Por Juliana Barcellos de Souza
Por Juliana Barcellos de Souza*
O pacto que nosso herói faz na obra de
Odisseia, ele decide quando está em plena consciência o que fazer para
poder atender ao seu desejo sem correr riscos.
O Pacto de Ulisses foi um “combinado” com a sua tripulação para que
ele pudesse “matar a sua curiosidade” e ouvir o canto das sereias, mas
sem comprometer a vida de sua equipe.
Ele sabia que se ouvisse o canto das sereias seria atraído e isso o
levaria à morte. Ele próprio não confiava em sua habilidade para tomar
uma decisão esclarecida quando estivesse ouvindo o tal canto.
Para impedi-lo de mudar de idéia, o pacto contou com a ajuda de sua
equipe: ele orientou sua tripulação a tapar os ouvidos (com cera de
abelha) e prendê-lo bem firme ao mastro do navio. Apesar de se contorcer
e lutar contra ele próprio, atravessa ileso e extremamente fatigado
pelo recanto das sereias.
O curioso nessa história é que Ulisses, nosso herói, sabia que ele
mesmo não seria “confiável” em sua tomada de decisão dentro daquele
ambiente com o sedutor canto das sereias.
Eu adoro essa aventura, pois ela ilustra como nosso cérebro é
dinâmico e podemos cair em armadilhas influenciadas pelo meio ambiente
em que estamos.
Quantas vezes você já percebeu isso?
Aquela história de “cai de novo na armadilha, … briguei/ calei”
Peguei a isca e me dei mal.
Parece que eu não aprendo?
Calma aí!
Não é exatamente uma questão de aprendizado, mas é essa interação
entre partes emocionais, cognitivas e corporais (somáticas) do nosso
cérebro.
Não somos máquinas, não temos um botão para ligar e desligar nossa emoção ou definir nossa ação.
Somos complexos e dinâmicos. Reconhecer isso é aprendizado,
Além de não nos julgar por “cairmos na armadilha do contexto”,
podemos nos preparar para essas situações, buscar por gatilhos
(expressões, acessórios, …) para nos ajudar a nos “controlar” ou nos
segurar como fez Ulisses no mastro do navio.
Nessa busca por protagonismo em saúde, às vezes a gente desanima,
parece que nos esforçamos tanto mas não percebemos mudanças. A sensação
pode ir além do desânimo, ela pode envolver até a falta de amparo, …
“parece que ninguém poderá me ajudar”.
Defende-se muito a importância da sua disciplina para manter a
saúde, temos uma lista gigantesca de deveres: desde alimentação, sono,
até pensamentos …são tantas informações, que chegam a ser exaustivas e
hoje em dia podem facilmente entrar no grupo daquela “positividade
tóxica”. Tudo em excesso faz mal! Muito mal!
A disciplina é importante,
Definir momentos para “se segurar” como Ulisses fez
Reconhecer momentos de pedir ajuda
Mas para tudo isso é preciso dar um passinho para trás, observar o
que vem pela frente e estabelecer qual ajuda precisamos naquele momento.
Isso tudo é quase fácil de ouvir e é muito difícil de fazer. Eu
sei, e não estamos sozinhos, muitos estudos também concordam conosco:
quando estamos cansados é mais difícil tomar uma decisão, fazer uma
escolha, ponderar prós e contra.
Quanto mais cansados, mais vulneráveis estamos e mais seduzidos
pela necessidade básica de recuperar energia, por isso que é mais
difícil resistir ou mais difícil não “cair na armadilha” às vezes até
chamam de auto-sabotagem.
Aquela famosa gula do fim do dia… pode ser uma busca por energia,
algo que satisfaça seu esforço do dia,… quando estamos mais cansados é
mais difícil resistir e seguir a disciplina que desejamos.
Por isso a importância de nos prepararmos como Ulisses.
Que tal aumentar esse nível de energia fazendo um Pacto com você mesma ou você mesmo?
* Responsável pelo ambulatório de Fisioterapia Dor Reumática no HU/UFSC (2015-atual)
Fonte: https://desacato.info/pactuar-consigo-mesmao-por-juliana-barcellos-de-souza/#more-286234 23/03/2022
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