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Por CLAUDIA DREIFUSA neurocientista cognitiva Ellen Bialystok passou quase 40 anos estudando como o bilinguismo aguça a mente. A doutora Bialystok, 62, uma destacada professora de pesquisa de psicologia na Universidade York em Toronto (Canadá), recebeu o prêmio Killam, de US$ 100 mil, no ano passado por suas contribuições para a ciência social. Leia abaixo uma versão editada de nossa conversa.
P. Por que a senhora começou a estudar o bilinguismo?
R. Quando terminei a graduação, em 1976, havia falta de empregos no Canadá para doutores. O único cargo que encontrei foi em um projeto de pesquisa que estudava a aquisição de uma segunda língua por escolares. Não era minha área. Mas era bastante próxima.
P. E o que exatamente a senhora encontrou nesse caminho inesperado?
R. Enquanto fazíamos nossa pesquisa, vimos uma grande diferença na maneira como as crianças monolíngues e bilíngues processavam a linguagem. Se você desse a crianças de cinco e seis anos problemas de linguagem para resolver, as crianças monolíngues e bilíngues sabiam mais ou menos a mesma quantidade de língua. Mas, em uma questão, havia uma diferença. Perguntamos a todas as crianças se uma certa frase ilógica estava gramaticalmente correta: "As maçãs crescem dos narizes". As crianças monolíngues não conseguiam responder. Elas diziam: "Isso é besteira" e empacavam. Mas as crianças bilíngues, em suas próprias palavras, diziam: "É besteira, mas é gramaticalmente correto". Descobrimos que as bilíngues manifestavam um sistema cognitivo capaz de abordar a informação importante e ignorar a menos importante.
P. Como isso funciona?
R. Existe um sistema em nosso cérebro, o sistema de controle executivo. É um gerente. Seu trabalho é mantê-lo enfocado no que é relevante, enquanto ignora distrações. É o que torna possível você manter duas coisas diferentes na mente ao mesmo tempo e mudar entre elas. Se você tem duas línguas e usa esses idiomas regularmente, o modo como as redes do cérebro funcionam é: cada vez que você fala, as duas línguas aparecem, e o sistema de controle executivo tem de organizar tudo e dar conta do que é relevante no momento. Portanto, os bilíngues usam mais esse sistema, e esse uso regular torna o sistema mais eficiente.
P.Uma das suas últimas descobertas surpreendentes é que o bilinguismo ajuda a evitar os sintomas do Alzheimer.
R.Os adultos mais velhos bilíngues se saíram melhor que os monolíngues em tarefas de controle executivo. Examinamos os registros médicos de 400 pacientes de Alzheimer. Em média, os bilíngues mostraram sintomas de Alzheimer cinco ou seis anos mais tarde do que aqueles que falavam só uma língua. Isso não significa que os bilíngues não tivessem Alzheimer. Significa que, conforme a doença se enraizava em seus cérebros, eles conseguiam continuar funcionando em um nível mais alto.
P.O bilinguismo ajudaria em multitarefas?
R.Sim, as multitarefas são uma das coisas que o sistema de controle executivo manipula.
P.Muitos imigrantes preferem não ensinar a seus filhos sua língua nativa. Isso é bom?
R.Existem dois motivos principais para que as pessoas transmitam sua herança linguística para os filhos. Primeiro, ela conecta as crianças com seus ancestrais. A segunda é minha pesquisa: o bilinguismo é bom para a pessoa. Torna o cérebro mais forte. É exercício para o cérebro.
-------------------Fonte: Folha on line, The New York Times. 13/06/2011
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