NA
ORIGEM DE TUDO - Stephens: evidências de que o palavrão cria
solidariedade e é tão antigo quanto a própria linguagem Russell Sach/.
Especialista ganhou destaque em uma área que se dedica a entender os benefícios do palavrão; termos banidos dos dicionários polidos estão autorizados
Por que o senhor decidiu estudar os efeitos do palavrão? Quando
minha filha nasceu, minha mulher xingou horrores para extravasar a dor
do parto. Isso me fez refletir cientificamente: por que é tão comum a
dor vir acompanhada de palavrões?
E a que resposta chegou? Ficou claro que o
uso do palavrão aumenta a resistência à dor. Fiz um experimento com meus
alunos para cronometrar quanto tempo eles resistiam com as mãos
mergulhadas em um balde cheio de gelo. Os que reagiam com expressões
neutras aguentavam significativamente menos que os que desfiavam
palavrões.
Qual é a explicação fisiológica para isso? O
xingamento produz uma resposta emocional no organismo humano,
evidenciada pelo aumento da frequência cardíaca. Quando a pessoa fala
palavrão, o corpo entende que está sob ataque e se condiciona para o
modo “lutar ou fugir”. Esse stress leva a um estado de analgesia, o que
alivia a dor.
Suas pesquisas detectaram outros efeitos positivos? Os
estudos mostram que os palavrões contribuem para a prática de
exercícios que envolvem força. Xingar ajuda a relaxar a mente e, sob
esse efeito psicológico, o desempenho atlético melhora. Numa outra
frente, que analisa o impacto social do uso dessas expressões,
descobriu-se que elas podem ser úteis à arte da persuasão. Palestrantes
que salpicam de palavrões seus discursos são percebidos como mais
honestos. As pessoas que xingam com frequência, por sua vez, parecem
mais espontâneas. Além disso, os palavrões tendem a criar certa
solidariedade entre grupos sociais, aproximando colegas de escola ou
trabalho, por exemplo.
Há palavrões mais eficientes que outros? Aqueles
considerados mais fortes demonstraram ao longo da pesquisa ter maior
impacto no alívio da dor e na alta do desempenho físico. Um exemplo:
percebemos que “f…-se” surte mais efeito que “m….”.
O Homo sapiens é o único animal que xinga? Não.
Sabemos que chimpanzés também são bons de palavrão. Ao serem
apresentados pelo homem à linguagem de sinais, esses primatas aprenderam
a associar o sinal de sujeira ao ato de fazer suas necessidades.
Espontaneamente, porém, eles começaram a atribuir um sentido pejorativo
ao gesto e a utilizá-lo como insulto. Esse é um indicativo de que os
palavrões podem estar entre nós desde que a linguagem existe.
Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664
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Fonte: https://veja.abril.com.br/saude/xingar-faz-bem-a-saude-diz-psicologo-britanico-richard-stephens/
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