Martha Medeiros*
Apaixonar-se é ganhar um visto para
entrar em outro planeta. A gente descobre cheiros e sabores
desconhecidos, um vocabulário diferente, histórias novas, lugares em que
nunca estivemos, enfim, lidamos com o deslumbramento de estar em outro
mundo o mundo do outro.
Há quem permaneça neste novo planeta por
pouco tempo e logo retorne para o seu, e há quem se instale em
definitivo: pede asilo e se naturaliza. Amar é sempre uma viagem. De ida
e volta, ou só de ida.
Afora a aventura amorosa de explorar um
universo diferente, não costumo me distanciar muito do meu território,
pois não acho agradável me sentir uma marciana - e o fato é que me
sinto, às vezes. Acontece quando leio o noticiário político, quando
estou entre pessoas pedantes, quando testemunho preconceitos ou
pieguices, e até em situações bem triviais, como quando alguém puxa um
Parabéns a Você. Pois é, coitado do Parabéns a Você, tão inocente, mas é
inevitável: a canção começa, e na mesma hora brotam duas antenas verdes
na minha cabeça e um terceiro olho no meio da testa.
Cultos
religiosos também têm esse poder de me transformar num ET. Oração, pra
mim, é algo privativo e silencioso. Já em grupo, não consigo me
encaixar. Gosto de igrejas vazias - e de teatros lotados. No entanto,
até mesmo num teatro posso vir a me sentir estrangeira, nos casos em que
a plateia ri por nada, como se rir fosse obrigatório. Uma vez, estava
assistindo a uma peça trágica sobre um casal que havia perdido o filho,
e, mesmo assim, algumas pessoas achavam graça. Refletir não basta? Se
comover não basta? No meu planeta, basta.
Frequento desde
churrasco na laje até festa em castelo, mas, se eu perceber que estou
longe demais da minha turma e da minha essência, a marciana surge e me
ordena: embarque logo na nave e vamos pra casa. Deve ser consequência da
passagem do tempo, maturidade não é período para desperdícios. Tem sido
cada vez mais fundamental me sentir inteira onde estou, e não uma
turista.
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E aqui dou um salto para falar de
inclusão. Pessoas que sofrem de alguma deficiência costumam viver à
parte da sociedade, em um planeta com o qual não interagimos. É por isso
que o Clube Social Pertence está inaugurando uma ONG com a missão de
promover a socialização e a independência de jovens que podem fazer tudo
o que fazemos, bastando dar a eles uma oportunidade. No próximo dia 9
de julho, às 19h30min, na pizzaria Fratello Sole do Shopping Iguatemi,
em Porto Alegre, isso será demonstrado na prática, com a garotada
colaborando na cozinha e no serviço do jantar. Quem quiser conhecer
melhor o projeto desta importante ONG, compareça. Ser portador de uma
deficiência não deve impedir ninguém de se sentir inteiro onde está, e
eles estão aqui, ao nosso lado, no mesmo mundo que a gente.
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* Escritora. jornalista.
Fonte: http://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=7b7bd53ba5107cf5fb2c2a51dd887c95 30/06/2018
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