terça-feira, 18 de janeiro de 2022

RUMAMOS PARA O FIM DA PANDEMIA?

Covid-19: como se determina o fim de uma pandemia

 

PEDRO HALLAL*

Estou otimista. O contexto é diferente do início da pandemia. Como as primeiras cepas eram mais agressivas, se tivéssemos deixado todo mundo se infectar, a pandemia poderia ter matado 3 milhões de brasileiros. Não dava para pensar em imunidade coletiva como estratégia. Então, surge a variante Delta, que assola o mundo inteiro, mas não o Brasil. E por quê? O País foi devastado pelas variantes anteriores. Muitos adquiriram algum grau de imunidade conferido por infecção prévia ou pela vacinação, e o número de casos e mortes despencou. Quando apareceu a Ômicron, muitos pensaram: ‘Voltamos à estaca zero’. Só que a nova variante tem características que podem ser o que precisávamos. A maioria deve contrair o vírus em curto espaço de tempo, mas sem desfechos graves. Teremos um grande contingente populacional com uma imunidade recente, gerada pela infecção, somado a outro de vacinados. Com isso, a doença se tornaria endêmica e nos aproximaríamos do fim da pandemia.”

*Epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas e professor visitante da Universidade da Califórnia, coordena o Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre Coronavírus no Brasil.

 

MIGUEL NICOLELIS*

“Não existe nenhuma indicação, baseada no perfil da Ômicron, que possa dizer que a pandemia esteja no fim. Essas declarações são baseadas em ‘pensamento de coach’, em autoajuda. Ninguém tem um dado seguro, um modelo matemático claro a prever esse cenário. De repente, pode aparecer uma mutação na Indonésia muito mais grave e letal. Não tem como prever, porque o vírus não segue uma trajetória ­linear. Os especialistas mais renomados que conheço deixaram muito claro que não faz sentido falar em fim da pandemia neste instante. Essa narrativa de que a Ômicron é branda foi abandonada pela OMS. Qualquer organismo que consegue infectar 3 milhões de pessoas em 24 horas não é brando nem leve. Discutir se vai virar endemia não ajuda em nada. Estamos no meio de uma guerra, na trincheira. O debate prioritário é: que medidas podemos tomar, além da vacinação, para quebrar a transmissão de casos o mais rápido possível e não deixar boa parte da humanidade ser infectada? Esse é o objetivo central.”

*Neurocientista, professor do Departamento de Neurobiologia da Duke University (EUA) e ex-integrante do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1191 DE CARTACAPITAL, EM 13 DE JANEIRO DE 2022.

Fonte: https://www.cartacapital.com.br/saude/o-inicio-do-fim/

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