Joaquim Ferreira dos Santos*
Isso aqui não é mais um blablablá, sequer um
tititi, sobre Neymar e Najila no Sofitel de Paris. Notícia velha. O que
vai começar a tocar é um bolero triste para o Dia dos Namorados.
Não é de agora que o amor é a arte do desencontro, um tal de hoje
beija, amanhã não beija e depois de amanhã ninguém sabe o que será. Tem
piorado. Neymar e Najila são o novo exemplo de que a infelicidade será
servida a todos. "Ontem você estava agitado, hoje sou eu", ela lamentou.
Ninguém escapará da sopa fria do sofrimento e do mal entendido. A
diferença é que agora todo mundo vê em HD as cenas definitivamente
comprobatórias de que não tem jeito. Não adiante botar ao fundo o reggae
sofisticado do Police cantando "Every breath you take". O amor é mesmo o
ridículo da vida.
Um caso de amor começa de muitas maneiras e outrora, na aurora desse
sentimentalismo que se investiga agora, era preciso fazer versos com
rimas, dar não sei quantas voltas na praça e piscar outros tantos
olhares de admiração. Najila e Neymar são da geração shipada. Não perdem
tempo. Ela se postou apetecível no aplicativo, ele mandou a passagem de
avião. Rápido assim, e é assim que agora se começa essa grande
aventura. Nada contra. Neymar ainda se deu ao trabalho de dizer
"saudades do que ainda não vivemos". Fez-se fofo. Deve ter sido por isso
que mais tarde, todo o entrevero já acontecido, ela escreveu suspirosa-
"foi por esse Neymar que eu me apaixonei".
A história de Neymar e Najila era para ser um jogo rápido, uma troca
de óleo ou qualquer outra vulgaridade dessas, mas por trás de cada homem
e mulher que se encontram para 20 minutos de sexo há sempre a esperança
de que isso não seja só aquilo, e o clichê do felizes para sempre faça
ecoar suas trombetas. Deve ter sido por isso, o sonho de o inesperado
fazer uma surpresa, que depois de ser infeliz em duas noites de sexo
Najila se rendeu à decepção romântica de escrever - "pena que deu
errado, nos desencontramos".
Todo mundo sabe que Neymar e Najila é o casal sem vergonha daquela
música do Lindomar Castilho. Cada um menos crível do que o outro,
antipáticos pela própria natureza. Não ajudam a causa. Mas não vai ser
aqui que um homem e uma mulher serão espinafrados por, ao jeito deles,
tão 2019, partirem com urgência para o abraço e todo o mistério de suas
posteriores, nunca sabidas, consequências.
É uma pena, mas ficou sendo assim, só mais um bolero triste dos
muitos que tocam por aí. No embalo da reforma sentimental demitiram o
Cupido, lento com as flechas, e botaram o robô do Tinder para
racionalizar custos e agilizar o processo. Ficou apressado demais, e a
margem de erro é grande.
Depois de amanhã, o Dia dos Namorados de 2019 vai prestar depoimento
na delegacia de costumes. Declarará sucinto que nessa história ninguém
presta, todos culpados - mas a seu favor lembrará o atenuante de que o
amor é assim mesmo. Num dia beija, no outro nem aí. Ele é o único
inocente. Um dia dá certo.
------------
* Escritor. Cronista
Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/joaquim-ferreira-dos-santos/post/neymar-e-najila-no-dia-dos-namorados.html 09/06/2019
imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário