Dentro do velho sistema em colapso, e numa civilização em risco, surgem também sinais de uma nascente
lógica da generosidade
A meditação pública coletiva está no filme Occupy Love.” Foi lançado há um mês em mais de 80 países. Exerga,
nas mobilizações sociais contemporâneas, caminhos para organizar o
mundo com base no compartilhamento — não na ganância”, conforme nota texto em Outras Palavras. Vem sendo legendado e exibido de forma colaborativa e gratuita pelo mundo. Pelo site oficial é possível comprar uma cópia por dez dólares.
Mais Amor, Por Favor.
Cartazes anônimos surgiram de repente nos muros de São Paulo,
recordando o Profeta Gentileza. Antes, o amor já chegara à obstetrícia,
ao descobrir-se que quando a gente beija, faz amor, dá à luz, amamenta o
corpo produz “hormônios do amor” – em particular um neuropeptídeo
chamado ocitocina, que alimenta nossa capacidade de amar.
Qualquer maneira de amor. Descoberto em 1909, pelo poder de estimular o útero e a glândula mamária, pouco depois já estava sintetizado e passou a ser usado, pragmaticamente, para apressar parturientes. O filme Renascimento do Parto
pergunta o que será dessa espécie, que, submetida à ocitocina
sintética, pode desaprender a segregar os hormônios do amor – e denuncia
a indústria da cesariana, de que os médicos e hospitais são apenas a
ponta.
Na última década,
pesquisas foram além. Conhecida por seu papel na criação do vínculo
entre mãe e filho, a ocitocina foi considerada pela neuroeconomia a cola social de famílias e comunidades. Ao inundar o sistema nervoso de amor, estaria irrigando com confiança a sociedade e de prosperidade a economia.
Chovem exemplos. Moedas
locais são puro amor, e já chegam a uma centena pelo Brasil. Pode um
gesto mais amoroso que dar crédito à criatura para o gás do almoço, a
compra do mês, o aluguel – na base da confiança, olho no olho? Creative
Commons é economia da generosidade. Copyleft, doação incondicional.
Crowdfunding então? Economia solidária, feira de trocas, FIB –
Felicidade Interna Bruta. São pilares de um paradigma econômico e social
nascente – um despertar, uma Primavera! Embrião de uma economia do
amor.
Estamos reinventando
nossos modos de viver e nos relacionar, dar e receber – em busca da
justa contribuição para exprimir gratidão. Ousemos nos colocar num campo
de abundância – especialmente em tempos de escassez.
Mire-se no espelho da Mãe Natureza, recomenda a biologia.
“Tudo que os organismos naturais fazem para saciar suas necessidades –
comer, respirar, acasalar – contribui de alguma forma para a fertilidade
do habitat em que vivem. Os dejetos dos animais adubam o solo, o
dióxido de carbono que expiram é usado pelas plantas na fotossíntese. A
vida criou um sistema generoso e essa é a razão pela qual esse material
genético existe há 10 mil gerações. A única forma de garantir o futuro
de nossos filhos, netos e bisnetos é cuidar do lugar em que vão viver.
Tem de aprender a ser generoso. É o que a vida faz.”
Tempo de sintonizar o chacra do coração.
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Por Inês Castilho
Fonte: http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/2013/05/30/cronica-sobre-a-economia-do-amor/
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