Karime Xavier/Folhapress
Pesquisas mostram que os pais precisam
aprender muito mais sobre a internet para saber
que as crianças fazem na rede e poder ajudá-las
a evitar seus riscos
Tente pesquisar o nome do seu filho na internet. O resultado pode ser bem diferente do que você imagina. Estudos recentes mostram que pais pensam que sabem, mas, no fundo, não têm ideia do que os filhos fazem on-line.
Um exemplo: 33% das crianças confessam que já fizeram compras virtuais, 24% delas sem consentimento. Mas só 17% dos pais pensam que seus filhos compram na rede, segundo o relatório Norton Online Family, da Symantec, feito com 9.888 pessoas.
Outro estudo mostra o que os adultos provavelmente não veem: 88% dos jovens de 12 a 17 anos já presenciaram crueldade na internet e 21% já humilharam pessoas em redes sociais -dados do relatório "Teens, Kindness and Cruelty on Social Network Sites" (adolescentes, bondade e crueldade em redes sociais), feito pelo Pew Research Center's Internet e American Life Project.
Patricia Peck, especialista em direito virtual e criadora do projeto Criança Mais Segura na Internet, diz que o excesso de confiança reflete um desconhecimento. Muitos adultos não estão na rede e acham que estar em casa é estar seguro.
"Quando um filho dá uma volta na rua, perguntamos com quem ele conversou. Mas não questionamos o que rolou na internet."
Não é descuido, é inexperiência, opina o psicólogo Cristiano Nabuco, pesquisador na área de dependência em internet. "Não dá para imaginar os perigos de uma situação que você não viveu."
A lista de riscos inclui desde conversar com estranhos até ficar dependente e se desligar do mundo real.
"Se nós adultos checamos e-mail até na praia, imagine um adolescente, em que o controle cerebral de estímulos não está totalmente desenvolvido", diz Nabuco.
"Se o pai descobrir que o adolescente
está acessando conteúdo impróprio,
em vez de brigar, pode aproveitar para discutir o tema.
"Não tem como deixar os sites de sexo bloqueados
para sempre", diz o especialista
em segurança virtual
Bruno Rossini, da Symantec."
Batalha perdida
Seria mais simples proibir, mas é impossível evitar que crianças e adolescentes acessem a rede. Se não for em casa, vai ser na escola, com o amigo, no celular.
"É a mesma coisa que falar para seu filho nunca comer picolé. É inútil, quando ele puder, vai comer, e sem sua supervisão", diz a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.
Melhor juntar-se ao "inimigo"? Os números dizem que sim. A última pesquisa TIC Crianças, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostra que os pais conectados são os que mais controlam o acesso e melhor orientam os filhos sobre o uso da rede, de acordo com Alexandre Barbosa, porta-voz da entidade.
É a estratégia da dona de casa Viviane Pereira, 35. Ela está no Facebook, Twitter, tem um blog (o "Mãe Digital") e segue os passos virtuais da filha Rafaela, 16.
"Eu não me importo, sempre foi assim. Também não faço nada de errado", diz a menina, dona de um laptop nunca rastreado pela mãe. "Fico de olho, mas ela tem a privacidade dela. Não sei tudo que ela faz. Sei que participa de fóruns de música."
Com o filho mais novo, Italo, 7, a rédea é mais curta. Ele usa um computador com bloqueio de sites e sempre tem alguém por perto. Mesmo assim, acidentes acontecem.
"Uma vez, ele estava pesquisando sobre a Grécia e chegou na palavra busto. Foi clicando e acabou em uma página com fotos sensuais de mulheres. Minha filha viu e me chamou." A situação foi contornada com conversa.
Nisso os especialistas concordam: se proibir não adianta e pode até piorar, diálogo sempre ajuda. Não é preciso aterrorizar a criança, mas alertar do risco da exposição e do uso de imagens, avisa Patricia Peck.
Antes dos dez anos é preciso supervisão constante, mas depois dá para soltar um pouco e, se houver desconfiança, usar ferramentas que geram relatórios de sites visitados (veja nas dicas ao lado).
Para Andrea Jotta, as mesmas regras do mundo real valem para o virtual. "A criança pode ganhar cada vez mais autonomia quando mostrar que é responsável e segue alguns combinados."
E regras são regras. "Se descumpridas, devem ter castigo", aconselha a psicóloga.
Se o pai descobrir que o adolescente está acessando conteúdo impróprio, em vez de brigar, pode aproveitar para discutir o tema. "Não tem como deixar os sites de sexo bloqueados para sempre", diz o especialista em segurança virtual Bruno Rossini, da Symantec.
Oito estratégias para ficar por dentro
NAVEGUEFique amigo do seu filho em redes sociais, adicione-o no MSN, seja um seguidor no Twitter -mesmo se ele não gostar
USE FERRAMENTAS
O Windows tem um sistema de controle de pais com bloqueio de sites que pode ser ativado na configuração de contas de usuários. Outra alternativa é o Norton Online Family, serviço gratuito que armazena o histórico e restringe conteúdos, como jogos de azar
FIQUE DE OLHO
Fique perto quando a criança estiver na internet, principalmente se ela tiver menos de dez anos. Deixe o computador em um lugar público da casa; nessa idade, não é recomendado o uso livre de tablets e smartphones
BLOQUEIE NAVEGADORES
Use filtros dos próprios navegadores de internet, como o Internet Explorer e o Mozilla Firefox. Procure tutoriais na internet que ensinam a configurar o serviço
SIGA AS PEGADAS
Dê um Google no nome do seu filho, se ele tiver mais de 12 anos ou estiver em redes sociais. Faça buscas específicas de imagem e cadastre alertas de e-mails
DETETIVE VIRTUAL
Fique atento para a publicação de fotos pelo seu filho ou a ridicularização de amigos em redes sociais. Pode ser ofensivo
RASTREAMENTO
Passe o antivírus no computador que seu filho usar. Ele pode baixar programas falsos
GOOGLE PARA ELES
Há sites de buscadores específicos para crianças, que selecionam conteúdos educativos. O Zuggi (zuggi.com.br) é recomendado para usuários de cinco a dez anos
Desenvolver senso crítico reduz os riscos
DE SÃO PAULO
Não tem uma idade certa para a criança começar a ter contato com a internet, de acordo com a psicóloga e educadora Carmem Rodrigues Schffer, da Universidade Fumec (Fundação Mineira de Educação e Cultura). Mas até os seis anos, ela não vê muitos benefícios.
Stella Perlatti, 6, entra em sites de bonecas, vê vídeos e pediu para ter um blog. A mãe, a design Priscilla Perlatti, 34, deixou. Priscilla vive na internet -é uma das autoras do site de maternidade Mamatraca. "Fazemos o blog dela juntas. Ela ilustra com desenhos feitos em um tablet."
A mãe ainda não usa nenhum filtro no computador e não sabe quando será necessário. "A Stella já está começando a sair do nosso controle, mas quero esperar para ver o que vai acontecer."
Com a alfabetização, o interesse das crianças passa a ser concreto: elas pesquisam coisas relacionadas ao cotidiano, mas ainda não são capazes de julgar os conteúdos. Depois da pré-adolescência, podem analisar conteúdos criticamente, explica Schffer. Ela acredita que o uso do computador ajuda no desenvolvimento cognitivo.
Valdemar Setzer, professor aposentado do Departamento de Ciência da Computação da USP, discorda. Segundo ele, a internet é altamente distrativa. "Computador e internet são instrumentos de adulto. Ninguém dá um carro para uma criança aprender a usar."
Para a educadora Eloiza Oliveira, diretora do campus virtual da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o risco está no excesso de credibilidade dado a informações da rede.
"É preciso ensinar a duvidar, mas nem tudo na internet é negativo. Temos preconceito. Os jovens se envolvem em campanhas, discutem temas sérios e convivem socialmente de forma positiva."
-----------------------------------Reportagem por JULIANA VINES DE SÃO PAULO
Fonte: Folha on line, 17/01/2012
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