Estátua de Eusébio, à porta do Estádio da Luz – Foto: P. Fernandes (Trebaruna) via Wikimedia Commons / CC BY 3.0
Tendência para a próxima Copa é que seleções europeias tenham mais jogadores de origem estrangeira
Por Ciências Humanas
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Na Copa
do Mundo deste ano, na Rússia, uma característica deverá ser comum em
algumas seleções europeias: o caráter multicultural das equipes, com
jogadores de origens diversas integrando algumas seleções nacionais. “Já
na primeira Copa, em 1930, no Uruguai, a equipe da França contava com
jogadores de origem argelina”, conta o jornalista Guilherme Silva Pires
de Freitas, que estudou o tema em sua dissertação de mestrado
apresentada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
No estudo As seleções de futebol multiculturais da União Europeia,
Freitas analisou os selecionados de quatro países – Alemanha, França,
Holanda e Portugal – e verificou como as equipes nacionais destas nações
foram mudando suas características básicas e introduzindo jogadores
estrangeiros naturalizados. “Trata-se de um dos reflexos da
globalização, mas há outras razões que levaram a este fenômeno”, analisa
o pesquisador, destacando questões como a imigração, por exemplo.
A Copa realizada no Brasil em 2014
incentivou o pesquisador a empreender o estudo. A partir daí, Freitas
reuniu dados de estatísticas de movimentos migratórios dos anos 1990 até
os anos recentes, principalmente naqueles quatro países. “Mas também
recorri aos anos 1960, quando de fato tiveram início as imigrações,
coincidindo com os movimentos de independência de alguns países
africanos e da Ásia”, destaca.
De onde vieram?
Com os movimentos migratórios, muitos
atletas passaram a ter o passaporte europeu e as seleções nacionais
foram ganhando, cada vez mais, um caráter multicultural com os jogares
que vinham de outras nações ou de colônias e ex-colônias.
Na França, como descreve o pesquisador, já
atuaram pela equipe nacional jogadores da África Subsaariana e alguns
atletas do norte da África, bem como jogadores de origem caribenha. A
equipe campeã de 1998 era bem variada, segundo o pesquisador. No caso
francês ele ressalta a criação, nos anos 1970, do Instituto Nacional do
Futebol. “Contudo, para participar daquele projeto, o jovem tinha de ter
nacionalidade francesa. Mas, houve casos de filhos e netos de
argelinos, por exemplo, que passaram pelo instituto e voltaram ao país
de origem dos pais”, conta.
A Holanda teve em alguns de seus
selecionados jogadores de origem caribenha e do Suriname, na América do
Sul. O primeiro caso naquele país de um atleta de origem estrangeira a
integrar a seleção nacional foi na década de 1960. Depois, somente nos
anos 1980, quando a lei ficou mais branda. Já na Alemanha, boa parte dos
estrangeiros que chegou ao selecionado nacional era de origem turca e
da Polônia. “E isso ocorreu principalmente após a Segunda Guerra
Mundial”.
Já Portugal recebeu atletas de suas
ex-colônias, como Angola e Moçambique. Há atletas de origens
estrangeiras que fizeram sucesso jogando pelos times nacionais de outros
países, como Eusébio – nascido em Moçambique -, nos anos 1960, por
Portugal. “O artilheiro das copas, Miroslav Klose, naturalizado alemão,
nasceu na Polônia”, ressalta Freitas.
De acordo com o jornalista, na última Copa
quase 77 atletas que disputaram pelos times europeus eram ou tinham
origem de outros países. “Acredito que este ano este número seja ainda
maior”, diz Freitas.
Lei Bosman
Outro fator que o pesquisador credita como
influência para o fenômeno é a Lei Bosman. “Nos anos 1990, o futebol se
internacionalizou, principalmente após o advento desta lei”, analisa o
pesquisador. A Lei Bosman permitiu que futebolistas não fossem impedidos
de jogar em outros países da União Europeia.
A Lei foi aprovada em 1995, cinco anos após
Jean-Marc Bosman, um jogador belga, entrar na justiça e pedir que seu
clube, o RFC Liège, o liberasse para que ele pudesse jogar no clube
francês Dunkerque.
Para Freitas, há pontos positivos nesta
integração que, segundo ele, mostra que o esporte está conectado com a
sociedade atual e com o movimento de globalização. Mas há pontos
negativos, como atitudes de cunho racista. “Vale ressaltar que quando a
França venceu a Copa de 1998 o número de simpatizantes dos movimentos de
integração racial cresceu”, destaca o jornalista. A pesquisa de Freitas
foi apresentada no Departamento de Estudos Culturais da EACH, sob
orientação do professor Luiz Gonzaga Godoi Trigo.
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Mais informações: Guilherme Silva Pires de Freitas, e-mail gui_sp_freitas@yahoo.com.br
Fonte: http://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/multiculturalismo-no-futebol-deve-se-expandir-em-selecoes-europeias/
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