Pensador francês defendeu o transumanismo durante sua conferência em Porto Alegre
Ferry
começou sua exposição listando grandes respostas dadas ao longo da
história para o que seria uma vida boa. Na resposta grega, exemplificada
pela trajetória de Ulisses na Odisseia, de Homero, o ser humano deve se
colocar em harmonia com o mundo. Para os cristãos, a vida boa seria
estar em harmonia com Deus. A resposta humanista, surgida com o
Iluminismo, recomenda colocar-se em harmonia com as outras pessoas e
fazer uma contribuição para o progresso da humanidade – criando bem os
filhos, por exemplo. Nietzsche fornece a quarta resposta estabelecendo
que, se Deus não existe, resta o individualismo, ou seja, preocupar-se
em estar em harmonia consigo mesmo.
– Esta é a resposta que domina o mundo de hoje, e não gosto dela. Se tudo morreu, resta trabalhar para o seu próprio bem-estar.
Ferry
desenvolveu então a sua resposta favorita. Para ele, a vida boa está
relacionada a duas revoluções: a do amor e a da longevidade. Segundo o
filósofo, hoje o amor se tornou sagrado no mundo ocidental, ou seja, é
aquilo pelo qual as pessoas estão dispostas a se sacrificarem.
– Antes, morria-se por um Deus, uma pátria ou uma revolução. Hoje isso acabou. Pegamos em armas para defender quem amamos.
Em
seguida, Ferry defendeu o projeto transumanista, que busca dar às
pessoas a possibilidade de viver mais e melhor. Segundo ele, se o
recorde de pessoa mais idosa pertence a uma mulher francesa que viveu
até os 122 anos, o transumanismo mira na possibilidade de estender a
vida até os 130 ou 150 anos utilizando tecnologias avançadas para isso.
–
Os transumanistas dizem que a medicina não deve apenas tratar, mas
fazer melhorias no ser humano. Fazer o que se faz com o milho,
deixando-o resistente à seca, por exemplo – falou o filósofo, ciente da
graça de comparar uma pessoa a um milho. – Não é fabricar um
super-humano, mas aumentar a longevidade.
O
filósofo defendeu sua posição afirmando que a natureza não deve ser
considerada um modelo moral. E a tecnologia pode ser usada para corrigir
as desigualdades:
–
A natureza é Darwin, é a eliminação dos fracos e dos velhos. O
transumanismo diz que a natureza deve ser modificada. A natureza não é
sagrada. Se modificar um gene defeituoso pode salvar uma criança, por
que não fazê-lo? Se alguém possui uma anomalia genética, a natureza
falhou e deve ser corrigida.
A consequência de viver mais tempo, para Ferry, seria uma humanidade mais experiente e, portanto, mais sábia.
– Envelhecer permite se tornar melhor, aperfeiçoar-se e ter mais experiências, especialmente no amor.
Questionado
pelo apresentador do evento, o jornalista Daniel Scola, pelo
psicanalista Felipe Pimentel e também pela plateia, Ferry abordou
rapidamente outros assuntos, sem desviar de questões polêmicas. Criticou
o veganismo e defendeu o casamento homossexual. Afirmou também que sua
atitude mais polêmica, a de proibir o uso de símbolos religiosos nas
escolas quando foi Ministro da Educação da França, entre 2002 a 2004,
funcionou muito bem.
–
Mandei que tirassem cruzes, véus e estrelas de Davi das escolas. Hoje
não há mais polêmica sobre isso. Centenas de meninas me agradeceram por
não precisarem mais usar véus e poderem vestir calças jeans. O véu
islâmico é a submissão aos homens. Funcionou, mas, por esse motivo,
fiquei sob proteção policial por dois anos. Não foi nada divertido –
contou o filósofo.
Ao final
do encontro, Ferry retomou a conclusão da sua palestra, esclarecendo
que havia escolhido falar de amor, mas poderia ter discorrido sobre o
ódio. Para ele, são dois sentimentos exclusivamente humanos – os animais
não amam, são afetivos, assim como não matam por maldade, mas por
instinto.
– O ódio é talvez
maior do que o amor no ser humano. Não sou ingênuo. O século 20 foi
genocídio atrás de genocídio – afirmou. – Acredito que a longevidade
permitiria que a gente se acalmasse um pouco, que fôssemos menos
idiotas, menos bobos – concluiu.
O
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com
patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria
cultural PUCRS, e empresas parceiras Unicred e CMPC. Universidade
parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.
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Reportagem POR Luiza Piffero
FONTE: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/livros/noticia/2019/11/se-modificar-um-gene-defeituoso-pode-salvar-uma-crianca-por-que-nao-faze-lo-questiona-o-filosofo-luc-ferry-ck2v8t92100jp01ph8h8mupgc.html 12/11/2019
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Reportagem POR Luiza Piffero
FONTE: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/livros/noticia/2019/11/se-modificar-um-gene-defeituoso-pode-salvar-uma-crianca-por-que-nao-faze-lo-questiona-o-filosofo-luc-ferry-ck2v8t92100jp01ph8h8mupgc.html 12/11/2019
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