Xico Graziano*
Mercado de orgânicos está puxando a oferta no campo, exigindo seu
aprimoramento
Reprodução/Pixabay/Jatuphon Buraphon
Produtos viraram negócio de grande vulto
Produção no campo tem se transformado
Os produtos chamados orgânicos estão em alta.
Prova disso foi o tremendo sucesso da BioBrazil Fair, realizada nesses
dias em São Bombou de público.
Sucursal da Biofach, feira
internacionalmente conhecida na promoção do comércio ligado ao naturalismo, a BioBrazil
Fair contou com 167 expositores. Produtores, certificadores, processadores
e comerciantes lançaram cerca de 2 mil novidades no local.
Mel, frutas, cereais, verduras, cachaça,
alimentos frescos e industrializados… Existem centenas de gêneros certificados
como orgânicos. Não se resumem à comida. Entre os produtos orgânicos também se
destacam cosméticos, roupas, bijuterias, pets. É incrível a variedade já
atingida nesse ramo de negócios.
Sim, negócios, e de grande vulto. Já passou
aquele tempo onde os “orgânicos” expressavam apenas uma filosofia de vida
alternativa. Agora, virou capitalismo puro, atendendo a um nicho de mercado que
se avoluma na elite da sociedade.
Segundo a Ifoam (Internacional Federation of the
Organic Agriculture Movement), existem 2,7 milhões de produtores orgânicos
ocupando área de 58 milhões de hectares em 180 países. Tamanho de gente grande.
No Brasil, a produção orgânica faturou R$ 4
bilhões (2018), de acordo com o Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e
Sustentável (Organis). O mercado cresce sem parar, entre 15 a 20% ao ano. Zero
crise nos orgânicos.
Duas recentes, e gigantescas, aquisições,
mostraram a tendência global: em agosto de 2017, a Amazon comprou a
norte-americana Whole Foods Market, maior rede de orgânicos do mundo. Um ano
depois, a Unilever adquiriu a Mãe Terra, líder de mercado de produtos naturais
no Brasil.
Grandes supermercados abriram há tempo suas
prateleiras para os orgânicos, a começar pelo Pão de Açúcar. Outro gigante, o
Carrefour, também já está operando no segmento. Ambos com marcas próprias.
Diferenciado é o marketing dos orgânicos. Seu
público, formado por consumidores de elite, gasta menos de 10% da renda com
alimentação. Bem de vida, aprecia remar contra a maré do consumismo banal.
Custa caro, mas pouco importa. Esse consumo
“inteligente” valoriza a relação com a natureza, conquistando adeptos que se
tornam ativistas da causa. Nesse quesito os orgânicos são insuperáveis.
Resultado: o mercado está puxando a oferta no
campo, exigindo seu aprimoramento. Típica de agricultores marginais, com baixa
tecnologia e vendida em “feirinhas”, a produção orgânica tem se transformado,
com fortes investimentos em tecnologia, processamento e logística.
Entramos assim na era dos orgânicos high tech.
E no reino da alta tecnologia do agro, seja biológica, química ou mecânica,
manda o tripé: profissionalização, produtividade e qualidade.
Agronomicamente falando, pode-se antever uma
aproximação progressiva, já em curso, da (correta) agricultura convencional com
a (moderna) agricultura orgânica.
As duas formas de produzir no campo não se opõem.
Ambas são capazes de garantir o alimento saudável.
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* Xico
Graziano, 65, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado
federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV
e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano. O articulista escreve para o Poder360
semanalmente, às quartas-feiras.
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