Frederico Lourenço*
Os gradeamentos das janelas
negam a quem as contempla da rua
qualquer sugestão de vida
a ser vivida por trás das grades.
Os caixilhos em ferro forjado
sugerem locutórios de um convento
da mais ascética austeridade,
como se o espaço (cujo acesso
as grades peremptoriamente vedam)
fosse votado por inteiro a extremos
exacerbados de misticismo e penitência.
Mas também se pressentem salões escuros,
Onde paira sempre o cheiro fresco a encerado,
ou a perfume de rosas e noz-moscada;
paredes revestidas de damasco,
cobertas de grandes telas,
Paisagens campestres e naturezas mortas.
Medalhões de talha dourada, segurados
por fitas de seda listrada a duas cores;
silhuetas de damas coroadas de peruca,
Fantasmas da corte da Rainha Louca;
imóveis nas suas molduras de tartaruga e charão.
* Escritor. Prof. Universitário português.
Fonte: http://www.snpcultura.org 19/01/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário