Foto publicado no jornal Japan Today mostrando barracos perto da
estação de Shibuya, no Japão, onde dormem
pessoas sem casa, num dos
melhores bairros de Tóquio
Muitos imaginam que num país desenvolvido como o Japão, os
problemas dos marginalizados não são graves, mas existem nos jardins
públicos muitos idosos que só possuem o que podem transportar nas suas
sacolas, como também acontece em grandes metrópoles dos países
desenvolvidos na Europa e Estados Unidos.
Para quem tem problemas de ajustamento dos fusos horários como eu,
quando viaja para o Japão, acordando de madrugada e vendo os jardins de
Tóquio, estranha os muitos idosos perambulando com uma sacola onde estão
todos os seus pertences. Também nos corredores das estações de metrô,
eu notava muitos deitados sobre papelões ou uma simples coberta. Muitos
amigos japoneses me explicavam se tratar de pessoas que assim viviam por
opção, separados dos seus familiares, me deixavando muito triste com
aquela dura realidade.
Mas também em cidades como Londres ou Nova York notava as chamadas
sacoleiras que assim viviam. Ou bandos destas pessoas viciadas em drogas
em algumas regiões daquelas grandes metrópoles, semelhante com os que
se veem em São Paulo nas proximidades da Sala da Osesp. Fica-se com o
sentimento de que fracassamos como seres humanos, incapazes de atender o
mínimo indispensável para honrar os demais desfavorecidos.
Não consigo imaginar uma solução adequada para este problema. Muitos
procuram ignorá-lo como se não existisse. Parece coisa dos séculos
passados, que não estaria mais ocorrendo em pleno ano de 2017. Somos
capazes de nos emocionarmos com as vítimas no Oriente Médio com suas
guerras incompreensíveis ou com migrantes desesperados que se arriscam a
morrer no Mediterrâneo com seus filhos e nos indignar vendo decisões de
povos que se posicionam contrários a estas correntes. Os problemas
estão ocorrendo também nas nossas proximidades, ao mesmo tempo em que a
distribuição de renda vem piorando sensivelmente nos últimos anos.
De um lado, temos parlamentares defendendo os privilégios dos marajás
do Legislativo, do Judiciário, das estatais que são responsáveis pelos
monstruosos déficits como da previdência social, ameaçando os
desgraçados que mal conseguem aposentadorias que cheguem a um salário
mínimo que sem as reformas nem isto terão para sobreviver. Ninguém está
notando que o problema não está sendo atacado nas suas verdadeiras
causas?
Preferimos fingir que estamos avançando, ignorando os pobres coitados
que estamos deixando pelo caminho… E nos queixamos de jovens idealistas
que se revoltam com estas situações, mas propondo soluções que só
pioram a disponibilidade de bens para atender a todos. É duro explicar
que só podemos tentar a resolver parte dos problemas com investimentos,
aumento da eficiência e muito, muito trabalho mesmo.
-------------------
Paulo Yokota |economista brasileiro (dupla nacionalidade japonesa), ex-professor da
USP, ex-diretor do Banco Central do Brasil, ex-presidente do INCRA.
Viveu e trabalhou nestas regiões. Foi comissário do governo brasileiro,
temporariamente, na Expo Tsukuba 85. Supervisionou os escritórios de
uma trading brasileira na Ásia. Viajou para lá mais de uma centena de
vezes. Percorreu por lugares mais afastados de alguns destes países de
ambas as regiões. Tem alguns livros publicados e centenas de artigos
escritos sobre o intercâmbio entre estas regiões. Fez parte de alguns
Conselhos que cuidaram deste intercâmbio, inclusive para o século XXI.
Procura estar sempre atualizado sobre a Ásia. Viajou e trabalhou também
pela Europa e a América do Norte, acumulando elementos para
comparações. Ele contará com a colaboração de outros amigos com a
vivência e experiência similares.
FONTE: http://www.asiacomentada.com.br/2017/03/difcil-acreditar-que-isto-ocorre-no-japo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário