Milênios e a geração Z representam mais da metade da mão de obra global Sérgio
Lima/Poder360
Estudo revela insatisfação com a economia
Prosperidade não é sinônimo de felicidade
Desde 2015, a economia brasileira sofre uma grave estagnação secular. A
taxa de desemprego no Brasil é de 12,5%, e as projeções de crescimento do PIB estão abaixo de 1% em 2019. A reforma da Previdência está
lentamente avançando no Congresso e a instabilidade de cada crise política leva
ao aumento do dólar. Já os Estados Unidos vivem um boom econômico, com taxa de
desemprego de 3,6%, a mais baixa da história. A expansão do PIB norte
americano atingiu 3,1% no primeiro trimestre deste ano, com projeções
favoráveis para até o final do ano. Mesmo com situações econômicas em patamares
diferentes, os jovens desses países compartilham da mesma insatisfação política
e econômica, ameaçando a confiança em setores e instituições democráticas.
Em maio deste ano, a consultoria Deloitte divulgou o relatório anual Global Millenium Survey, que contou com a
participação de 13.416 milênios em 42 países. Adultos caracterizados por ingressarem no
mercado de trabalho entre a crise financeira de 2008 e a quarta revolução
industrial, os milênios trabalham em um mundo onde a conectividade, falta de
privacidade e mobilidade social são vantagens e desvantagens em suas vidas.
Segundo o levantamento, apenas 26% dos jovens acreditam que a situação econômica de seus
respectivos países vai melhorar. Fruto dessa incerteza, a ideia de se fixar em
um só emprego ou em uma só cidade não os apetece, abrindo espaço para uma
economia mais dinâmica e flexível.
Hoje, os milênios e a geração Z representam mais da metade da mão de
obra global. A pesquisa mostra que a mudança climática, o desemprego e a
desigualdade social estão entre as principais preocupações dessa nova geração.
A importância que os milênios dão à responsabilidade social é expressiva e as
empresas deveriam levar isso em consideração. Como consumidores, 42% dizem ter aprofundado sua relação com empresas e
produtos que adotam práticas sustentáveis e que tenham contribuições para a
sociedade. Em contrapartida, 38% admitem que deixaram de comprar produtos de marcas
devido a má influência na sociedade ou no meio ambiente.
Cientes do crescimento populacional e do desenvolvimento de novas
tecnologias, os milênios mostram ter consciência de que o compartilhamento de
espaços e experiências são mais relevantes a cada dia. Em um mundo que está
ficando cada vez menor, reduzir o consumo já está na agenda dos jovens. Comprar
uma casa e ter filhos, por exemplo, não estão mais entre as principais
prioridades da geração. Elas foram substituídas por viajar o mundo e participar
de questões sociais que trazem um saldo positivo para sociedade. A pesquisa
realizada pelo site de notícias britânico Carbon Brief mostra que as crianças de hoje terão
que reduzir sua emissão de CO2 em oito vezes em comparação a emissão
de seus avós para que a temperatura mundial não suba mais que 1,5 ˚C, como
prevê relatório COP24 da ONU.
A maioria dos entrevistados acredita que governos são responsáveis por
diminuir a desigualdade entre as classes, mas não se sente representada por
seus respectivos governantes. A pesquisa mostra que 73% dos milênios dizem que líderes políticos não têm uma
influência positiva no mundo enquanto 43% acreditam que a mídia tradicional tem uma má
influência. Aproximadamente 45% dos milênios não consideram líderes mundiais fontes
confiáveis de informação. Esses números mostram uma quebra de confiança dos
jovens nas instituições estabelecidas e explicam a necessidade dos governos em
adaptar suas prioridades.
Naturalmente, líderes e empresas que adotam discursos de diversidade e
responsabilidade social têm destaque entre os jovens. O ex-presidente dos
Estados Unidos Barack Obama foi recebido com louvor em São Paulo duas semanas
atrás ao falar sobre acesso à educação e igualdade racial. Segundo Obama “se
afro brasileiros não são incluídos, o país está desperdiçando talento. Se
mulheres não são incluídas, estão desperdiçando talento”. No Vaticano e em
meio a uma série de protestos contra a negligência dos governos frente à crise
climática, o Papa Francisco falou diretamente aos jovens, ao afirmar que “diante de uma emergência
climática, devemos tomar as devidas medidas para evitar a perpetração de um ato
brutal de injustiça contra os pobres e as futuras gerações”.
A pesquisa deixa claro que melhorias na economia não são garantia de
satisfação e felicidade. Os milênios se mostram cientes das transformações do
mundo e estão exigindo que seus interesses e necessidades sejam ouvidos e
contemplados. Quer a política tradicional concorde ou não, a recuperação da
confiança dos jovens nas instituições e em governos são pilares indispensáveis
para sustentar qualquer democracia. E, para isso, é necessário que eles comecem
a governar para a nossa geração.
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