5 de
março de 2018
Por Dr. Gustavo Teixeira
Pais que superprotegem e que não dão limites
a seus filhos são o pano de fundo para o desenvolvimento da Geração
“Snowflake”, ou floco de neve como os americanos gostam de descrever. Os filhos
são descritos como seres únicos, frágeis e perfeitos, o que justificaria esse
excesso de zelo por parte dos pais para que suas autoestimas não sejam
machucadas.
Os filhos “flocos de neve” podem tudo, pois
são especiais demais para ouvir um “não”, são sensíveis, se ofendem por
qualquer coisa e logicamente há de se ter cuidado redobrado para não machucar
seus sentimentos, pois não queremos que fiquem tristes e deprimidos.
Nesse alicerce assombroso, temos a versão
tupiniquim dos “snowflakes”, a Geração Mimimi, que nasce com pais que acham um
absurdo a escola ranquear os alunos por desempenho acadêmico ou premiar apenas
os três primeiros colocados no campeonato de futsal, exigindo que o filho
receba a medalha de vigésimo oitavo colocado com a mesma pompa do campeão.
A infância e adolescência é uma fase de
proteção e cuidado, mas há de se diferenciar cuidado com superproteção.
Enriquecer a vida e o ambiente em que nossos filhos vivem é muito importante,
mesmo que tenham que se machucar, se frustrar, ficar tristes e sofrer.
Não há como manter os filhos em uma bolha
irracional objetivando que sejam poupados dos perigos inerentes da vida em
sociedade.
Para alguns pais, o excesso de zelo é amor,
mas também há de se evitar a confusão entre amor e culpa. Excesso de trabalho e
falta de tempo com os filhos têm servido de pano de fundo para uma preocupação
frenética com segurança. A incapacidade de criar oportunidades de convívio e
formar vínculos afetivos com a prole abre caminho para ceder a todos os desejos
da criança a fim de sanar sua culpa pela incapacidade e incompetência de
exercer a paternidade e maternidade.
Com o decorrer do tempo os problemas dessa
superproteção se tornam mais evidentes, pois o encarceramento social e
emocional imposto pelos pais acaba prejudicando muito a socialização ao impedir
a exposição dos filhos aos perigos da vida.
Segundo a educadora Julie Lythcott-Haims,
ex-reitora para calouros na Universidade Stanford, vivemos em um mundo onde os
“pais helicóptero” temem o futuro dos filhos em um mundo perigoso, violento e
com a economia ruim. Então eles se posicionam no sentido da superproteção: “sempre
estaremos aqui para você, meu filho, consertando tudo e sendo sua rede de
segurança emocional e financeira eterna”.
Desta forma, estamos criando uma geração de
egocêntricos, que acreditam que são especiais e que podem tudo. Daí eles
crescem achando que merecem ser premiados pelo simples fato de existirem, não
aprendem conceitos de ética, respeito, disciplina e de que para se conquistar
alguma coisa na vida é preciso lutar e trabalhar muito! Se tornam “soft”,
fracos, raquíticos e vulneráveis como um floco de neve.
Quando percebem que o mundo real não é aquele
ensinado pelo seus pais, já é tarde demais. Agora não basta apenas pedir para o
papai ou para a mamãe para terem seus desejos atendidos e como não aprenderam a
lidar com a frustração, nem aprenderam a lutar para conquistar algo na vida,
resta apenas reclamar e culpabilizar a sociedade ou o universo pelo seu
fracasso pessoal, profissional e emocional. Então vamos deprimir, pessoal!
Frente a esse padrão problemático de criação
parental fica fácil de entender que a Geração Mimimi agrega um número imenso de
jovens do grupo “nem-nem” (nem estuda e nem trabalha). Eis 2 exemplos
clássicos:
Exemplo 1: Luciano, 27 anos de idade, mora
com os pais, não trabalha, não estuda, fuma maconha o dia inteiro e o hobby
principal é postar críticas nas redes sociais contra o governo golpista que não
faz nada pela segurança pública para conter o avanço da criminalidade, a
violência urbana e o tráfico na favela. Ah, e a última que escutei semana
passada: a culpa é dessa sociedade conservadora e retrógrada que não aceita
descriminalizar a maconha, sendo esse o motivo principal da existência do
tráfico de drogas.
O floco de neve não percebe que financia o
crime organizado, que retroalimenta a violência urbana. Mas isso pouco importa,
pois é o orgulho do papai que tem o filho “inteligente e politizado”. Ah, papai
não se importa que fume maconha em casa, pois é mais seguro que o faça dentro
da fortaleza doméstica, afinal, a violência lá fora é grande e a maconha é
substância natural, inofensiva.
Exemplo 2: Daniela, 22 anos de idade, mora
com os pais, estuda em faculdade particular e reclama que não consegue ficar em
estágios por mais de 6 meses. Tem dificuldade em trabalhar em equipe, não
aceita crítica, não aceita ordens, se julga competente, mas considera que é
“perseguida” no estágio, pois é incompreendida por ser mais inteligente e
melhor capacitada que todos os colegas na empresa.
Daniela atrasa todos os trabalhos, comete
muitos erros e normalmente abandona os estágios antes de ser mandada embora:
“Muita pressão, não sou respeitada e não posso me estressar, quero qualidade de
vida”. Isso mesmo!!! 22 anos de idade e quer “qualidade de vida”,
trabalhar para que? Vamos para o colinho de papai e de mamãe, por favor!
Claro que a culpa disso tudo não é apenas do
Luciano ou da Daniela. Está claro que esses padrões de comportamento são as
únicas possibilidades esperadas e eles são reflexos de decisões e escolhas
malfeitas, embasadas em um alicerce pobre e rudimentar construído por seus pais
durante anos.
No caso da Daniela, ela é a soma de tudo que
aprendeu na vida. Seus pais nunca deram limite, nunca cobraram nada da filha e
a superprotegeram para que não sofresse nesse mundo cruel e machista!
Olha, a conta chega um dia, papai e mamãe…
não se pode colocar um filho sobre um pedestal, dentro de uma redoma de vidro e
achar que a filhota vai se dar bem na vida. Desta forma você não está
oferecendo ferramentas e habilidades para que ela crie asas e voe. Ao invés de
protegê-la, estás a condenar sua filha à infelicidade!
A vida é dura e tudo é uma questão de
merecimento. Para se conquistar algo tem que lutar, trabalhar muito. Com vinte
e poucos anos de idade é preciso ter sangue nos olhos e olhos de tigre para
vencer profissionalmente e emocionalmente.
Infelizmente, os jovens da Geração Mimimi são
grandes vítimas da incompetência e da arrogância de pais inábeis que desde
muito cedo cerceiam o direito e a possibilidade de desenvolvimento de seus
filhos.
Portanto, é preciso humildade para aceitar
que não é possível controlar as variáveis universais da vida. Sofrer não é um
sentimento bom, mas é preciso sofrer para que exista aprendizagem e
crescimento. Parcimônia e equilíbrio na hora de educar os filhos é fundamental
para que eles desenvolvam asas para voar… sem mimimi!
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* Dr. Gustavo Teixeira, M.D. M.Ed,
é psiquiatra da infância e adolescência e Diretor Executivo do CBI of Miami
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/voce-conhece-geracao-snowflake/
05/03/2018
Blog / Rodrigo Constantino
Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda
“politicamente correta”.
Texto muito bom. parabens!
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