KEVIN DELANEY*
Greta Garbo - Imagem da Internet
LENTE
Greta Garbo só queria ser deixada a sós. Durante décadas, ela não concedeu entrevistas, não fez nenhuma manobra para atrair publicidade e escondeu-se da perseguição implacável dos paparazzi. Mas a mística da atriz esquiva só se intensificou, quanto mais ela guardava silêncio.
Como escreveu Ben Brantley no jornal "The New York Times", "é claro que a democracia tecnológica de hoje conspiraria para pôr um fim rápido e brutal à fascinante semi-invisibilidade que Garbo soube conservar tão bem".
De fato, uma imensa rede de sites que difundem fofocas 24 horas por dia, blogs de fãs, tabloides e tuítes dos próprios astros e das próprias estrelas alimenta a avassaladora fome mundial por notícias, boatos e meias-verdades sobre celebridades. Como informou o "Times", o fluxo de receita do setor de fofocas, por si só, passa de US$ 3 bilhões por ano.
O foco das atenções não está nas celebridades que fazem o bem, como Bono e Bill Gates, que combatem a fome. O fascínio é suscitado por atores aberrantes, políticos dissolutos e colapsos nervosos de celebridades, alimentados pelas drogas.
No mês passado, dois sites de fofocas rivais, Radar e TMZ, travaram uma guerra após a revelação de que o ex-governador Arnold Schwarzenegger tinha tido um filho com sua empregada.
Algumas pessoas alimentam as fofocas com sua própria publicidade negativa. Michael Lohan, pai da atriz Lindsay Lohan, fez da atividade de comentar sobre os problemas de sua filha um emprego em tempo integral.
E, como relatou o "Times", quando a polícia de Southampton, Nova York, acusou Lohan de molestar sua noiva, no ano passado, o pai da atriz pareceu explorar seu próprio escândalo. Uma pessoa próxima a ele disse ao jornal que Lohan estava decidido a desencadear uma guerra de lances entre o TMZ e o Radar.
"O que se procura fazer é monetizar essa situação", disse a pessoa. "O que se quer fazer é obrigá-los a pagar pela exclusividade."
Como escreveu Brantley, referindo-se a celebridades: "A teoria parece ser que, se você nunca se calar, ninguém se esquecerá de você". Isso não facilita a vida para agentes de imprensa das celebridades ou, como um publicitário de Hollywood gosta de chamá-los, "agentes de supressão".
Neste ano, os agentes publicitários do cantor Chris Brown e do ator Charlie Sheen deixaram de trabalhar para seus clientes. No caso de Brown, a separação se deu após acesso de raiva do cantor. Quanto a Charlie Sheen, as diatribes embriagadas do ator, seus tuítes não filtrados e seu comportamento surreal desafiaram a capacidade de suavização do publicitário mais habilidoso.
"Se alguém não entende o valor de uma imagem pública que precisa ser administrada ou estudada, não há nada que se possa fazer", disse ao "Times" o executivo de marketing de Hollywood Terry Press.
Enquanto isso, algumas celebridades apostam que a obsessão voyeurística com suas vidas vá se estender para suas mortes.
A rede NBC pagou US$ 1,5 milhão por um filme que documentou a batalha da atriz Farrah Fawcett contra um câncer de cólon terminal. O filme foi ao ar em 2009. Mas, depois de Fawcett ficar enfraquecida para conseguir aprovar a versão final, facções opostas travaram uma batalha pelo controle criativo do filme.
Tudo isso está muito distante da sempre misteriosa Garbo, cujo corpo foi cremado em segredo em 1990. Mas suas cinzas só foram sepultadas em seu país natal, a Suécia, em 1999, e somente depois de uma batalha prolongada para decidir sobre seu local de descanso final ter atraído atenção global.
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* The New York Times
Fonte: Folha on line, 13/06/2011
Envie seus comentários para o e-mail nytweekly@nytimes.com
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