Anselmo Borges*
Agora, é preciso reflectir no que aí vem. Afinal, que queremos fazer de bom para nós, para a família, para a Humanidade? Olhando para o país, vai haver eleições, e como avançaremos quando pensamos na situação da Saúde, da Educação, da Justiça, da corrupção, nas manchas intoleráveis de pobreza, e quando, depois de milhões e mais milhões e mais milhões... de euros da União Europeia, continuamos na cauda da Europa? E vai haver eleições na Europa, e o que vai acontecer, pensando concretamente nas eleições dos Estados Unidos da América? E as eleições em Taiwan, com todas as consequências? No contexto de um mundo cada vez mais multipolar, com ambições várias de domínio imperial global, com mais de dois terços da Humanidade a sofrer de desigualdade crescente e de pobreza, que vai acontecer neste nosso mundo insano, com guerras brutais em curso e a ameaça da catástrofe?
Somos cada vez mais interdependentes e, por isso, como repete o Papa Francisco, ou nos salvamos todos ou nos perdemos todos. Assim, os países celebram o Dia da Independência Nacional; pergunta-se, na linha da sugestão do filósofo Peter Sloterdijk: não é urgente um pacto global, assinado por todos, sobre a Dependência Global, com um dia no ano para se celebrar, sempre com mais consciência, precisamente o Dia da Dependência Global?
De qualquer modo, avançamos na esperança, porque o ser humano é um ser constitutivamente esperante, apesar da dureza e brutalidade toda com que a vida nos foi confrontando. Como escreveu Nelson Mandela: “A esperança é uma arma ponderosa e nenhum poder no mundo pode privar-me dela.” Sim. Por que é que os homens e as mulheres, apesar de todos os fracassos, horrores, sofrimentos e cinismos, ainda não desistiram de lutar e de esperar? Por que é que continuamos a ter filhos? Por que é que depois de guerras destruidoras e terramotos devoradores, recomeçamos sempre de novo? Perguntava, com razão, o célebre teólogo Johann Baptist Metz: “Por que é que recomeçamos sempre de novo, apesar de todas as lembranças que temos do fracasso e das seduções enganadoras das nossas esperanças? Por que é que sonhamos sempre de novo com uma felicidade futura da liberdade”, embora saibamos que os mortos não participarão nela? Por que é que não renunciamos à luta pelo Homem novo? Por que é que o Homem se levanta sempre de novo, “numa rebelião impotente”, contra o sofrimento que não pode ser sanado? “Por que é que o Homem institui sempre de novo novas medidas de justiça universal, apesar de saber que a morte as desautoriza outra vez” e que já na geração seguinte de novo a maioria não participará nelas? Donde é que vem ao Homem “o seu poder de resistência contra a apatia e o desespero? Por que é que o Homem se recusa a pactuar com o absurdo, presente na experiência de todo o sofrimento não-reparado? Donde é que vem a força da revolta, da rebelião?”
Neste movimento incontível, ilimitado, do combate da esperança, pode
ver-se um aceno do Infinito, um sinal de Deus. Como se não cansava de
repetir o ateu religioso Ernst Bloch: “Onde há esperança, há religião.”
Aliás, quem se lembra de que 2024 é-o por referência à data do
nascimento de Jesus?
*Padre e professor de Filosofia.
Fonte: https://www.dn.pt/7479010138/de-2023-para-2024-tensoes-e-esperanca/
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