Em preparação à primeira edição da Jornada Mundial das Crianças, programada para 25 e 26 de maio, em Roma, o jornal vaticano L’Osservatore Romano publica uma série de testemunhos do Hospital Gemelli da capital italiana.
Uma vida que nasce é um mistério a ser explorado: em um momento, depois de tanta espera, uma criança aparece ao mundo; em seguida, crescerá e irá para a escola; experimentará amargura e satisfação, esperanças, sonhos, decepções; trabalhará e talvez até seja pai ou mãe num amanhã. Tudo isso nasce em um único momento, no instante em que a criança é separada do ventre da mãe, ou melhor, para ser preciso, a partir do momento em que o cordão umbilical que a ligava à mãe até recentemente é cortado. Em uma única palavra: esse é o milagre da vida.
A viagem de descoberta ao mundo dos pequenos que o L’Osservatore Romano propõe em vista da primeira Jornada Mundial da Criança – convocada pelo Papa Francisco para 25 e 26 de maio deste ano – começa daqui: de onde tudo inicia. Na tentativa de entender melhor esse evento prodigioso, entramos no local escolhido para que esse “milagre” acontecesse: uma ala de obstetrícia de um hospital.
Roma, Policlínica Universitária ‘Agostino Gemelli’, ala de obstetrícia e patologia obstétrica, um centro de excelência, um ponto de referência para todo o centro e sul da Itália: cerca de 4.200 nascimentos registrados em um ano, 1.500 admissões para gestações de alto risco, 10 mil admissões na ala de emergência.
Já no início da manhã, tudo está pronto para receber mulheres e homens que logo serão mães e pais. “Acolher é o verbo mais importante. As mulheres que nos procuram para dar à luz devem, antes de tudo, se sentir bem-vindas”, explica Rosanna Miccoli, coordenadora de enfermagem da sala de parto do ‘Gemelli’: “o momento do parto é muito delicado e sempre traz consigo um certo medo. É um momento lindo, mas ao mesmo tempo assustador. Será que tudo vai correr bem? Haverá problemas durante o parto? Essas são as perguntas que a maioria das mulheres faz a si mesma quando vem para cá. Dar à luz um bebê para uma parteira”, ela enfatiza, “significa sempre enfrentar um momento de grande emoção e, ao mesmo tempo, de grande responsabilidade: a parteira tem consciência de que está ajudando um bebê a vir ao mundo e também tem consciência de que está dando à luz a uma nova família, ou seja, está dando à luz, junto com o bebê, a um novo papel que é o de mãe e pai”.
Há muitas histórias que se entrelaçam e é fascinante ouvi-las contadas por mulheres que são mães. O plural é imprescindível, pois um novo nascimento é sempre um esforço de equipe. Roberta Di Battista, dirigente do serviço de enfermagem de reabilitação técnica empresarial, participou de muitos partos e explica que “cada parto é único, cada situação é diferente das outras”, porque “cada vida é única”. Assim, cada mulher tem sua própria história por trás, como descreve Serena Imperatori, coordenadora de enfermagem da Unidade de Patologia obstétrica, que ressalta que, “além dos partos em que as condições de saúde da mãe ou do bebê não apresentam problemas, há muitos que envolvem situações complexas e difíceis. Há muitas mães que sofrem de doenças oncológicas ou cardíacas, por exemplo. Diante dessas situações delicadas, no entanto, o milagre da vida assume o controle: “na grande maioria dos casos, tudo acaba bem”, explica o professor Antonio Lanzone, diretor da Unidade Operacional Complexa de Obstetrícia e Patologia Obstétrica da mesma instituição de saúde romana. Lanzone se surpreende com o fato de que, sempre que essas situações surgem, todas as mães pensam “apenas na vida do feto, sempre colocando a vida da criança acima da sua própria”.
O caso mais recente e impressionante é o de uma mulher cujo coração não tem o ventrículo direito, a parte do músculo cardíaco que empurra o sangue para os pulmões em busca de oxigênio. Por causa dessa patologia específica, aos 4 anos de idade, ela foi submetida a uma única operação para reconstruir um sistema de circulação alternativo, conhecido como Fontan, que leva o sangue das veias cavas diretamente para os pulmões, sem passar pelo coração. Essa menina recentemente se tornou mãe de gêmeos. Existem apenas quatro casos no mundo de nascimentos de gêmeos de mães com corações univentriculares e circulação de Fontan.
Diante dessa história e das inúmeras que esse departamento pode contar, ficamos em silêncio, em um assombro contemplativo que lembra muito a maravilha nos olhos de uma criança. Um verbo simples e natural, o de “nascer”, e ainda assim, por trás dele, um vasto significado – como Lanzone nos lembra – porque “ele contém a história da humanidade: bilhões de vezes o homem e a mulher decidiram nascer, continuar a nascer, renascer cada um em sua própria vida. E esse nascimento é o emblema de toda uma jornada que significa aceitar até o fim o desafio da vida com suas inseguranças e, portanto, com sua beleza”, conclui o médico.
Fonte: https://ideeanunciai.wordpress.com/2024/04/16/rumo-a-jornada-mundial-das-criancas-diante-do-milagre-da-vida/
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