Joan Chittister*
A oração não nos torna menos conscientes das
circunstâncias da vida. Pelo contrário, torna-nos mais conscientes do
que nunca. Porquê? Porque, agora, vemos o mundo como Deus o vê. Ouvimos
chorar os pobres, como Deus os ouve. Já não estamos tão envolvidos em
nós próprios, ficamos mais conscientes das necessidades dos outros,
menos centrados em nós próprios.
Quando estamos verdadeiramente embrenhados na
consciência de presença de Deus em nós, compreendemos que é próprio da
natureza de Deus – que é Omnipresente – estar em todos como está em
nós. Começamos a ver-nos cada vez mais como membros da comunidade
humana, em vez de nos vermos como um indivíduo único e independente.
Sabemos, agora, de um modo nunca antes entendido, que não somos um
mundo à parte.
A acuidade do coração de Deus vem com a
consciência da presença de Deus. Logo que Deus tome conta do nosso
coração, não há ninguém – nenhum filho de Deus, em nenhuma tradição, em
lado nenhum - que não tenha direito ao nosso coração, tal como tem
direito ao coração de Deus. Tornamo-nos guardiães dos nossos irmãos, o
melhor sustento das nossas irmãs. Os nossos corações e o coração de
Deus começam a bater em uníssono por toda a raça humana.
Usar a religião, ou a oração ou a contemplação ou
a procura de Deus, como desculpa para ignorar as necessidades do mundo
é uma blasfémia. Nega o próprio Deus, a quem se propõe anunciar.
Pratica a idolatria do eu e chama-lhe união com Deus. Torna a imersão
na oração mais importante do que os frutos da oração. Esta confusão tão
descarada faz, da própria oração, uma farsa.
Aqueles que procuram, verdadeiramente, a Deus
tornam-se mais sensíveis ao resto do mundo, porque se tornam, no dia a
dia, mais parecidos com o Deus que amam, com o Espírito que lhes dá
energia. Eles levam consigo, para que todos vejam, as exortações do
Deus que os impele a encontrar o Deus que vive neles e que, ao mesmo
tempo, os tira para fora de si próprios.
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* In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
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