Gabriel Bassi*
O texto a seguir foi traduzido (com adaptações)
do livro “Why people believe in weird things”
do Michael Shermer.
Durante minhas postagens aqui no SRUSP, percebi o quão carente a população é em relação à visão daquilo que denominados de “racionalismo” e “ciencia”. O mais interessante é ver quão passional são os comentários contra aquilo que escrevemos. Uns atacam a pessoa que fez o artigo (tentando desqualificá-la), outras atacam somente aquele argumento que interessa a ela (ou o único que consegue debater), ignorando o resto. Outras vão mais além e tentam, de qualquer maneira, convencê-lo de que está errado, enviando mensagens sem qualquer evidencia e sem realizar qualquer pensamento crítico sobre aquilo que ela mesma escreveu. Às vezes é engraçado.
O brasileiro aparentemente acredita naquilo que mais lhe é conveniente e divulgado, ignorando um raciocínio lógico sobre as provas do caso. Uma discussão filosófica e de boatos se torna mais importante que provas cabais que anulam e eliminam certas filosofias e boatos infundados. Espero que o transcrito abaixo sirva para dar uma iluminada, e assim melhores discussões em nossos comentários.
Anedotas não fazem ciencia
Anedotas – histórias contadas para apoiar uma causa – não faz algo virar ciência. Sem evidências que possam apoiar uma causa a partir de outras fontes, ou provas físicas de algum tipo, dez anedotas não são melhores que uma, e centenas de anedotas não são melhores que dez. Anedotas são ditas por contadores de histórias falsas. O fazendeiro Camargo, de Ribeirão Preto, São Paulo, pode ser uma pessoa honesta, crente, um homem de família que não está sujeito a desilusões. Porém precisamos de evidências físicas da nave alienígena ou dos corpos alienígenas, não somente uma história sobre pousos e abduções às 3 da manhã no meio da plantação de cana-de-açúcar. Histórias sobre como o câncer da sua tia Maristela foi curado assistindo um tal bispo na televisão, tomando um homeopático ou por meio de uma cirurgia espiritual não fazem qualquer sentido. O câncer pode ter entrado em remissão por si próprio, o que acontece com alguns cânceres; ou ela pode ter tido um diagnóstico incompleto; ou, ou, ou… O que precisamos são experimentos controlados, não anedotas. Precisamos de 100 indivíduos com câncer, todos diagnosticados e classificados corretamente. Então precisaremos que 25 desses indivíduos assistam o tal bispo, 25 que assistam Zé do Caixão, 25 que assistam noticiários e 25 indivíduos que não assistam nada. Então precisaremos deduzir a taxa média de remissão para esse tipo de câncer, para então analisar os dados para as diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. Se houver diferenças significativas, precisamos de confirmação a partir de outros cientistas que fizeram seus próprios experimentos separados do nosso antes que façamos uma conferência para anunciar a cura do câncer.
A linguagem científica não faz ciência
Acatar um sistema de crenças para colocá-lo do meio da ciência utilizando-se da linguagem científica e de jargões, como em “ciencia da criação”, “ciencia energética” ou “ciencia espírita”, não significa nada sem evidências, testes experimentais e corroborações. Como a ciência possui um grande poder místico em nossa sociedade, aqueles que desejam ganhar respeito, mas não possuem evidência, tentam criar um beco-sem-saída em volta das evidências que faltam, tentando fazê-las soar como algo “científico”. Um clássico exemplo sobre a homeopatia : “A diluição e a sucussão cria nano-estruturas polimórficas análogas a hidratos de clatrato, caixas cristalinas que se assemelham a gelo, onde uma pequena molécula gasosa da tintura original é aprisionada para formar o que agora se denomina Nanobolha” (1). Você pode repetir? Não tenho idéia do que isso significa, mas possui componentes de linguagem científica: “nano-estruturas polimórficas análogas”, “hidratos de clatratos” e “nanobolha”. Essas frases não significam nada, pois não possuem definições precisas e operacionais. Como você mede a quantidade de moléculas gasosas dentro desses clatratos? Qual a meia-vida de um clatrato (com e sem a molécula gasosa)? Como o clatrato se dissocia para liberar o composto? Etc, etc, etc
Argumentos arrojados não tornam uma afirmação verdadeira
Algo é provavelmente pseudocientífico se afirmações extraordinárias são feitas sobre seu poder e sua veracidade, mas se procurarmos as evidencias de suporte, são tão escarças quanto os dentes em uma galinha. L. Ron Hubbard, por exemplo, inicia seu Dianetics: The Modern Science of Mental Health, com o argumento: “A criação da Dianética é um marco para a humanidade comparável à descoberta do fogo, e superior à invenção da roda e do arco” (em Gardner, 1952, p. 263). O guru da energia sexual Wilhelm Reich chamava sua teoria da Orgonomia de “uma revolução na biologia e na psicologia comparável à Revolução Copernicana” (em Gardner, 1952, p. 259). Eu tenho uma pequena pilha de papéis e cartas provindas de autores obscuros com tais menções sensacionalistas (e as denomino de arquivos da “Teorias do Tudo”). Os cientistas algumas vezes cometem esse erro também, como vimos às 13 horas do dia 23 de março de 1989, quando Stanley Pons e Martin Fleischmann conduziram uma conferência para anunciar ao mundo que conseguiram produzir a fusão nuclear a frio. O excelente trabalho de Gary Taubes sobre o debate da fusão a frio, apropriadamente denominado de Bad Science (Má Ciencia) (1993), examinou profundamente as implicações desse incidente. Talvez 50 anos de estudos sobre a física nuclear podem ser consideradas como erradas por meio de um único experimento, mas não são descartadas até que o experimento tenha sido replicado. A moral da história é que quanto mais extraordinária é a afirmação, mais extraordinariamente terá de ser testada a evidência.
Heresia não é igual a coisa errada
Eles riram de Copérnico. Eles riram de Santos Dummont. Dar risada não significa que você está certo. Wilhelm Reich se comparou a Peer Gynt, o inconvencional gênio descompassado com a sociedade, o qual foi mal entendido e ridicularizado como herege até que provou estar certo: “O que quer que você tenha feito para mim ou fará para mim no futuro, se você me glorifica como um gênio ou me interna numa instituição psiquiátrica, se você me adora como seu salvador ou se me enforca como um espião, mais cedo ou mais tarde a necessidade irá forçá-lo a compreender que eu descobri as leis da convivência” (em Gardner, 1952, p. 259). Reimpresso na edição de janeiro/fevereiro de 1996 do the Journal of Historical Review, o cânone da negação do holocausto, há uma famosa citação do filósofo alemão do século XIX Arthur Schopenhauer, o qual é citado muitas vezes por aqueles que ainda tem dúvidas: “Toda verdade passa por três estágios. A primeira, é ridicularizada. Segunda, ela é violentamente evitada. Terceira, é aceita como auto-evidência.” Porém “toda verdade” não passa por esses estágios. Muitas idéias verdadeiras são aceitas sem ridicularizações ou oposições, violência ou qualquer outra coisa. A teoria de Einstein sobre a relatividade foi amplamente ignorada até 1919 quando evidências experimentais provaram estar certa. A citação de Schopenhauer é somente uma racionalização, um modo elegante daqueles que ridicularizam ou se opõem violentamente o suficiente para dizer: “Viu, eu estou certo.” Nem tanto.
A história está repleta de fábulas de cientistas solitários que trabalham na contramão de seus colegas, desafiando as doutrinas de seu próprio campo de estudo. O trabalho desses cientistas foi provado estar errado, porém não nos lembramos de seus nomes. Para cada Galileu que é apresentado aos instrumentos de tortura por defender uma verdade científica, há milhares (ou dezenas de milhares) desconhecidos cujas “verdades” nunca passaram pela revista de outros cientistas. Não se pode esperar que a comunidade científica teste cada afirmação fantástica que surja, especialmente quando muitas são logicamente inconsistentes. Isso envolve conhecer os cientistas de sua área, a troca informal de dados e idéias com colaboradores, e apresentar formalmente resultados em conferências, artigos, jornais de revisão científica, livros, etc.
Ônus da Prova
Quem quer provar o quê para quem? A pessoa que faz uma afirmação extraordinária possui o ônus de provar aos especialistas e à ampla comunidade que sua crença possui mais validade que qualquer outra crença que alguém já tenha aceito. Você tem de interceder para que sua opinião seja ouvida. Então terá de convocar especialistas de sua área para que a maioria se convença em apoiar sua afirmação sobre aquela afirmação que eles sempre apoiaram. Finalmente, quando você é a maioria, o valor das provas muda para quem é de fora da área e quer desafiá-lo com um afirmação incomum. Os evolucionistas possuíam o ônus da prova por 50 anos após Darwin, mas agora o ônus da prova está com os criacionistas. E são os criacionistas que devem mostrar por que a teoria da evolução está errada e por que o criacionismo está certo, não os evolucionistas que têm de defender a evolução. O ônus da prova está com os homeopatas, pois tem de provar que a homeopatia funciona (e o modo pelo qual funciona), o ônus não está nos cientistas para prová-la verdadeira. O mesmo se vale para o espiritismo. O racional para chegarmos a isso é que uma grande quantidade de evidências prova que a evolução é fato e a homeopatia (1,2) e o espiritismo são falsos. Em outras palavras, já temos evidências suficientes. Você deve convencer os outros da validade da sua evidência. E quando você está fora dessa área de pesquisa, é o preço que se paga, mesmo estando certo ou errado.
Rumores não são a Realidade
Rumores começam com “Li em algum lugar que…” ou “Ouvi de alguém que…”. Antes que o rumor se torne realidade e passe de pessoa para pessoa, os rumores devem ser verdadeiros, mas comumente não são. Porém são ditos para grandes feitos. Há a “história verdadeira” para o maníaco com um gancho prostético que escapou e persegue sua amada pela América. Há a lenda da “loira da estrada”, na qual um motorista dá carona a uma loira que pede carona na estrada, e que ou ela some do carro repentinamente ou provoca um acidente. Pessoas que moram na beira de estradas dizem que essa loira morreu num acidente automobilístico, que estava esperando o noivo que morreu, que foi atropelada por estar desiludida com seu amor, etc. Tais histórias se espalham rapidamente e nunca morrem.
O historiador da ciência da Caltech, Dan Kevles uma vez contou uma história num jantar que eu suspeitava ser apócrifa. Dois estudantes não voltaram de um passeio de esqui em tempo de fazer seus exames finais, pois as atividades do dia anterior se estenderam pela madrugada. Eles disseram ao seu professor que o pneu do carro havia furado, então o professor os deu uma prova substitutiva no dia seguinte. Colocou os estudantes em salas separadas e fez somente duas questões: 1) “Valendo 5 pontos, qual a fórmula química da água?” 2) “Valendo 95 pontos, qual foi o pneu?”. Dois dos convidados do jantar relataram que já ouviram, embora vagamente, essa mesma história. No dia seguinte, repeti a história aos meus estudantes e, antes de chegar à conclusão, três deles falaram subitamente: “Qual pneu?”. Lendas urbanas e rumores persistentes são ubíquos. Eis alguns:
•Uma mulher acidentalmente matou seu poodle secando-o no microondas
•Paul McCartney morreu e foi substituído por um sósia
•O pouso na Lua é falso e foi filmado num estúdio de Hollywood
•Silvio Santos é careca
O inexplicável não é inexplicável
Muitas pessoas confiam exageradamente para pensar que se elas não podem explicar algo, logo é inexplicável e um mistério verdadeiro da paranormalidade. Um arqueólogo amador declara que como não consegue imaginar como as pirâmides do Egito foram construídas, devem ter sido construídas por alienígenas. Até mesmo aqueles que são (um pouco) mais racionais em, ao menos, pensar que se os especialistas não podem explicar algo, então é inexplicável. Feitos como dobrar colheres, andar no fogo, telepatia ou experiências de quase morte são muitas vezes considerados de natureza paranormal ou mística, pois a maioria das pessoas não pode explicá-los. Quando se expõe o problema a elas, a maioria responde: “Sim, é claro” ou “É óbvio, já que você viu.” Andar no fogo é uma delas. Pessoas especular infinitamente sobre os poderes sobrenaturais sobre a dor e as queimaduras. A explicação mais simples (seguindo-se a Lâmina de Ocam) é a que as partículas finas e macias de carvão na superfície das brasas retém muito pouco calor, e a condutividade do calor provindo desse carvão para o seu pé é muito pobre. Se você ficar longe das brasas, não se queimará (pense num bolo que acabou de sair de um forno em 200º C. O ar, o bolo e a forma estão todos em 200º C, mas somente a forma de metal poderá queimar a sua mão instantaneamente. O ar possui uma capacidade de conduzir calor muito baixa. A capacidade do bolo de conduzir calor é muito maior que a do ar, mas mesmo assim possui baixa condutividade, podemos tocá-lo brevemente sem nos queimar. A forma de metal possui uma capacidade de conter o calor semelhante ao do bolo, mas uma alta condutividade. Se você tocá-lo, mesmo que por pouco tempo, queimar-se-á seriamente. E é por isso que os mágicos não contam seus truques. A maioria de seus truques são, em princípio, relativamente simples (embora muitos sejam de execução extremamente difícil), e conhecer o segredo do truque remove a mágica do truque).
Há muitos mistérios não resolvidos no universo, porém não há problema em admitir: “Ainda não sabemos, mas algum dia, quem sabe, saberemos.” O problema se torna mais confortável quando temos certeza, mesmo que seja prematuro, ao invés de viver com mistérios não resolvidos e inexplicáveis.
Falhas são racionalizáveis
Na ciencia, o valor de achados negativos – falhas – não podem ser superenfatizados. Comumente não se procura a falha, e muitas vezes não se publica. Porém grande parte das vezes as falhas são o modo pelo qual chegamos mais perto da verdade. Cientistas honestos irão admitir prontamente seus erros, mas todos os cientistas são contidos pelo fato de que seus colaboradores irão criticar e ridicularizar o fato. Isso não ocorre com pseudocientistas (casos famosos do espiritismo, por exemplo). Eles ignoram ou racionalizam as falhas, especialmente quando expostos. Se forem pegos no ato falho – o que não ocorre frequentemente – dirão que seus poderes comumente funcionam, mas não sempre. Então quando pressionados a encenar na televisão ou no laboratório, muitas vezes recorrem a trapaças. Se simplesmente falham na encenação, logo possuem uma variedade de explicações criativas: muitos controles em um experimento causam resultados negativos; os poderes não funcionam na presença de céticos; os poderes não funcionam na presença de equipamentos elétricos; os poderes vão e vem; a energia do ambiente não permite, etc. Finalmente afirmam que se os céticos não podem explicar tudo, então deve haver algo paranormal; eles caem na falácia do “o inexplicável não é inexplicável.”
Racionalismo pós-fato
Também conhecido como “post hoc, ergo propter hoc,” literalmente “após isso, logo por causa disso” (ex: o galo canta porque o Sol se levanta. Então o Sol se levanta porque o galo canta). Em seu nível mais basal, é uma forma de superstição. O apostador usa seus sapatos da sorte pois ganhou uma aposta no passado utilizando-os. Mais subjacente, os estudos científicos podem ser presas de falácias. Um estudo de 1993 mostrou que crianças alimentadas no peito possuem QI maiores. Houve muita atenção em qual substância contida no leite materno poderia aumentar a inteligência. Mães que alimentavam seus filhos em mamadeiras se sentiram culpadas. Mas logo os pesquisadores começaram a imaginar se os bebês alimentados no peito foram tratados diferentemente. Talvez as mães que gastaram mais tempo cuidando de seus bebês e com maior vigilância materna era a causa entre as diferenças no QI. Como Hume nos disse, “o fato de que dois eventos dependem um do outro em sequencia não significa que estão conectados causalmente”. Correlação não significa causalidade.
Coincidencia
No mundo paranormal, as coincidências são muitas vezes vistas como profundamente significativas. A “sincronicidade” é então invocada como se alguma força misteriosa estivesse nos bastidores. Mas essa sincronicidade é nada mais que um tipo de contingência – uma conjuntura de dois ou mais eventos sem qualquer planejamento aparente. Quando uma conexão é feita de modo aparentemente impossível, de acordo com nossa intuição e as leis de probabilidade, tendemos a pensar que algo misterioso trabalhou para isso.
Mas a maioria das pessoas possui um entendimento muito pobre sobre as leis da probabilidade. Um apostador venceu 6 vezes consecutivas, então pensa que ele é está numa “maré de sorte” ou “afasta o azar”. Duas pessoas numa sala com trinta pessoas descobrem que possuem a mesma idade, concluindo que algo misterioso trabalhou para isso. Você liga para seu amigo Roberto. O telefone toca e é o próprio Roberto. Você pensa, “Nossa, quais são as chances? Não pode ter sido mera coincidência. Talvez Roberto e eu estamos nos comunicando telepaticamente.” De fato, tais coincidências não são coincidências sob as regras da probabilidade. O apostador previu duas possíveis apostas, uma margem de erro! A probabilidade que duas pessoas numa sala contendo trinta terem a mesma idade é de 71%. E você já se esqueceu quantas vezes Roberto não atendeu o telefone, ou que alguém também tenha ligado para ele, ou que Roberto atendeu a ligação, mas você não estava querendo falar com ele, e por aí vai. Assim como o psicólogo B.F. Skinner provou em seu laboratório, a mente humana procura o relacionamento entre eventos, encontrando-os mesmo quando não estão presentes. As máquinas caça-níquel são baseadas nos princípios de Skinner de reforço intermitente. Um pessoa irracional, como um rato, somente precisará de uma recompensa ocasional (algumas moedas) para continuar a puxar a alavanca. A mente faz o resto.
Representatividade
Como Aristóteles disse, “A soma das coincidências se equivale à certeza.” Esquecemos a maioria das coincidências insignificantes, e nos lembramos do significado de outras. Nossa tendencia de relembrar acertos e ignorar erros é a panaceia de psíquicos, profetas, bispos, adivinhos e os que fazem o (seu) horóscopo, criando centenas de predições a cada 1º de janeiro. Essas pessoas primeiramente aumentam a probabilidade de acerto incluindo previsões mais generalizadas que acontecem todo o ano com qualquer indivíduo como “ [o ator de novela] irá ter problemas de saúde” ou “Vejo problemas para a presidente da república” ou “cuidado com a inveja dos outros” ou “Não faça nada que possa se arrepender”, etc (para maiores (e cômicos) exemplos, pegue um jornal, abra na parte de horóscopos – leia). Então, no próximo 1º de janeiro, publicam os acertos e ignoram os erros, esperando que ninguém se lembre de investigar o que foi dito anteriormente.
Precisamos sempre nos lembrar o grande contexto no qual um evento aparentemente ocorre, e devemos sempre analisar eventos incomuns para sua representatividade na sua classe fenomenológica. No caso do “Triângulo das Bermudas,” uma área do Oceano Atlântico onde navios e aviões “desaparecem misteriosamente”, há a afirmação de que algo estranho ou alienígenas estão por trás disso. Como há muitos corredores de navios e aviões que passam pelo Triângulo das Bermudas que nas áreas em volta, acidentes e (logo) desaparecimentos ocorrem com maior frequencia. Hoje se sabe que a taxa de acidentes é atualmente mais baixa no Triângulo das Bermudas que nas áreas em volta. Talvez essa área deva ser denominada de “Não-Triângulo das Bermudas” (ver Kusche, 1975, para uma explicação completa desse mistério). Similarmente, investigando-se casas assombradas, devemos primeiramente ter uma linha de base dos ruídos, rangidos e outros eventos antes de dizermos que algo é sobrenatural (e, logo, misterioso). Sussuros e batidas na parede podem ser o sistema de encanamento, estalos e rangidos à noite podem ser a contração de materias (madeira, metal) pela diminuição da temperatura durante a madrugada, sons de arranhaduras no porão podem ser de ratos.
Referencia
Kusche L. The Bermuda Triangle Mystery – Solved. New York: Warner, 1975.
Gardner M. Fads and Fallacies in the Name of Science. New York: Dover, 1952.
Shermer M. Why People Believe in Weird Things. New York: Hnery Holy & Co., 2002.
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*Sobre Gabriel Bassi: Natural de São Paulo, Capital. Formado em Fisioterapia pela USP de Ribeirão Preto, faz mestrado em Psicobiologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Faz pesquisas nas áreas de neurologia, imunologia e comportamento animal. Tem interesses (extra-acadêmicos) em pesquisas sobre a evolução cultural, econômica e social de distintos aspectos da religião e da religiosidade nas sociedades.
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