Por Afonso Pessoa
“Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde”. (G. K. Chesterton)
Redação (16/09/2023 16:47, Gaudium Press) O romance “1984”, do escritor inglês George Orwell, é um exemplo do que o sistema pode fazer com a mente de um ser humano. Constantemente vigiado pelo “Grande Irmão” (Big Brother), e recebendo ordens sobre como agir, o personagem chega a um ponto que começa a duvidar da realidade, num mundo em que um governo totalitário persegue o individualismo e a liberdade de expressão como crime de pensamento.
É claro que, na sociedade atual, não atingimos tal extremo, mas há momentos em que as pessoas perdem a noção sobre o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e o feio e, com isso, vão perdendo também o seu entusiasmo, a sua autenticidade, o senso de realidade e, se não se cuidarem, correm o risco de perder a própria sanidade, porque poderão ser convencidos de que tudo é relativo.
Ditadura ideológica
Ser um cristão católico hoje em dia não é visto com bons olhos por vários setores da sociedade. Discordar de ideologias que são impostas como corretas, necessárias e verdadeiras ou, mesmo sem discordar, apenas questioná-las, já é tido como algo fora do tom, e logo vem a patrulha da ditadura ideológica com aquela enxurrada de impropérios: fanatismo, extrema-direita, fundamentalismo, ignorância, absolutismo e por aí afora.
Vivemos numa sociedade na qual se defende direito de tudo, inclusive – e quase principalmente – os direitos dos animais, em detrimento dos seres humanos, pois em muitos lares e locais, os bichos são tratados muito melhor do que se tratam pessoas. No entanto, só não é defendido o direito intrínseco de se discordar do quer que seja.
É preciso escolher entre um e outro?
Para dar um exemplo mais claro e sem muita embromação, vamos comparar a questão com uma discussão entre dois grupos de torcedores de times de futebol. Um defende com unhas e dentes que o seu time é o melhor, o outro não deixa por menos e usa todos os argumentos para mostrar que o melhor é o seu.
Parece não haver opção. Temos o time azul e o time roxo, e os adeptos de um e de outro tentam fazer parecer que não existe outra possibilidade que não seja escolher um dos dois. Ou seja, se você não gosta do azul, é porque é do lado roxo e, se não gosta do roxo, é porque é do lado azul. E quem não escolhe nem um dos lados sequer é ouvido e passa a constituir uma minoria absoluta, incômoda e desrespeitada.
No entanto, além, do roxo e do azul, existe uma possibilidade óbvia: alguém que não goste de futebol e, por isso, se sinta no direito de não escolher nenhum dos dois. Mas diga isso e prepare-se para ser enxovalhado, desacreditado, “cancelado”, como agora virou moda se dizer e fazer.
A diferença entre uma pedra e uma flor
A frase com a qual abri este artigo, do também escritor inglês G. K. Chesterton, ilustra bem esse ponto de vista que tento defender, pois vivemos numa época em que tudo parece ser relativo e muitos defendem que algo é de um jeito ou de outro, dependendo do ponto de vista, o que é uma das afirmações mais absurdas e ridículas que se pode fazer. Afinal, uma pedra é uma pedra e uma flor é uma flor e não há ponto de vista que altere isso. E tal condição se aplica a muitas outras coisas.
Ainda citando Chesterton, que foi um homem muito firme, e, consequentemente, muito polêmico, ele dizia que “o mundo está dividido entre conservadores e progressistas. O negócio dos progressistas é continuar cometendo erros. O negócio dos conservadores é evitar que erros sejam corrigidos”. Mas podemos completar seu raciocínio repetindo que, entre uns e outros, há aqueles que não gostam de futebol, portanto, não escolhem nem o roxo e nem o azul.
Vivendo num campo minado
Uma das coisas mais desgastantes que existe na vida é tentarmos provar nossos pontos de vista àqueles que, já sabemos de antemão, estarão predispostos a discordar de quaisquer argumentos, por mais lógicos e embasados que estejam.
No âmbito religioso, que, para mim, é o campo que deveria despertar maior interesse nas pessoas, posto que somos espíritos eternos confinados na matéria passageira, há uma diversificada gama de ataques, de um credo a outro e de fora e de dentro de um mesmo credo. O que indica que, sendo um homem cristão, ou uma mulher cristã, estaremos sempre andando em um campo minado, correndo o risco de pisar em uma bomba a qualquer momento.
Já questionaram se devemos nos referir a Deus no masculino, defendendo que a oração do Pai-Nosso se torne Mãe-Nossa ou que se use pronome neutro para se referir a Deus. Já questionaram se Jesus realmente foi crucificado, se Ele ressuscitou ou até mesmo se Ele existiu.
E quando uma ideia é muito martelada, as mentes mais sensíveis passam a questionar se não estariam erradas, se não estariam se deixando enganar por uma ilusão e, com essa pusilanimidade, acabam crucificando Nosso Senhor Jesus Cristo novamente, rodando como baratas tontas, sem saber a que vento seguir.
Mesmo que não queiram, a grama continuará verde
E, não se enganem, nos anos vindouros, se tornará cada vez mais difícil ser cristão, ser católico, defender a Igreja de Cristo sobre a Terra. É provável que, mesmo os mais resistentes, de tanto tentar provar ao mundo que a grama é verde poderão acabar se cansando e se rendendo ao inimigo comum.
A melhor solução talvez seja manter acesa a chama da fé, uma fé ardente e simples; e, ainda que tentem nos convencer de que a grama não é verde ou que talvez nem seja grama, ao olhar para o campo, sorriremos interiormente pela certeza de que o que Deus fez o homem jamais poderá mudar, e que dia chegará que veremos a Jerusalém Celeste descendo do Céu. Então, todas as coisas serão restituídas aos seus verdadeiros lugares.
Portanto, católicos, avante sempre, de rosário na mão e a cruz diante dos olhos, pedindo humildemente, todos os dias de nossa vida, no meio desta luta sem tréguas: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso!”
Fonte https://gaudiumpress.org/content/sera-que-tudo-e-relativo/
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