terça-feira, 28 de junho de 2011

Os crente e a elite cultural: o paradoxo da diversidade

Newton Cannito*

A elite cultural brasileira não gosta dos “crentes”. Afinal eles não são o “brasileiro tipico” do imaginário cultural brasileiro. Crente não leu Gilberto Freyre.
Para a elite cultural o brasileiro tipico seria: alegre, malandrinho, meio músico, curte samba ou funk e a mulher é gostosa e trepa bem.
A elite cultural queria que o pobre fosse a imagem do pretinho alegre da escravidão. Mas para tristeza da elite os pobres estão é virando crente mesmo.
A elite adora diversidade cultural e o crente não curte tudo.
Para a elite umbanda é “uma cultura linda”. Para um crente a umbanda é magia mesmo. Crente acredita em umbanda, a elite acha uma tradição super bonita e que tem músicas ótimas.
Para a elite o pobre ideal é tropicália: ele circula, é diverso, tem contato com a cultura popular e de preferência tem sexualidade ambígua e libertária.
A elite gosta de pobre com estilo. Pobre sem estilo é chato.
O trabalho ideal para o pobre é a cultura. Fazer arte para se distrair e nos divertir. Se fizer isso a gente contrata.
No ponto de vista da elite “crente é chato” . Afinal ele não usa roupa colorida, não é uma maquina de sensualidade e nem esta disponível sexualmente para o patrão.
A elite cultural defende a diversidade cultural em tudo. Exceto com crente. Com eles não vale, pois “eles são chatos, feios, sem graça. E anti-diversidade”.
Parodoxo da diversidade: a diversidade tem que estar presente em todos? Ou a diversidade inclui pessoas que não querem a diversidade dentro de si?
A diversidade cultural deve incluir pessoas anti-diversidade?
Tem sentido alguém como eu, que gosta da diversidade, querer impor a diversidade a quem não quer ter a diversidade na sua vida? Impor diversidade, não seria contradição em si?
Ter preconceito com quem não é a favor da diversidade não seria uma atitude que contraria aos princípios da diversidade?
Ou seria melhor eu entender que quem não gosta da diversidade, ajudará a compor um panorama diversificado de cultura?
Uma coisa é fato: já é hora da elite cultural parar de ter preconceito com os “crentes”, parar de chamar eles de “crentes” e ver que sob o título genérico e preconceituoso de “crente” existe, na verdade, uma vasta gama de diversidade religiosa popular que – no mínimo – expressa necessidades culturais e espirituais de nosso povo. No mínimo.
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* Newton Cannito http://www.doutorcaneta.blogspot.com
Cineasta e escritor. Foi Secretario do Audiovisual do Ministério da Cultura.
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