Rubem Alves*
LIBERDADE
Somente os pássaros engaiolados são dignos de confiança. Pássaros engaiolados não fogem. Mas, ao se engaiolar o pássaro, perde-se a beleza do seu voo, que era o que se amava.
Pássaros engaiolados transformam-se em patos gordos. Patos gordos são dignos de confiança: nem podem nem querem voar. Os espaços vazios não os fascinam. Nunca olham para cima, só para baixo. Nem sabem da existência do céu. Já os pintassilgos são indignos de confiança. Sabem voar. Basta que a porta da gaiola se abra para que voem.
Mais fundamental que o amor é a liberdade. A liberdade é o alimento do amor. O amor é pássaro que não vive em gaiola. Basta engaiolá-lo para que ele morra. Ter ciúme é reconhecer a liberdade do amor.
O desejo de liberdade é mais forte que a paixão. Pássaro, eu não amaria quem me cortasse as asas. Barco, eu não amaria quem me amarrasse no cais.
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CONTRATO
Talvez o amor não passe de uma deliciosa ilusão que se realiza em momentos sagrados, raros. Não pode capturado. Um casamento que se baseasse no amor teria que ser efêmero. Por isso o casamento não se baseia no amor. Ele se baseia num contrato selado por promessas e confirmado por testemunhas.
Observe os casais nos restaurantes. Pela forma como eles conversam durante a refeição você pode concluir sobre a relação. Se conversam e riem, é porque o amor está vivo. Se comem olhando para o prato e em silêncio, é porque o amor está estragado.
Aqui abrem-se as possibilidades. Primeira: uma das partes – ou as duas – encontrou um novo amor e se entregou a ele. Nesse caso, é (ou não) infiel e uma relação formal apodrecida, e fiel a uma nova relação amorosa. Segunda: os dois vão ser pelo resto da vida fiéis às promessas e ao contrato, olhando para o prato enquanto comem, sem rir e conversar. Na sua lápide se escreverá: “Foram fiéis a vida inteira...”.
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ARTE DE FAZER AMOR
Aqueles que se dedicam à sutil e deliciosa arte de fazer amor com a boca e o ouvido (esses órgãos sexuais que nunca vi mencionados nos tratados de educação sexual...) podem ter a esperança de que as madrugadas não terminarão com o vento que apaga a vela, mas com o sopro que a faz reacender-se.
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SEDUÇÃO DO VENTO
Quem está feliz com a segurança é porque deixou de amar. Somente as pessoas que deixaram de amar se contentam com a segurança. Quem ama ouve sempre a sedução do vento...
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* Teólogo. Escritor. Pedagogo. Poeta.
FONTE: ALVES, Rubem. Do universo à jabuticaba. Ed. Planeta, SP, 2010, pp. 150/152/153
Imagem da Internet
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Não é à toa que me apaixonei pelo Rubem Alves. Além de concordar com ele, quis fazer-lhe uma homenagem pelos seus 80 anos de amor, através de um conto que escrevi e inscrevi, sem pretensões literárias, no concurso do banco Santander-2013 - https://www.talentosdamaturidade.com.br - sob o título - Livros são Espelhos - Luiza de Souza Coutinho
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