Elaine Tavares*
Foto:
República Dominicana e Haiti dividem a mesma ilha no Caribe.
Primeira etapa do muro terá 54 quilômetros e custará um bilhão de
pesos. Será um misto de concreto e estrutura metálica, com 19
torres de vigilância e 10 portas de acesso, que contarão com
patrulha armada. Reprodução.
Os Estados Unidos seguem
sendo o maior exemplo para o mundo, principalmente no que diz
respeito ao combate à pobreza que é criada pelos seus governos,
sucessivamente. A técnica sempre é a de combater o
empobrecido e não a pobreza em si. Por isso, desde há décadas
fortalecem suas fronteiras com o restante da América Baixa usando
soldados fortemente armados e muros. A ideia é não permitir a
entrada das hordas de desesperados e famintos que fogem dos seus
países acossados pelas políticas impostas por eles, evitando assim
que essa gente reivindique seu quinhão. A exceção é com os cubanos
que desistem de viver no socialismo. Esses são recebidos com
honras e ainda recebem casa e trabalho.
A ideia de muro foi
reproduzida também em Israel, seu parceiro econômico e político.
Lá, os sionistas invadem o território palestino e vão erguendo
imensos muros para controlar a entrada e a saída dos verdadeiros
donos das terras, impondo humilhação e violência. Quilômetros e
quilômetros de concreto que eles julgam ser capaz de deter a fome de
liberdade. Não detém! Assim como os muros da fronteira
estadunidense não conseguem deter os desesperados que sonham
em viver no tal “mundo livre”.
Pois agora um pequeno país do
Caribe decidiu adotar o mesmo exemplo dos EUA e apostar na construção
de muro para impedir a entrada dos desesperados. É a República
Dominicana, que faz fronteira com o Haiti. Essa semana o
presidente Luis Abinader iniciou – com pompa e circunstância –
essa infâmia contra os vizinhos. O muro terá uma primeira etapa de
54 quilômetros e custará um bilhão de pesos. Será um misto de
concreto e estrutura metálica, com 19 torres de vigilância e 10
portas de acesso, que contarão com patrulha armada.
Esta obra
terá sequência num segundo momento quando serão investidos outros
tantos milhões em tecnologia inteligente, com sensores de
movimentos, câmeras de segurança e drones de alta capacidade. O
total do muro será de 173 quilômetros, praticamente a metade da
linha de fronteira que soma 391 quilômetros. O presidente diz que a
medida é para evitar o tráfico de drogas e armas e controlar o fluxo
migratório intenso. Atualmente vivem mais de 500 mil haitianos
no país.
É sempre importante lembrar que o Haiti é um país
devastado desde 2004 quando os Estados Unidos decidiram depor o
presidente democraticamente eleito e impuseram uma invasão que
eles chamam de “ocupação humanitária”. Com soldados das Nações
Unidas, liderados pelo Brasil, teve início mais um ciclo de desgraça
para o povo haitiano, tudo para “manter a ordem” da desordem causada
pelo imperialismo estadunidense. Ou seja, a mesma velha
fórmula: eles desestabilizam para depois anunciarem a
estabilização que só gera mais desestabilização e
dependência.
Pois a ação dos soldados das Nações Unidas no
Haiti gerou exatamente o esperado e hoje, depois de anos ocupando o
país, a tal da Minustah deixou o Haiti ainda mais destroçado, sem um
governo capaz de conduzir os destinos da nação de maneira
soberana e autônoma. O que resta são os títeres, muitos deles
mergulhados em corrupção, que vão engordando suas contas
bancárias com a ajuda internacional que apesar de generosa não
se expressa na vida dos haitianos. Por isso mesmo muitos deles
encontram na fuga desesperada a saída para sobreviver. E a
República Dominicana, por estar ali, ao alcance dos pés, é a
primeira opção. Mas, em vez de acolher os irmãos que coabitam a
mesma ilha, a resposta é o muro. E tem a aprovação de grande parte da
população.
Conforme anunciou o presidente Abinader, a
República Dominicana seguirá tendo relações comerciais com o
Haiti, mas “não podemos tomar para nós a responsabilidade sobre a
instabilidade política que ali existe e tampouco resolver seus
problemas”. Outros políticos locais afirmam que o muro pode mandar
uma "boa e poderosa mensagem" ao mundo, fazendo com que os demais
países ajudem o Haiti. Que estranha solidariedade.
Pelo que
se sabe, ao rememorar a história dos muros, não há registros de
que eles suscitem ajuda. O muro dos Estados Unidos segue sendo a cova
de milhares de latino-americanos todos os anos, o muro de Israel é a
prova viva do horror e outros tantos muros nas fronteiras só servem
para oprimir e causar sofrimento. Não é surpreendente lembrar que
apenas a queda do muro de Berlim tenha sido tão esperada e saudada.
Alguém arrisca explicar por quê?
* Jornalista. Colaboradora do Instituto de Estudos Latino-americanos da UFSC.
Fonte: https://www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/14947-um-muro-na-republica-dominicana
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