Juremir Machado da Silva*
Imagens do dia que se eterniza
E, como diz a música, assim se passaram dez anos. Não, 20
anos. Nos dez anos do mais famoso e trágico 11 de setembro, o de 2001, o
setembro do Bin Laden, da Alcaida e das torres gêmeas, escrevi este
texto. Hoje, muita gente vai se perguntar onde estava quando o segundo
avião atingiu o edifício em Nova York e transformou a imaginação dos
roteiristas de Hollywood num monte de escombros. Eu estava em aula.
Descemos todos para o bar da Faculdade de Comunicação e vimos as imagens
de boca escancarada. Algumas meninas soltavam gritinhos. Eu ainda não
havia entrado na crise dos 40.
Hoje, estou na crise dos 60. O Brasil não passava de tetracampeão
mundial de futebol. Lembro-me de que nos dias seguintes ao episódio,
rotulado pelo filósofo Jean Baudrillard chamou de fim da greve dos
acontecimentos, jornais do mundo inteiro publicaram manchetes neste
estilo definitivo: “O mundo nunca mais será o mesmo”.
Por que o mundo nunca mais seria o mesmo? Porque o coração do
império havia sido violado. Os terroristas tinham superado uma barreira,
arrombado a última fronteira e ferido o umbigo do universo. Dali em
diante, afirmava-se, o medo se imporia como a única verdade. As
consequências, nem sempre perfeitamente lógicas, apareceram rapidamente.
Os Estados Unidos atacaram o Afeganistão. Depois, foi a vez do Iraque.
Saddam Hussein, um antigo aliado, virou bode expiatório e pagou por ter
armas de destruição massiva que, mais uma vez, não passavam de miragens
capazes de reduzir a imaginação dos roteiristas de Hollywood a zero. O
mundo continuou pateticamente o mesmo. Razões econômicas e de Estado
falaram mais alto e usaram a mentira deslavada como detergente para
limpar o planeta do seu mal absoluto.
Por trás das boas intenções, velhos interesses, petróleo. Os EUA
levaram quase dez anos para liquidar o mandante dos atentados de 2001, o
saudita Bin Laden. A greve dos acontecimentos teria começado com a
queda do muro de Berlim. Depois dali, aceitando-se a conclusão de
Francis Fukuyama, a história teria chegado ao fim com a vitória final do
capitalismo, triunfo do bloco americano sobre o bloco soviético. As
narrativas pareciam tiros.
Em 11 de setembro de 2001, porém, a trégua acabou. A velha história,
feita de sangue, convulsões e lágrimas, mostrou a sua milenar face
horrenda. Era o mundo de sempre que dava sinal de vida produzindo
mortes. O que estava em jogo? O de sempre: fanatismo, imperialismo,
ressentimentos históricos, visões de mundo, ódio, incompreensão entre
culturas, etc. De um lado, um extremismo devastador. Do outro, a
incapacidade ocidental de lidar com a diferença radical. O Ocidente
ficou perplexo diante de algo felizmente em extinção entre nós: aceitar
morrer por uma causa, justa, injusta, absurda. E assim se passaram vinte
anos...
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Dia 13 de setembro, 19h, homenagem aos 700 anos da morte da Dante
Alighieri, com “projeção mapeada” no prédio da Biblioteca Pública do
Estado, dirigida por Morgana Marcon. O espetáculo tem direção e fotos de
Celso Chitolina. Texto de Rafael Jacobson. Locução de Zé Adão Barbosa.
Realização: Associação dos Amigos da BPE, sob a batuta de Gilberto
Schwartsmann e Alcides Stumpf.
*Escritor. Prof. Universitário. Jornalista.
Fonte: https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/um-11-de-setembro-que-n%C3%A3o-termina-1.688482
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