quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A economia a caminho da modernidade

Abram Szajman*
A indústria brasileira pode e deve deixar
de ser periférica, poluidora e defasada,
mas não será barrando os produtos
importados que isso acontecerá
O Brasil do século 21 já é e será cada vez mais um país com crescimento econômico alicerçado no setor de comércio e serviços, que se afirma como um polo dinâmico gerador de emprego.
As transformações recentes da sociedade brasileira atestam essa realidade e apontam para uma tendência irreversível. O aumento da renda do consumidor, acompanhado por uma distribuição que fez da classe média o segmento majoritário da população, provocou inicialmente um forte consumo de bens, que agora se converte em demanda por serviços.
Em outras palavras, a emergente classe C, depois de comprar casa, carro, computador e outros bens duráveis, quer agora melhorar sua qualidade de vida gastando com viagens, academias de ginástica, cursos de idiomas, especializações e demais serviços vinculados às áreas de saúde, educação, lazer e cultura.
Tudo aquilo que antes era privilégio de uma minoria agora está se incorporando ao cotidiano de milhões de pessoas, portanto.
Essa mudança estrutural profunda acentua a redução da participação da indústria brasileira no PIB, fenômeno planetário e tão inevitável como foi, no século passado, a produção agrícola ter cedido espaço aos produtos manufaturados.

"O Brasil é uma economia a caminho
da modernidade e, em valores absolutos,
isso implica numa expansão
de todos os setores."

Isto não quer dizer, como alardeiam alguns, que o nosso país esteja se desindustrializando.
Assim como a monocultura agroexportadora dos tempos da colônia e do império se transformou no pujante agronegócio dos dias atuais, também a nossa indústria pode e deve deixar de ser a atual plataforma periférica, poluidora e tecnologicamente defasada, resultado de décadas de protecionismo.
Essa superação, entretanto, não virá pela via da obstrução aos produtos importados. Não virá também pela insistência em focar na indústria as políticas públicas de fomento da produção, como insistem aqueles que, dentro e fora do governo federal, parecem empenhados em paralisar a roda da história.
O que se faz necessário, ao contrário, é orientar a atividade econômica para as boas práticas ambientais. Simplificar a burocracia e reduzir o peso do Estado, não apenas para a indústria, mas para o conjunto da atividade econômica. Ampliar a oferta de mão de obra qualificada, amparando a pesquisa e a inovação, sem as quais seguiremos à margem do verdadeiro valor agregado proporcionado apenas pelo conhecimento e pela educação continuada.
Além dessas medidas, o que o país precisa é de mais, e não menos, abertura comercial. O mercado interno nos salvou da crise mundial até agora, mas o consumidor brasileiro que opera esse milagre não aceita retroceder ao tempo em que era refém da indústria nacional. Nunca teríamos chegado a conhecer os notebooks -e muito menos os tablets- se ainda vivêssemos a reserva de mercado da informática, de triste memória.
Com todo o respeito pelas legítimas manifestações dos diversos setores, entendemos que as políticas públicas devem ser consonantes com as mudanças relativas que ocorrem no PIB.
O Brasil é uma economia a caminho da modernidade e, em valores absolutos, isso implica numa expansão de todos os setores. O setor de serviços, porém, tende a ser cada vez mais expressivo, relativamente às atividades primária e secundária. Da mesma forma, ignorar que a inserção global faz parte desse jogo é apostar numa improvável volta ao passado.
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* ABRAM SZAJMAN, 72, é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) e dos Conselhos Regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio) e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial)
Fonte: Folha on line, 18/01/2012
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