Paulo Germano*
Escrevi esses tempos que dinheiro não
compra ninguém. O dinheiro até pode atrair meia dúzia de aliados por
algum tempo - mas jamais serão aliados confiáveis, porque bastará o
dinheiro acabar para todos pularem fora. O que realmente compra as
pessoas, o que faz delas eternamente leais e gratas, o que faz delas
soldados incapazes de abandonar um companheiro é outra coisa.
No capítulo 13 da famosa Carta aos Coríntios, Paulo
explica que coisa é essa. Ele diz o seguinte: "E ainda que eu tivesse o
dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e
ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes,
e não tivesse amor, nada seria".
Quer dizer: não adianta ter poder, nem inteligência,
nem toda a cultura do mundo, não adianta acreditar em Deus nem encontrar
as respostas que a humanidade procura se, no fim das contas, não houver
afeto. Sem amor, é o que Paulo prega, um homem não é nada. A vida se
torna vazia - e não há quem queira lhe ser leal.
Se você dá afeto, se presta atenção no outro, se sorri
para as pessoas e tenta ajudá-las, aí a dívida de gratidão se torna
eterna. Foi nisso que pensei quando um estudante de Jornalismo, semanas
atrás, me perguntou que conselho eu lhe daria na profissão.
- Talento é o de menos - foi o que eu disse. - Em qualquer profissão, talento é secundário.
Reconheço que exagerei - talento é importante, óbvio.
Mas queria deixar claro que o talento é apenas um entre tantos pilares
de um bom profissional. Outro pilar é a persistência - ou saber engolir
sapos. Se o sujeito é incapaz de lidar com frustrações e fracassos, não
admite bronca de chefe, já começa a carreira só querendo fazer "o que
gosta", aí seu fabuloso talento não servirá de nada.
Mas não há pilar mais importante do que o do afeto.
Consigo pensar em pelo menos 10 profissionais talentosíssimos da minha
área que, por serem intratáveis ou geniosos demais, não conseguiram
decolar. Por quê? Porque ninguém chega a lugar algum sem aliados.
Ninguém decola sem pessoas que o ajudem a decolar.
Vale o mesmo para veteranos: eles duram mais em seus
cargos e têm mais tempo de sucesso quando são afetuosos. Conheço o chefe
de uma faculdade, por exemplo, que há anos sabota o próprio trabalho
por conta do alcoolismo, mas durante décadas ele foi tão generoso com os
colegas, que ninguém tem coragem de demiti-lo.
Alguém dirá que o correto seria, sim, mandá-lo embora, e
talvez eu concorde, só que esse homem comprou as pessoas - e não foi
com dinheiro: elas se sentem em dívida, não querem abandoná-lo, estão
presas à teia de afeto que ele foi tecendo ao longo dos anos. E, como
constatou Paulo na Carta aos Coríntios, o amor "tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta".
Quer dizer: as pessoas toleram o pior quando existe
amor. Porque só ele pode fazê-las eternamente gratas, só ele consegue
preenchê-las de verdade. Não haverá quantia alguma de dinheiro que um
dia alcance tamanho poder.
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* Jornalista
Fonte: https://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=7fbd2d228da0432ee04b02a617504314 13/07/2019
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