quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Luiz Fernando Oderich - Entrevista

“Ajudar o filho vai muito além de apenas pagar pensão”


Luiz Fernando Oderich, fundador da ONG Brasil Sem Grades

Zero Hora – Na nossa cultura, a expressão “filho da mãe” é usada para ofender, é usada pejorativamente. Por que o livro se chama Os Filhos da Mãe?
Luiz Fernando Oderich – É um enfrentamento a uma das raízes da violência: a ausência da figura do pai, aquele que dá o limite para o filho. Quem dá o suporte emocional para as crianças, mais importante do que o econômico? As autoridades? Não. É o pai e a mãe. É aí que nasce a nossa proposta de incluir o nome do pai na certidão de nascimento. Imagine que, no Brasil, temos 30 milhões de pessoas, a população da Argentina, sem a identificação paterna.

ZH – Como o senhor chegou à conclusão de que a figura paterna é importante?
Oderich – Primeiro, por intuição. Depois, fui atrás do assunto e encontrei dezenas de artigos, teses de mestrados e estudos. Daí resolvi entrar na luta.

ZH – Qual é o foco da proposta?
Oderich – Colocar o nome do pai na certidão de nascimento como primeiro passo rumo à solução da violência.

ZH – Legalmente, a questão não é tão simples, por envolver disputas jurídicas, como reconhecimento de paternidade.
Oderich – O passado é difícil de resolver. Mas é possível intervir no futuro. Há um ano, foi feito um termo de ajustamento entre o Ministério Público, a Defensoria Pública e os cartórios. A nossa ONG entrou como testemunha. O que foi ajustado? Hoje, uma mãe chega para registrar o filho e omite o nome do pai, o que é um direito dela. Ela recebe a certidão sem o nome do pai. Mas assina um documento que vai para o Ministério Público, que irá analisar a situação.

ZH – Já tem resultados?
Oderich – Não tenho resultados de todo o Rio Grande do Sul. Mas em São Sebastião do Caí está funcionando. Tínhamos, em média, 21 casos por ano. No ano passado, reduziu para quatro. Atualmente, estamos com dois e acreditamos que, em 2012, chegaremos a zero. A nossa intenção é ser a primeira cidade do Brasil a zerar as certidões de nascimento sem o nome do pai.

ZH – É possível ser um pai presente estando separado da mãe do filho?
Oderich – É. Mas temos de mudar alguns conceitos. Por exemplo: hoje, se não pagar a pensão, o homem vai preso. Mas se não visitar o filho, não acontece nada. Isso tem de mudar. Ajudar o filho vai muito além de apenas pagar a pensão.

ZH – Em 2002, o seu filho foi assassinado. Desde então, o senhor desenvolve uma jornada contra a violência. Que influência isso tem na sua vida?
Oderich – Eu escrevo isso no livro. Eu renasci. Sou um novo homem, que luta para deixar um legado de contribuição para melhores dias para a sociedade.

NOTA do Blog:
Luiz Fernando Oderich é empresário e diretor da Max Metalúrgica Ltda, do ramo de ferramentas para a construção civil. É formado em Direito e Administração; pós-graduado em marketing pela ESPM. Em 2002, após o assassinato de seu filho Max Fernando de Paiva Oderich, junto com um grupo de amigos, sua esposa e ele fundaram a ONG Brasil Sem Grades, com o intuito de enfrentar as causas da criminalidade. Isso acabou levando-o a escrever para vários jornais e, em 2005, publicou "O Beijo Gelado" sobre a paternidade irresponsável, suas causas e conseqüências. Participou de vários programas de rádio e TV, estaduais e nacionais. Foi agraciado com o título de cidadão de Porto Alegre, embora não resida na capital gaúcha. A governadora Yeda Crusius distingui-o com a medalha de mérito da Defesa Civil do RS e o Ministério Público do Rio Grande do Sul concedeu-lhe a comenda "Dirceu Pinto" em reconhecimento ao trabalho já realizado. www.brasilsemgrades.org.br

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Fonte: ZH on line, 18/08/2011

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