sábado, 25 de junho de 2022

Margaret Atwood: "Temos conhecimento e tecnologia para reverter a mudança climática. Mas falta ação política"

 

  • Juliana Causin*, de Toronto

A autora canadense Margaret Atwood já escreveu sobre uma sociedade teocrática que suprime todos os direitos das mulheres - enredo do best-seller e da série “O Conto de Aia” -, já imaginou um mundo pós-apocalíptico que é tomado por criaturas geneticamente modificadas (“Oryx e Crake”) e, depois, mostrou esse mesmo mundo sendo atingido por um enorme desastre natural ( “O Ano do Dilúvio”).

Mas, apesar das distopias que a tornaram célebre, a escritora aposta na utopia como forma de construir um futuro habitável para o planeta. “Eu sou muito otimista”, disse Atwood durante a abertura do Collision, festival de inovação e tecnologia que acontece em Toronto, no Canadá. “Talvez porque eu seja bem velha. E posso lembrar quando o mundo esteve pior do que hoje”, completou.

Para a autora premiada, a emergência climática é o ponto fundamental que irá determinar o futuro. Ela costuma dizer que não se trata de “mudança climática”, mas de “mudança de tudo”. Apesar do cenário desanimador, Atwood acredita que ainda dá tempo para lutar. “Nós ainda estamos em um momento no qual é possível mudar o curso das história”, afirmou.

Seu projeto para coletar e endereçar soluções climáticas é chamado de “Practical utopias: an exploration of the possible” (Utopias práticas: uma exploração sobre o possível”, em tradução livre). Em uma plataforma de aprendizagem colaborativa, a Disco, a autora reúne pessoas do mundo inteiro engajadas em encontrar saídas para a crise do clima. “As pessoas pensam juntas em como construir um novo modo de vida com o que temos disponível agora”, conta. “Para mim, é preciso começar com o que as pessoas fazem todos os dias - onde vivem, como se alimentam, o que vestem.”

Segundo Atwood, as propostas que endereçam soluções práticas contra as mudanças climáticas passam por três pontos fundamentais: precisam ser carbono neutras ou zero em emissões de carbono, têm que ser acessíveis e escaláveis e, por último, precisam parecer atrativas para as pessoas. “Eu fiquei impressionada com a quantidade de soluções que já foram criadas e já existem”, reforçou a escritora.

Vontade política


Sobre como endereçar as transformações necessárias para reverter o aquecimento do planeta, Atwood usou uma analogia de Les Stroud, apresentador do reality show canadense “Surviverman”, sobre técnicas de sobrevivência em situações extremas. “Ele diz que, pra sobreviver, são necessárias quatro coisas: conhecimento, experiência, equipamentos adequados, força de vontade e sorte. Você pode sair de situações difíceis se tiver ao menos duas dessas coisas. Se você não tem nenhuma delas, você está perdido”, explica a escritora.

Hoje, diz, nós temos o conhecimento e a tecnologia para lidar com a questão climática. “O que falta é a força de vontade no nível político. E aí, sim, vamos precisar de sorte”, completa.

*Juliana Causin viajou a convite da Siemens

Fonte:  https://epocanegocios.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2022/06/temos-conhecimento-e-tecnologia-para-reverter-mudanca-climatica-mas-falta-acao-politica-diz-margaret-atwood.html

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