Ivan Lessa
Isso aí, acabo de promovê-lo.
General lá com os russos,
general para Napoleão.
Acabando com legiões sem
se apear do cavalo.
Já fui fã.
Visto da janela de casa ou numa caminhada pequena até o metrô, uma graça. Aquele barulhinho que uns 5 cm de neve fazem debaixo do sapato reforçado. Um ou outro tombo em tempo de degelo fazia parte do que era novidade.
Tomei conhecimento da neve lá pelos 7 ou 8 anos de idade em Nova York. Velhos amigos.
Lembro-me, ou minha mãe se lembrava, que eu saí pela rua desprotegido e, como numa capa de revista de Norman Rockwell, corri com a língua espichada querendo provar daquilo que só poderia ser sorvete caindo do céu. Depois vi muito filme besta com cenas iguaizinhas, em geral da Doris Day.
E já que estamos cantando na neve, vexame é pra quatro paredes, parafraseando o samba do repertório de Dalva de Oliveira, e não se fala mais nisso.
Ao depois veio o depois. E tome Rio de Janeiro. Neve não estava com nada. O negócio era sol, calor, praia, suór. Todos de alta patente. Lembrança boa, coisa de garoto e só. Celsius, Fahrenheit, tudo estrangeiro.
De volta à Europa fiz questão de apresentar o senhor Inverno (ainda não se decidira pela carreira militar) à minha filha.
Em casa, "no problemo". Na rua, caminho da escola, aquele velho barulhinho debaixo de nossos pés catucando em mim, memórias, nela, preciso perguntar ainda esta semana.
Primeiros anos, vivia-se o frio súbito, "cold snaps", nevascas, tomava-se um chocolate quentinho, cultivava-se o hábito de acompanhar o homem ou a moça da meteorologia com um interesse digno de BBB.
O tempo, a temperatura, passara a fazer parte do cotidiano. Tinha tempo à beça. Dele dependiam, e dependem, o tráfico, trens, entregas de correspondência, recolha de lixo, a vida enfim.
O jovem Inverno alistara-se e, com rapidez notável, fora saltando patente sobre patente.
E este seu criado foi perdendo o que chamava de “velho brio”.
A esperar agora a primavera, que aqui tem, e o verão, que aqui me levava às proximidiades do Equador, já que o Arpoador acabara.
O olho sempre voltado para as previsões da temperatura. Meteorologista inglês é mais popular e conta com mais ou tantos fãs clubes quanto Elton John ou Lady Gaga.
Eu só me guio por dois: O do homepage da BBC (confiram), e uma mocinha charmosa na TV comercial que dá boas e más notícias com a mesma loura inexpressão. Deve ter uma vida interessante. Deverei cadastrar-me no Facebook para saber mais dela? Mais do tempo que vai fazer amanhã?
A violência da nevasca da última semana – e parece que a coisa vai continuar – surge depois toda catita em lindas fotos nas primeiras páginas nos jornais e, no interior dessas publicações, a situação periclitante dos velhinhos (estão falando com um) e o cuidado que se deve tomar com essas flores, que somos nós, prontas para murchar ao menor sinal de vento e qualquer coisa abaixo dos menos 3 graus.
Depois, bem depois, os horrores porque passa ou passou o resto da Europa, que, afinal, trata-se de uma União, meio macabra, mas união.
Agora é o gelo nas estradas e ruas. Trombadas e quedas feias. Algumas sobre o pastelão. Pobre de quem tem problema de pulmão ou doenças circulatórias. E estamos aí, murmuro abafado lá do fundo de meu ninho de cobertores.
Nunca pensei que fosse dar, como dou todo dia, com a temperatura em cidades-chave daquela que foi minha ensolarada terra no site da BBC Brasil.
Lá estavam terça-feira, por exemplo: Brasília 27º, Rio de Janeiro 35º, São Paulo 32º. Sendo que os dois últimos com um tremendo de um solzão à vista. Brasília chovendo? Muito? Não vejo mal. Nem devem ver.
Saudades – e pronto digitei a palavra proibida – do Marechal Verão sem anos de chumbo.
--------------------------------*Colunista da BBC Brasil
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/02/120208_ivanlessa_ra.shtml
Imagem da Internet
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