Juremir Machado da Silva*
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Teve uma discussão entre os dois. Não me lembro mais onde foi. Alguém relembrou isso recentemente. É um assunto que assusta leitores, especialmente aqueles que consideram insípido falar de intelectuais, de ideias, de teorias e de tudo o que requer uso do cérebro como algo mais do que uma gosma nojenta. O chato acha chato tudo o que vai além da sua chatice intelectualmente limitada. Umberto, com aquele seu jeito italiano de ser, lascou:
- Quero ser polímata*.
A plateia ficou embasbacada. Teve gente que se arrepiou. Aí está. Ser polímata pode ser muito interessante. Todo jornalista, de certa maneira, é polímata, especialmente os bons. Dá muito trabalho ser polímata. O polímata utiliza o cérebro em alta voltagem. Sabe-se que a humanidade não usa mais de dez por cento da sua capacidade cerebral, sendo que boa parte não vai além de dois por cento, especialmente os que bebem mais de dez cervejas por dia. Numa conversa de bar aconteceu isto:
- Quero ser polímata - disse um cara de óculos redondos.
- Eu, hein! - exclamou um careca sentado à frente dele.
- Você não quer ser polímata?
- Tá me estranhando, Julinho? Sou espada.
- Você não quer ser jornalista?
- Estou estudando para isso.
- Todo bom jornalista é polímata.
- Opa! Não sabia disso.
- É melhor assumir.
- Deve ter muito polímata, então, que não sai do armário.
- Pior, muito pior, velho - disse enigmaticamente o tal Julinho - são os que não se tornam polímatas por nunca se aproximarem dos armários. Quer dizer, das estantes.
O papo de Susan e Umberto foi menos sexual. Umberto não arredou pé da sua pretensão de ser polímata. Foi aí que Susan, esbanjando cultura, deu a sua definição:
- Polímata é alguém que se interessa por tudo e por nada.
Umberto teria respondido:
- O inimigo do polímata conhece quase tudo de nada.
Umberto Eco e Susan Sontag são polímatas, indivíduos que aprenderam muito e não se restringem a uma área de conhecimento. Na esfera pública, que vai do bar aos parlamentos, o perigo é o especialista. Todo cidadão é, até certo ponto, polímata. Ou deveria ser. Tem direito a opinar sobre tudo que diz respeito ao seu mundo. Com polímatas só vale o melhor argumento. O resto é discurso de autoridade, o popular, universal e vulgar carteiraço.
- Mas, cá entre nós, na manha do ganso, na boa, dá para ser espada e polímata ao mesmo tempo, Julinho?
- Não precisa. Cada polímata com sua inclinação sexual.
- Qual a origem da palavra polímata?
- Vem do grego.
- Ai, ai...
- Os gregos eram polímatas, velho.
- Sei, sei, com seus efebos.
- Relaxa e goza, velho. Ser polímata é orgasmático.
Do BLOG:
*Um polímata (do grego polymathēs, πολυμαθής, "aquele que aprendeu muito") é uma pessoa cujo conhecimento não está restrito a uma única área. Em termos menos formais, um polímata pode referir-se simplesmente a alguém que detém um grande conhecimento. Muitos dos cientistas antigos foram polímatas pelos padrões atuais.(Fonte: Wikipédia)
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* Sociólogo. Escritor. Prof Universitário. Cronista do Corrio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 14/02/2012
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