A maior prisão de Santiago do Chile, já com 180 anos de história, tem nas centenas de felinos que vagueiam por ali preciosos aliados. Não só combatem as pragas de roedores, como ajudam a regular o comportamento dos 5600 reclusos, oferecendo-lhes amor, afeto e aceitação.
O pátio estava um caos, apinhado de gente para uma partida de futebol entre reclusos, no entanto, estes cederam educadamente passagem às mulheres. Em breve, apareceram homens a embalar gatos nos braços tatuados a descer as escadas ao longo do pátio, passando os animais para os voluntários através das grades da prisão. Numa das passagens, Denys Carmona Rojas, 57 anos, um recluso que está a cumprir oito anos por porte ilegal de arma, acariciou uma ninhada de gatinhos numa caixa. Contou que tinha ajudado a criar muitos felinos na sua cela, relembrando um caso em que tivera de alimentar uma ninhada com suplemento para gatos porque a mãe deles morrera no parto.
“Dedicamo-nos ao gato. Cuidamos dele, mantemo-lo debaixo de olho,
damos-lhe amor”, afirmou, sorrindo para exibir a falta dos dentes
incisivos.
Tal como para os reclusos, as condições de vida dos gatos
variam conforme a secção da prisão. Durante um período de recreio numa
das áreas mais lotadas, onde 250 prisioneiros partilham 26 celas, os
reclusos encheram uma passagem estreita, com roupas a secar por cima da
cabeça e gatos a deambular entre os seus pés.
Eduardo Campos Torreblanca, que está a cumprir três anos pelo crime de roubo agravado, informou que todas as celas cuidavam de, pelo menos, um gato, mas que o seu gatinho havia morrido recentemente. “Era minúsculo, um bebé. Alguém o pisou”, afirmou.
Quando os voluntários chegaram pela primeira vez em 2016, encontraram quase 400 gatos, um número que não engloba as ninhadas de gatinhos nem uma grande colónia de felinos que vive, praticamente, no telhado. Atualmente, esse número tem vindo a diminuir gradualmente.
Porquê? Por exemplo, pensemos em Nuñez, o condenado por assalto a quem faltam dois anos para cumprir a sua sentença. Quando sair em liberdade, o que vai acontecer à sua gata, Feia? “Isso é fácil”, afirmou. “Vem comigo”.
Autor: JACK NICAS
Este artigo foi publicado originalmente em The New York Times.
Fonte: https://www.dn.pt/4766360532/os-gatos-inundaram-a-prisao-em-seguida-os-reclusos-apaixonaram-se/
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