Rodrigo Constantino*
Janeiro foi um mês particularmente
violento. Um homem de 63 anos foi morto por uma granada na rua. Um
estudante holandês foi atingido por uma bala perdida numa pizzaria. Uma
granada de mão foi lançada num apartamento e explodiu na cozinha, num
subúrbio dominado por imigrantes. Outra granada foi jogada em uma
delegacia de polícia. Essas coisas aconteceram no Rio? Na Síria? Nada
disso: na Suécia!
Como mostra Paulina Neuding nesse texto
da The Spectator, os crimes violentos estão disparando no “paraíso
progressista”. A Suécia é um ícone da esquerda, como o experimento
socialista que deu certo. Não é exatamente socialista, pois mantém boa
parte da economia livre. E tampouco deu certo, pois a área cultural, sob
controle dos “progressistas”, assim como o “welfare state” e a
imigração descontrolada estão cobrando elevado preço aos suecos.
A violência está em alta, com tiroteios à
luz do dia. Na última década, tentativas de assassinato envolvendo
armas quase dobraram. De acordo com a polícia, ataques com granadas de
mão, virtualmente inexistentes há alguns anos, não encontram paralelo em
países que não estão em guerra civil. Essas granadas, apelidadas de
“maçãs”, entram no país pela Iugoslávia, e são vendidas por baixo preço
no mercado negro.
Segundo a polícia de Estocolmo, por
cerca de mil dólares é possível comprar cinco armas automáticas com
munição, e leva de brinde umas 60 granadas dessas. Para quem quiser
apenas a granada, algo como cem euros resolve. A polícia descreve as
granadas como uma tendência entre as gangues na Suécia. Mesmo assim, as
autoridades não costumam ser muito francas sobre a situação no país.
A razão? O grosso dessas gangues tem
ligação com os imigrantes, naquelas regiões que as autoridades chamam de
“áreas vulneráveis”. A guerra entre gangues, portanto, serve para
lembrar do fracasso da política imigratória sueca, que foi frouxa
demais, muito “liberal”. Isso é um problema grave para um país que se
orgulha de ser uma “superpotência humanitária”. Muitos políticos estão
aprisionados no autoengano do politicamente correto, e se recusam a agir
para efetivamente enfrentar a crise.
A
vacilação do primeiro-ministro mostra o que acontece quando você não
integra os imigrantes e, em vez disso, tolera a criação de uma sociedade
dentro de uma sociedade: a polícia não consegue proteger ou reunir o
conhecimento adequado dessas novas comunidades cheias de pessoas que
tendem a não falar o idioma nacional. Representantes do estado sueco –
paramédicos, assistentes sociais e até bibliotecários – são confrontados
com agressão.
A
elite refém, em sua bolha “progressista”, quer “ajudar” os criminosos,
pois considera que é “duro” ser um marginal. Trata-se de uma abordagem
“soft”, para dizer o mínimo, e típica de quem, até então, estava
blindado, protegido do caos. Mas a bandidagem tem se aproximado da
elite. Nas últimas semanas, crianças do subúrbio rico de Nacka foram
vítimas de assalto por gangues de mascarados. Crianças com menos de dez
anos foram roubadas sob a ameaça de facas. Estamos falando da Suécia,
não vamos esquecer.
Já
nas regiões com predominância de imigrantes a coisa saiu do controle
mesmo. Em Gothenburg, crianças saíram com seus professores para
protestar já em 2014 contra a violência das gangues, após quase uma
dúzia de tiroteios em poucos meses na área. Eles chegaram a escrever uma
carta aos criminosos, tentando sensibiliza-los, mostrando que estavam
perdendo aulas por conta da violência. Talvez as crianças cariocas
possam dar umas aulas de realismo aos suecos.
No
entanto, apesar do esforço, dois anos depois uma granada de mão
explodiu ao lado da escola, matando o menino britânico Yuusuf Warsame.
Depois de seu assassinato, uma professora disse: “É terrível dizer, mas
estamos começando a nos acostumar”. Novamente, os brasileiros podem
ensinar muita coisa nesse sentido. Em tais bairros, esta é a trágica realidade: as pessoas estão crescendo aclimatadas à violência.
Como
a autora conclui, eles podem se dar ao luxo de ser filosóficos sobre a
imigração e as novas tendências criminais, ignorar o problema e esperar
que ele desapareça. É seguro dizer, porém, que isso não funcionou até
agora. Se a classe política da Suécia pode apresentar uma solução mais
efetiva é outra questão.
O
quadro só pode ser surpresa mesmo para os “progressistas” que encaram a
questão da imigração como uma abstração filosófica. Para os
conservadores, não há nenhuma surpresa aqui. Era um resultado totalmente
previsível…
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* Rodrigo Constantino Alexandre dos Santos é um economista e
colunista brasileiro. É graduado pela PUC-RJ e possui MBA pela Ibmec.
Foi articulista da revista "Voto"e escreveu regularmente para os jornais
"Valor Econômico" e "O Globo".
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/crimes-violentos-disparam-na-suecia-mas-ninguem-fala-disso/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino
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