Escrito por Delania Santos*
Passamos a maior parte do tempo no trabalho, e é natural que surjam interações sociais que culminem em um relacionamento amoroso. Mas quando o amor transcende as regras da empresa ou as fronteiras do profissionalismo, surgem desafios que podem prejudicar a vida pessoal e a carreira profissional. Como equilibrar a dinâmica dos relacionamentos amorosos no trabalho?
Relacionamentos amorosos no ambiente de trabalho podem criar conflitos de interesse, prejudicando a objetividade do ambiente de trabalho. Um gerente que se relaciona com uma subordinada, especialmente quando são casados, pode comprometer a confiança da equipe. Se o relacionamento é informal e esse relacionamento der errado, pode gerar retaliação ou acusação de assédio sexual e ainda afetar o bem-estar dos envolvidos e, consequentemente, o clima organizacional. Como exemplo, cito um caso de domínio público, que até hoje está gerando uma grande repercussão e envolve um ex-diretor de TV. Em entrevista, em um determinado momento, ele admitiu que seu único erro foi ter tido esse envolvimento sendo o gestor das pessoas envolvidas.
Por outro lado, conheço histórias bem-sucedidas de casais que trabalham juntos e colaboram de forma eficaz no ambiente corporativo, compartilhando ideias e trabalhando em projetos conjuntos. A combinação de habilidades de ambos os parceiros pode ser vantajosa para a empresa e para progressão de suas carreiras, mas tais ganhos dependem do nível de maturidade dos envolvidos e de como essa situação for conduzida.
O mais complicado é quando há conflito de interesses, ou seja, um gestor com uma subordinada, especialmente quando são casados, ou com uma gestora de um setor “cliente”, como, por exemplo: relacionamento entre o gestor de compras e a gestora comercial, ou, ainda, relacionamento de um gestor com um cliente ou fornecedor. Seja qual for a situação, esse texto visa trazer algumas reflexões para sua tomada de decisão, caso esteja vivendo algo semelhante.
Mas afinal, é certo ou errado?
Neste caso não existe certo ou errado, devemos considerar o código de conduta da empresa, os interesses envolvidos e a transparência com a gestão direta. Já atendi um casal que se conheceu no trabalho, a empresa proibia este tipo de relacionamento e um deles teve que decidir sair para preservar as regras previamente estabelecidas. Se a empresa não possui regras claras sobre o assunto, o ideal é informar ao líder para manter a relação de confiança. Informar é importante também para evitar boatos e uma exposição desnecessária das pessoas envolvidas.
Nem sempre, as pessoas se envolvem porque não estão comprometidas com as normas internas, portanto, devemos considerar alguns pontos relevantes quando analisamos esta situação. Funções que tenham uma carga horária intensa estimulam relações deste tipo, pois o ambiente organizacional se torna o único espaço ou o principal meio de interação social. Neste caso, a empresa precisa analisar o seu formato de trabalho, suas normas e criar um ambiente onde o diálogo seja estimulado. Independentemente da situação, todos os envolvidos devem zelar por sua reputação profissional, enquanto a empresa precisa definir estratégias para manter a ética profissional no ambiente de trabalho e preservar o clima organizacional.
O que fazer para preservar a ética profissional no ambiente de trabalho?
Empresa – é essencial que a empresa tenha um regimento interno ou um código de conduta com orientações claras sobre como as pessoas devem se portar caso isso aconteça; quais são seus direitos e deveres; e quais serão as punições para comportamentos inadequados dentro das instalações da empresa (namoro durante o horário de trabalho; beneficiamento indevido; entre outros). Tudo isso visando a nortear RH e líderes para a tratativa de situações como esta. Esse material deve ser acessível a todos os funcionários e aplicado de maneira justa e consistente.
É importante também que o RH ofereça treinamentos em comunicação assertiva e gestão de conflitos para ajudar os funcionários a lidar com questões pessoais de maneira construtiva, especialmente para a equipe de gestores.
Proibir relacionamentos amorosos, sem regras internas claras e especialmente nos dias de hoje, não é adequado. A interpretação dada ao artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal, permite inferir que nenhuma empresa pode impedir o namoro entre colegas de trabalho, pois isto viola a intimidade e a vida privada dos colaboradores. Embora não possa ser proibido, normas são bem-vindas, e uma vez que o funcionário é informado sobre a política interna do empregador e aceita o vínculo empregatício, deve se comportar em conformidade.
Caso isso aconteça, é recomendado que o gestor de recursos humanos, ou alguém preparado para essa intermediação, converse com o casal envolvido para explicar os cuidados que eles deverão ter com a discrição e o que deverá ser evitado dentro do ambiente de trabalho. Dentre algumas opções, a empresa pode optar por transferir um dos envolvidos para outro setor ou filial, por exemplo.
Casais que trabalham juntos e mantêm um relacionamento amoroso devem adotar certos cuidados para garantir uma convivência saudável:
- Manter a discrição, separando de maneira clara a vida pessoal da vida profissional para assegurar respeito e integridade.
- Evitar demonstrações públicas de carinho e afeto no local de trabalho, preservando o ambiente profissional.
- Abster-se de compartilhar informações confidenciais sobre a empresa ou colegas entre si.
- Lidar com divergências de forma saudável, sem comprometer o ambiente de trabalho.
- Se um dos parceiros ocupa posição hierárquica superior, evitar favoritismos e, especialmente, a partilha de informações estratégicas restritas ao líder.
A História de José e Ana
José trabalhava há mais de três anos na empresa X, atuava como gestor comercial, e, recentemente, conheceu uma assistente recém-contratada para a equipe comercial. Mesmo conhecendo as políticas internas que proibiam relacionamento amoroso no ambiente de trabalho, aos poucos se aproximou da sua nova colega de trabalho.
Com o tempo, os dois iniciaram um relacionamento amoroso e demorou pouco tempo para que os comentários começassem. Com a ilusão de que estavam conseguindo esconder o envolvimento, não comunicaram a situação ao gestor.
Durante um dia normal de trabalho, José foi convidado para uma conversa com o líder, durante a qual foi informado de que já era de conhecimento da Diretoria o relacionamento que ele tinha com sua colega. Como tinha mais tempo no emprego, pediu ao gestor que sua namorada permanecesse na empresa e preferiu pedir demissão.
Hoje, José e Ana são casados e têm dois filhos. São gratos por terem se conhecido na empresa que trabalhavam. Ana acredita que a decisão do José foi acertada e que naquele momento seria mais fácil para ele encontrar outra oportunidade de trabalho.
Essa história teve um final feliz, mas nem sempre é assim! Conheço outros relatos que envolvem frustração e problemas na carreira. Seja como for, o importante é a transparência. Se você está envolvido amorosamente com alguém do seu ambiente de trabalho, comunique ao seu gestor. É o melhor caminho! Se a empresa “proíbe” este tipo de envolvimento, comunique ao seu gestor, igualmente. Pode ser que sua postura ética faça com que a empresa amenize a tratativa. O bom senso é sempre bem-vindo. Evite agir por impulso e pense bem antes de dar um passo adiante. Isso pode acontecer, mas há muitas variáveis que precisam ser administradas. Pense sobre isso!
* Mestra em administração, mentora de Liderança e Gestão, especialista em carreira e master coach. Escreve semanalmente sobre carreira, liderança, coaching e mercado de trabalho.
Fonte: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/opiniao/colunistas/delania-santos/relacionamento-amoroso-no-trabalho-desafios-e-etica-profissional-1.3470434
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