Se alguém quisesse seguir as estrelas para encontrar o caminho, como se conta que aconteceu há mais de 2 mil anos, confundi-las-ia provavelmente com as bombas israelitas. A véspera de Natal foi uma das noites mais sangrentas desde o início dos ataques. 166 civis palestinianos foram assassinados entre a véspera e o dia de Natal, quase 400 ficaram feridos. Uns e outros somam-se à conta macabra de mais de 20 mil mortos e 54 mil feridos desde 7 de outubro, quase todos em Gaza.
Perto de dois milhões de palestinianos foram expulsos de suas casas, mais de cem funcionários da ONU foram mortos, quase uma centena de jornalistas perderam a vida sob os bombardeamentos do exército israelita. Todos os dias se enterram crianças retiradas sem vida de baixo dos escombros.
Contra a mudez e este horror ilimitado, contra a duplicidade e o preconceito, falemos. De paz, de soluções políticas, de justiça contra a ocupação. Do direito de todos, sem excepção, a serem hóspedes do mundo
Não têm sido poupados hospitais, nem escolas, nem igrejas, nem mesquitas, nem campos de refugiados. Não há alimentação, nem medicamentos. Nem há para onde ir. É um colapso humanitário a acontecer perante os olhos do mundo. Um genocídio diante de nós, com a cumplicidade da maior potência do mundo, que tem bloqueado as resoluções sobre o cessar-fogo na ONU. Nem os apelos desesperados de Guterres nem as súplicas do Papa para que cessem as operações militares têm valido.
A ofensiva israelita continua, construída sobre a falsidade escandalosa de que há uma solução militar para o conflito no médio oriente. Acrescentando a mais de meio século de ocupação ilegal dos territórios palestinianos e a 75 anos de violação do direito internacional a carnificina em curso. Sem sanções, impune perante a comunidade internacional, com a passividade da generalidade dos governos.
“Como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas?”, perguntou também o Papa no dia de Natal, indagando sobre o dinheiro público destinado a armamentos e sobre “os interesses e os lucros que movem as tramas das guerras”. Quem os tem denunciado, combatido, boicotado? Quanto o temos feito? Com que profundidade e eficácia?
Contra a mudez e este horror ilimitado, contra a duplicidade e o preconceito, falemos. De paz, de soluções políticas, de justiça contra a ocupação. Do direito de todos, sem excepção, a serem hóspedes do mundo.
Artigo publicado em expresso.pt a 27 de dezembro de 2023
* Dirigente do Bloco de Esquerda, sociólogo.
Fonte: https://www.esquerda.net/opiniao/la-onde-jesus-nasceu/89065
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