Marcello Dantas*
O amor pela vida é conhecido por ‘biofilia’, termo usado para explicar o desejo inato dos seres humanos de se conectar com a natureza.
Na história da arte, obras que representam elementos inanimados, naturais ou não, isolados de seu contexto original, são conhecidas por Natureza Morta. Essas obras costumam ser comportadas e previsíveis.
Por outro lado, o amor pela vida é conhecido por “biofilia”. Esse termo tem sido usado para explicar o desejo inato dos seres humanos de se conectar com a natureza. É resultado da nossa crescente preocupação com o meio ambiente e com a busca por um acolhimento orgânico em um mundo cada vez mais sintético. A expansão da consciência dada pela nossa maior conexão com o mundo natural é uma das mais importantes fronteiras para as gerações contemporâneas.
Várias iniciativas pelo mundo vêm tentando experimentar novas relações criativas de colaborações entre espécies, materiais vivos que aceitem transformações e degradação através do tempo, processos biodinâmicos que incluam a regeneração como modelo mental. O design biofílico apresenta possibilidades para criação de objetos, arquitetura e experiências que valorizam a observação da natureza em sua construção – vale lembrar que, esta semana, o arquiteto africano Diébédo Francis Kéré levou o maior prêmio da arquitetura, o Pritzker, mantendo-se atento à relação de suas obras com o meio ambiente.
Esse campo da ciência envolve redesenhar organismos para fins úteis, projetando-os para que tenham novas habilidades. Pesquisadores e empresas de biologia sintética no mundo estão aproveitando o poder da natureza para resolver problemas na medicina, na manufatura e na agricultura. Ela pode se manifestar, por exemplo, na produção de carne sem matar o animal ou no armazenamento de grandes quantidades de dados em DNA.
Surge uma imagem de futuro cujo limite entre o nosso corpo e o mundo digital desaparece. Em vez de drones, insetos poderão carregar big data
Se voce é um desses céticos que me acha um ludita em querer falar sobre colaboração entre espécies, ouça Amy Webb. Numa das apresentações mais concorridas do South by Southwest (SXSW), o maior festival de inovação, tecnologia e criatividade no mundo, a veterana do Future Today Institute apresentou as mais recentes e inovadoras pesquisas na área. A biologia sintética permitirá que, em um futuro próximo, armazenaremos massas de dados dentro do DNA de pessoas e animais, ou mesmo, poderemos gerar vida para ser uma especie de disco rígido. Surge uma imagem de futuro cujo limite entre o nosso corpo e o mundo digital desaparece. Ao invés de drones, podemos ter insetos carregando big data através de fronteiras incontroláveis.
Como disse Tristan Harris, autor do documentário “O Dilema das Redes”: “Estamos vivendo em uma era em que as emoções são paleolíticas, as instituições são medievais e a tecnologia é como se fosse de Deus”. Este descompasso entre discurso, tecnologia e subjetividade se apresenta como o maior obstáculo para um futuro harmônico em sociedade. Uma sociedade que inclua suas várias naturezas, inclusive as que um dia foram consideradas mortas.
O desafio hoje se apresenta muito mais nos campos da psicologia e da legislação, para que elas possam alcançar ou limitar os avanços da ciência. Algo que traz à tona aspectos éticos que não temos precedentes para interpretar. Admirável mundo novo, de novo.
*Marcello Dantas trabalha na fronteira entre a arte e a tecnologia em exposições, museus e projetos que enfatizam a experiência. É curador interdisciplinar premiado, com atividade no Brasil e no exterior
Imagem da Internet
Fonte: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/marcello-dantas/natureza-viva/?utm_medium=Email&utm_source=NLGama&utm_campaign=MelhorGama
Nenhum comentário:
Postar um comentário