quinta-feira, 20 de junho de 2019

Milênios exigem uma nova agenda política


 
Milênios e a geração Z representam mais da metade da mão de obra global Sérgio Lima/Poder360
 
Estudo revela insatisfação com a economia
Prosperidade não é sinônimo de felicidade

Desde 2015, a economia brasileira sofre uma grave estagnação secular. A taxa de desemprego no Brasil é de 12,5%, e as projeções de crescimento do PIB estão abaixo de 1% em 2019. A reforma da Previdência está lentamente avançando no Congresso e a instabilidade de cada crise política leva ao aumento do dólar. Já os Estados Unidos vivem um boom econômico, com taxa de desemprego de 3,6%, a mais baixa da história. A expansão do PIB norte americano atingiu 3,1% no primeiro trimestre deste ano, com projeções favoráveis para até o final do ano. Mesmo com situações econômicas em patamares diferentes, os jovens desses países compartilham da mesma insatisfação política e econômica, ameaçando a confiança em setores e instituições democráticas.

Em maio deste ano, a consultoria Deloitte divulgou o relatório anual Global Millenium Survey, que contou com a participação de 13.416 milênios em 42 países. Adultos caracterizados por ingressarem no mercado de trabalho entre a crise financeira de 2008 e a quarta revolução industrial, os milênios trabalham em um mundo onde a conectividade, falta de privacidade e mobilidade social são vantagens e desvantagens em suas vidas. Segundo o levantamento, apenas 26% dos jovens acreditam que a situação econômica de seus respectivos países vai melhorar. Fruto dessa incerteza, a ideia de se fixar em um só emprego ou em uma só cidade não os apetece, abrindo espaço para uma economia mais dinâmica e flexível.

Hoje, os milênios e a geração Z representam mais da metade da mão de obra global.  A pesquisa mostra que a mudança climática, o desemprego e a desigualdade social estão entre as principais preocupações dessa nova geração. A importância que os milênios dão à responsabilidade social é expressiva e as empresas deveriam levar isso em consideração. Como consumidores, 42% dizem ter aprofundado sua relação com empresas e produtos que adotam práticas sustentáveis e que tenham contribuições para a sociedade. Em contrapartida, 38% admitem que deixaram de comprar produtos de marcas devido a má influência na sociedade ou no meio ambiente.

Cientes do crescimento populacional e do desenvolvimento de novas tecnologias, os milênios mostram ter consciência de que o compartilhamento de espaços e experiências são mais relevantes a cada dia. Em um mundo que está ficando cada vez menor, reduzir o consumo já está na agenda dos jovens. Comprar uma casa e ter filhos, por exemplo, não estão mais entre as principais prioridades da geração. Elas foram substituídas por viajar o mundo e participar de questões sociais que trazem um saldo positivo para sociedade. A pesquisa realizada pelo site de notícias britânico Carbon Brief mostra que as crianças de hoje terão que reduzir sua emissão de CO2 em oito vezes em comparação a emissão de seus avós para que a temperatura mundial não suba mais que 1,5 ˚C, como prevê relatório COP24 da ONU.
 

A maioria dos entrevistados acredita que governos são responsáveis por diminuir a desigualdade entre as classes, mas não se sente representada por seus respectivos governantes. A pesquisa mostra que 73% dos milênios dizem que líderes políticos não têm uma influência positiva no mundo enquanto 43% acreditam que a mídia tradicional tem uma má influência. Aproximadamente 45% dos milênios não consideram líderes mundiais fontes confiáveis de informação. Esses números mostram uma quebra de confiança dos jovens nas instituições estabelecidas e explicam a necessidade dos governos em adaptar suas prioridades.

Naturalmente, líderes e empresas que adotam discursos de diversidade e responsabilidade social têm destaque entre os jovens. O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama foi recebido com louvor em São Paulo duas semanas atrás ao falar sobre acesso à educação e igualdade racial. Segundo Obama “se afro brasileiros não são incluídos, o país está desperdiçando talento. Se mulheres não são incluídas, estão desperdiçando talento”. No Vaticano e em meio a uma série de protestos contra a negligência dos governos frente à crise climática, o Papa Francisco falou diretamente aos jovens, ao afirmar que “diante de uma emergência climática, devemos tomar as devidas medidas para evitar a perpetração de um ato brutal de injustiça contra os pobres e as futuras gerações”.

A pesquisa deixa claro que melhorias na economia não são garantia de satisfação e felicidade. Os milênios se mostram cientes das transformações do mundo e estão exigindo que seus interesses e necessidades sejam ouvidos e contemplados. Quer a política tradicional concorde ou não, a recuperação da confiança dos jovens nas instituições e em governos são pilares indispensáveis para sustentar qualquer democracia. E, para isso, é necessário que eles comecem a governar para a nossa geração.
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