Adolescentes de hoje se tornando sujeitos políticos em plena era da manipulação da informação -
Alessandra Orofino*Adolescentes de hoje não terão dificuldades em duvidar do que é falso, e sim em acreditar no que é verdadeiro
Tenho nada menos que três irmãos nascidos depois de 1999 —a famosa geração Z.
São os adolescentes de hoje, crescidos sob sucessivas administrações do
PT. Não por acaso, associam o establishment político quase
exclusivamente com a esquerda. Estão se tornando sujeitos políticos em
plena era da manipulação da informação.
Estão se tornando sexualmente ativos em plena era do nude e da
pornografia falsificada, capaz de colocar o rosto de praticamente
qualquer pessoa em cenas de pornô pesado, com verossimilhança
impressionante. Estão se tornando consumidores em plena era dos serviços
sob demanda —a entrega de comida que chega em 20 minutos, o carro que
chega em três.
É uma geração fascinante, ultraempreendedora,
politizada, e cada vez menos disposta a aceitar padrões rígidos de
comportamento. É também uma geração que terá que trabalhar duro para
construir um referencial de realidade factual sobre o qual possa
discutir saídas possíveis para um futuro incerto, ameaçado por mudanças
brutais na estrutura do trabalho, pelo colapso ambiental em escala
planetária, e pela política do ódio.
Engana-se quem acha que essa
dificuldade em discernir realidade e mentira se traduzirá simplesmente
na crença cada vez mais disseminada no que é falso. Os adolescentes de
hoje estão crescendo com as “fake news”.
Eles não terão dificuldades em duvidar do que é mentira. Sua maior
dificuldade será, justamente, em acreditar no que é verdadeiro.
Essa semana indiquei a amigos e familiares que doassem para os White Helmets
—uma organização civil voluntária que resgata pessoas presas em
escombros depois de bombardeios, na Síria. Eles foram o tema de um documentário que ganhou o Oscar no ano passado. O cinegrafista responsável pela obra não pôde comparecer à cerimônia porque
o governo sírio cancelou seu passaporte. Logo depois de fazer meu post,
amigos começaram a me alertar para supostas ligações entre os White
Helmets e organizações terroristas, além de financiamento suspeito. Fui
averiguar. E descobri que os White Helmets estão sendo vítimas de uma
enorme campanha de desinformação que parece ter entre seus principais
veículos o RT News, um site russo que continuamente publica informações falsas e apoiou a campanha de Donald Trump.
Claro que não dá pra ter 100% de certeza de que a organização é idônea.
Mas não encontrei nenhum artigo, vídeo ou post —entre dezenas— que
trouxesse evidências de seus supostos escândalos. Pelo contrário.
Publicações jornalísticas sérias em vários países já refutaram as
alegações. “Na dúvida”, disseram meus amigos, “é melhor não doar pra
eles”.
Na dúvida, veremos uma geração que duvida de tudo.
Inclusive do que é verdadeiro. O que é ainda mais perigoso do que
acreditar no que é falso. Nunca o papel do jornalista foi tão
importante, apesar do declínio da indústria. E nunca os jornalistas
foram confrontados a uma geração de leitores tão pouco disposta a
diferenciar propaganda de informação. Não é à toa que, em que pese suas
muitas qualidades, essa seja a geração que quer eleger Bolsonaro. Não
vai ser fácil convencê-la com fatos. Na dúvida, acredita-se em quem é
capaz de gerar mais identificação, empatia, e reforçar preconceitos
preexistentes. Uma combinação perigosa para uma juventude que, por
responsabilidade de gerações anteriores, terá que encarar a difícil
tarefa de salvar o mundo. E que talvez ainda não acredite que o mundo
precise —ou possa— ser salvo.
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