segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Stop violence: ossos para enxergar

Tiago andré vargas*


Um esqueleto humano separado e unido novamente para simplificar a ideologia de uma guerra. "Stop Violence" surpreende pela criatividade e impõe-se pela mensagem atroz a respeito da humanidade e de seus interesses simples e desumanos - tais como um osso sem vida.
Você comparece ao leilão de uma escola que está sendo desativada para comprar alguns armários. Incomum, certo? E que tal se num destes armários houvesse um esqueleto? Pode parecer introdução de algum filme de comédia-terror mas, na verdade, é a origem de um trabalho magnífico.
A pessoa na situação citada foi Francois Robert, um fotógrafo reconhecido pelo seu trabalho provocativo. Dispondo do esqueleto em questão, que anteriormente serviu como utensílio a alguma aula de anatomia, Robert tentou usá-lo para um trabalho fotográfico sem muito sucesso. Provavelmente achou-o acadêmico demais, e assim concluíu que precisava de um esqueleto de verdade para poder desmontá-lo. Sim, a máxima “Você pode comprar qualquer coisa pela internet” parece ser verdadeira.
Robert, todavia, já tinha uma ligação com ossos e seu trabalho: como fotógrafo da Field Museum de Chicago, tirou 141 fotografias de esqueletos de animais, trabalho este que percorreu os Estados Unidos durante oito anos. “Os ossos sempre me fascinaram”, revela o fotógrafo.
Em 2007, ao se encontrar desempregado devido à recessão, Francois Robert encontrou muito tempo livre e logo descobriu o que fazer com ele. Contatando o dito fornecedor de ossos pela internet realizou a encomenda de uma caixa contendo 206 ossos distintos e reais, nada de plástico ou resina.
Cada fotografia exigia um dia inteiro de trabalho para ser realizada. A montagem dos ossos, até formarem esta imagem icônica de quase 2 metros, era uma tarefa difícil, tendo em conta a necessidade de um ponto de observação distanciado para a formação visual perfeita. “Passei o ano de 2008 de joelhos” lembra Robert.
Outro fato importante é a limitação de recursos para a montagem destas imagens, uma vez que o fotógrafo possuía um número limitado de vértebras, costelas, etc. E um crânio, comumente visto em seu trabalho e atraindo os olhares como um ponto referencial, talvez por ser o osso que evidencia a natureza dos demais e transparece a propriedade humana. O plano de fundo completamente negro também trouxe um contraste preciso aos ossos, dando o tom de sobriedade necessário, como pode ser visto em seu trabalho final.
A criação de imagens tão completas e fidedignas através da disposição de ossos fascina e encanta nossa percepção. Todavia, a grandiosidade do trabalho se deve à ligação crítica e poética do material usado e da mensagem escolhida.
Neste trabalho figurativo, Francois Robert formou imagens que tornaram visíveis os interesses, os supostos ideais, motivos e instrumentos de uma guerra. Robert utilizou um símbolo de morte que, através da arte, ressurge para impedir a morte. A magnitude de seu trabalho é fazer com que o resultado de uma guerra - a morte e a destruição expressadas através dos ossos precisamente humanos - se torne auto-explicativo e revele toda a barbárie contida no ser humano. Toda a desumanidade de ser humano.



Série fotográfica de "Stop The Violence" http://www.hammergallery.com/  
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* Sobre o autor: tiago andré vargas se caracteriza como atos em determinadas circunstâncias, ações e reações sobre um caos relativamente ordenado.

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