segunda-feira, 13 de maio de 2013

Olhar nos olhos

 Fábio Henrique Prado de Toledo
 

A revolução tecnológica que marca a nossa era tem muitos efeitos positivos. Muitas tarefas que décadas atrás demandavam muito tempo e esforço, hoje se resolvem num clique. Paradoxalmente, contudo, as pessoas se sentem cada vez com menos tempo. E, se não estivermos atentos, isso pode ter como consequência o empobrecimento das relações familiares.

A criança, sobretudo na primeira infância, tem uma necessidade muito grande de experimentar o amor dos pais pela afetividade. Sabemos que o amor não se resume a um sentimento. É muito mais que isso e se manifesta também na vontade de querer o bem da pessoa amada, bem como na capacidade de se sacrificar pelo outro. Apesar disso, nos primeiros anos de vida, o afeto desempenha um papel fundamental na vida dos nossos filhos.

Nessa idade eles ainda não possuem uma noção clara de tempo. Sequer sabem o que significa “estou atrasado”, “tenho um compromisso importante” etc. Pelo contrário, gostam que estejamos atentos ao que nos dizem, ainda que nos pareça sem importância. Muitas vezes é necessário sabermos nos abaixar para falamos olhando nos olhos, ou ainda pegá-los no colo e, nessa posição, ouvi-los atentamente. Enfim, que sintam no calor de um abraço quanto os amamos.

É certo que muitas vezes fazemos isso. No entanto, também com muita frequência, perdemo-nos da correria do dia a dia e deixamos essas manifestações de afeto apenas para quando algo interior nos abrasa e então queremos “comê-los de beijos”. Porém, com o ritmo frenético e as preocupações cotidianas, esses impulsos são cada vez menos constantes. Por isso, é necessário estarmos atentos e nos esforçarmos para que essas demonstrações de afeto sejam diárias e sinceras.

Devemos considerar, também, que as pessoas são muito diferentes. Assim, para alguns pais é mais fácil que a outros manifestar a afetividade. Apesar disso, o amor por nossos filhos manifesta-se muito especialmente no esforço por nos superarmos, fazendo algo que nos custa, precisamente porque os amamos.

Mas há, também, um dado oposto. Ou seja, algumas mães e pais são pródigos em fazer carícias, mas nem sempre se empenham em educar, que é igualmente demonstração de amor e sincero interesse pela felicidade dos nossos filhos. A correção não é incompatível com o carinho.
Podemos corrigir, com energia às vezes, mas de uma maneira afetuosa, com respeito e desejo de que se comportem adequadamente para o bem deles.

Gostaria de terminar novamente com o relato de um acontecimento muito marcante. O pai chegou a casa, mal cumprimentou a esposa e os filhos e foi para o escritório para continuar um trabalho que era muito urgente. Passados uns minutos, o filho, muito acanhadamente, aproximou-se da porta do escritório e disse: “Pai, posso fa...”. “Filho, já disse que tenho um trabalho muito importante, vai deitar que já está na hora”, disse o pai, sem esperar que o filho completasse a frase. O filho obedeceu, porém, passada cerca de meia hora, retornou: “Pai, posso fazer apenas uma pergunta?”. “Fala logo”, respondeu o pai, sem parar o que estava fazendo. “Quanto é que você ganha por hora de trabalho”. O pai ficou meio desorientado, mas, para se livrar logo da importunação, respondeu sem pensar muito: “Não sei, filho, acho que uns R$ 50,00”.

Com a resposta o filho foi para o quarto. Mas agora, curioso com a pergunta, o pai foi até o quarto do filho. Lá chegando, notou que ele tinha várias notas de pequeno valor e um saquinho com muitas moedas. E então o pai lhe perguntou: “Filho, por que deseja saber quanto ganho por hora?”. Então o filho disse ao pai: “É que faz dois meses que estou juntando esse dinheiro. Tenho agora R$ 47,50. Se eu te der o dinheiro, dá para o senhor ficar 57 minutos comigo?”.
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*  Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 
E-mail: fabiohtoledo@gmail.com
 Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/05/colunistas/fabio_toledo/58201-olhar-nos-olhos.html

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