim, nascido em 2011 e já presidente de empresa? Ninguém escapa desse susto.
-----------------* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 21/08/2011
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