Jon Fosse e David Grossman
O escritor brasileiro Paulo Scott é um dos 13 finalistas do International Booker Prize, um dos mais prestigiados prêmios literários no mundo, para livros de ficção escritos originalmente em língua não inglesa e publicados no Reino Unido. Ele concorre com o romance "Marrom e amarelo", de 2019, que na tradução para o inglês feita por Daniel Hahn recebeu o título de "Phenotypes" ("fenótipos").
O romance conquistou críticas positivas de jornais como "The New York Times" e "The Guardian".
– Penso que a indicação do livro é resultado desse trabalho muito bem produzido pela editora e desse contexto de descentralização da literatura contemporânea, uma fragmentação desse eixo forte que estabelece entre Londres, Nova York e outras cidades que figuram com mais destaque no mercado editorial – diz Scott.
Entre os escritores nomeados, há autores consagrados internacionalmente, como a polonesa Olga Tokarczuk (por "The books of Jacob"), vencedora do Nobel de Literatura e do próprio International Booker Prize, ambos em 2018; o norueguês Jon Fosse (por "A new name: septology VI-VII"); e o israense David Grossman (pela tradução inglesa de "A vida brinca comigo"), laureado com o International Booker Prize em 2017 pelo romance "O inferno dos outros".
Paulo Scott nasceu em Porto Alegre, em 1966. Escritor e professor universitário, publicou doze livros. Recebeu os prêmios Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional, APCA, Açorianos de Literatura, entre outros, e foi finalista de prêmios como Jabuti e prêmio São Paulo de Literatura. Vive atualmente em São Paulo.
O júri da edição de
2022 é presidido pelo tradutor Frank Wynne e composto pela autora e
acadêmica Merve Emre, pela escritora e advogada Petina Gappah, pela
escritora e humorista Viv Groskop e pelo tradutor e escritor Jeremy
Tiang.
A seleção dos autores que concorrem ao prêmio, que oferece o valor de 50 mil libras ao vencedor (dividido entre escritor e tradutor), foi feita a partir de 135 obras, um número recorde de candidaturas. Em 2021, o laureado foi o romancista francês David Diop, com o livro "De noite todo o sangue é negro". Em 2016, o brasileiro Raduan Nassar foi semifinalista ao prêmio (pelo livro "Um copo de cólera") ao lado de autores como Elena Ferrante e José Eduardo Agualusa.
A lista de finalistas do Man Booker Prize Internacional de 2022 será anunciada no dia 7 de abril. O trabalho vencedor vai ser revelado em 26 de maio. A seguir, confira a lista com os 13 autores semifinalistas selecionados ao prêmio:
- Fernanda Melchor (México), por "Paradais";
- Mieko Kawakami (Japão), por "Heaven";
- Sang Young Park (Coreia do Sul), por "Love in the big city";
- Norman Erikson Pasaribu (Indonésia), por "Happy stories, mostly";
- Claudia Piñeiro (Argentina), por "Elena knows");
- Violaine Huisman (França), por "The book of mother";
- David Grossman (Israel), por "More than I love my life";
- Paulo Scott (Brasil), por "Phenotypes" (originalmente publicado como "Marrom e amarelo");
- Jon Fosse (Noruega), por "A new name: septology VI-VII";
- Jonas Eika (Dinamarca), por "After the sun";
- Geetanjali Thapa (Índia), por "Tomb of sand";
- Olga Tokarczuk (Polônia), por "The books of Jacob";
- Bora Chung (Coreia do Sul), por "Cursed bunny".
Livro aborda 'hierarquia cromática'
Publicado no Brasil em 2019 pela Alfaguara, selo da Companhia das Letras, "Marrom e amarelo" é narrado por Federico, um cientista social e militante antirracista, pesquisador da "hierarquia cromática entre peles, da pigmentocracia" brasileira.
Quando um novo governo assume, Federico é convocado a participar de uma comissão idealizada para discutir soluções para o "caos que, de súbito, tinha se tornado a aplicação da política de cotas raciais para estudantes no Brasil" – na história, diante das denúncias de brancos se autodeclarando pardos, o governo passa a apoiar a criação de um software que avaliaria fotos dos candidatos e concluiria quem era suficientemente preto, pardo ou indígena para obter o benefício das cotas.
O pai e o irmão de Federico têm a pele retinta, a mãe dele dizia que eram uma família negra, mas ele têm a pele clara, passa por branco com facilidade e, desde criança, desviava dos insultos racistas que atingiam o irmão. Por não ser nem preto nem branco o suficiente, herdou "um imenso não lugar pra gerenciar"
A questão do "colorismo", muito presente no livro, chamou a atenção dos críticos estrangeiros, acredita Scott.
- Eu imagino que a questão da identidade da América é pouco esmiuçada, aprofundada - diz ele. - E tem uma curiosidade geral do mundo, dos leitores e leitoras para conhecer isso que é um espaço de muitos tabus. A gente não percebe que está mergulhado nessa doença coletiva. Mas imagino que esse cenário do colorismo é distante até para nós (brasileiros).
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