MEMÓRIA
O argentino Iván Izquierdo é um dos maiores pesquisadores mundiais na área de fisiologia da memória e seus artigos e livros já são parte imprescindível das bibliografias básicas dos trabalhos dedicados ao tema. Nesta entrevista, ele revela que apesar dos avanços na área, não há nada melhor para o cérebro do que devorar livros.
Zero Hora – Qual a grande descoberta sobre a memória nos últimos anos?
Iván Izquierdo – São muitas, principalmente nos últimos 20 anos. Temos conhecido cada vez mais detalhes sobre o mecanismo molecular que leva à formação da memória. Isso também se chama consolidação, porque consolida a informação de diversas procedências da linguagem cerebral na memória, por meio de sinais elétricos e neuroquímicos. Se descobriu, portanto, que comunicação se utiliza, e o que ocorre depois, para a formação da memória e o curso de tempo que leva. Além disso, se estuda hoje que regiões do cérebro participam da extinção, ou seja, a inibição da resposta para que ela não seja usada a qualquer momento. Um exemplo é a memória de medo, que não precisa ser usada toda hora e que serve para ajudar pacientes vítimas de estresse pós-traumático.
"Quer ter um cérebro saudável,
eu recomendo ler. Esse é o melhor exercício
que alguém pode fazer com o cérebro.
O uso constante da memória a estimula.
É como um músculo: quanto mais se usa,
melhor funciona."
ZH – Já é possível, então, apagarmos lembranças desagradáveis? Como é feita essa inibição hoje?
Izquierdo – Não seria bom perdê-las, pois é preciso lembrar de um ocorrido para que o sujeito não repita a situação que a levou ao trauma. Mas os psicoterapeutas já utilizam esse recurso há 30 anos para tratar pacientes vítimas de estresse pós-traumático. Em síntese, é empregada uma técnica que faz com que a pessoa não “acione” a memória em determinados momentos. Ela age assim após ser exposta a estímulos e cenas e a situações que lhe produz medo (uma delas é a cognitivo-comportamental).
ZH – Muitas vezes ficamos nervosos quando queremos lembrar de algo e a coisa está na ponta da língua mas não sai. Quando o “branco” é um problema real?
Izquierdo – O branco é devido à ansiedade, que causa liberação de hormônios suprarrenais chamados corticoides. Eles vão circular no sangue e acabam eventualmente no cérebro, inibindo a memória. Pode acontecer com qualquer um, não é patológico. Ou seja, tem que tratar a ansiedade. Entretanto, o “branco” pode representar um problema real, como a doença de Alzheimer, quando o sujeito passa a esquecer o nome do pai, o ofício que atua.
ZH – Mas se eu estou notando que a minha memória pode ser aperfeiçoada, o que é possível fazer?
Izquierdo – Se é patologia, falta memória, existem drogas ótimas, como a Ritalina. Mas quem não tem a doença e quer ter um cérebro saudável, eu recomendo ler. Esse é o melhor exercício que alguém pode fazer com o cérebro. O uso constante da memória a estimula. É como um músculo: quanto mais se usa, melhor funciona. Mas não se deve fazer um uso abusivo da memória. Na hora de dormir, devemos descansar. Cada coisa tem seu momento.
-----------------------------------------Reportagem por Lívia Meimes
Fonte: ZH/VIDA on line, 21/01/2012
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